Pop Closet: alta costura a preço de pronto a vestir

Texto Sofia Teixeira | Fotografias Orlando Almeida/Global Imagens

Aqui compram-se sandálias Jimmy Choo por 75 euros, vestidos de cocktail Karl Lagerfeld por 90 euros, calças Carolina Herrera ou Dino Alves por 60 euros e vestidos de noite Badgley Mischka por 210 euros.

«Aqui» é a Pop Closet, no Chiado, em Lisboa, que abriu no verão e onde ainda entram mais turistas – para quem este tipo de conceito já não é novidade –, mas também já muitos portugueses que sabem ao que vêm.

Quem chega de propósito à loja discreta na Calçada do Sacramento vem comprar grandes criadores ou roupa vintage alinhada com o que se vê nos desfiles internacionais a preços de marcas como Zara ou outras de pronto-a-vestir.

O que distingue a Pop Closet das outras lojas de roupa em segunda mão em Portugal é a curadoria de peças feita por António Branco, 49 anos, stylist.

Aqui tudo é reciclado e temporário: os andaimes de obra fazem as vezes de armários, o balcão de talho em segunda mão serve de expositor de acessórios, os sacos são reutilizáveis, os cartões reciclados e a maioria das peças expostas procuram uma segunda oportunidade na vida de alguém.

O que distingue a Pop Closet das outras lojas de roupa em segunda mão em Portugal é a curadoria de peças feita por António Branco, 49 anos, habituado a trapos desde miúdo: a avó era modelista, o pai estava ligado à edição de revistas de moda, a mãe teve um pronto-a-vestir de senhora.

António Branco, 49 anos, trabalhou 25 anos em Nova Iorque como stylist e trouxe há seis meses para Portugal um novo conceito: a Pop Closet.

Aos 18 anos, António frequentou o primeiro curso de moda do IADE e começou a desenhar coleções que vendia na loja da mãe. Aos 19 anos abriu a primeira loja, que acabou por fechar passados seis meses – estava numa zona residencial, o mercado em Portugal era pequeno e só vendia para amigos.

Depois acabou por participar num concurso que lhe mudou a vida: o projeto de design de fardas para as Pousadas de Portugal. Ganhou. «Foi o que me deu os fundos de que precisava para sair do país. Fui à aventura, só sabia que queria trabalhar em moda.»

Aterrou em Nova Iorque no início dos anos 1990, depois de uma passagem breve por Miami, e teve finalmente oportunidade de trabalhar como stylist – a pessoa que nos editoriais de moda e nas campanhas de marcas idealiza a combinação de todas as peças para compor o look.

«É um projeto pioneiro em Portugal, mas não no mundo: sempre fui cliente deste tipo de lojas lá fora. Portugal ainda não é o lugar ideal para este negócio, mas acredito que venha a ser.»

Começou em grande, a fazer parceria com o fotógrafo Dean Isidro (que fotografava já na época campanhas e editoriais para marcas e títulos como o The New York Times, Tommy Hilfiger, Oscar de la Renta, Guess e Nautica). «Isso abriu-me muitas portas.»

As suficientes para quase uma década de estabilidade em Nova Iorque, onde consolidou uma carreira como stylist freelancer, fez consultoria de compra para algumas lojas e desenhou ocasionalmente pequenas coleções para venda.

Na fase em que lhe apetecia mudar – e pensava dedicar-se apenas ao design de roupa – aconteceu o 11 de setembro de 2001. Nessa altura surgiu um convite para trabalhar para a Condé Nast internacional, prestes a lançar a revista GQ no Brasil. Acabou por estar três anos em São Paulo como editor da GQ e da GQ Style.

A ideia de uma nova loja, quase trinta anos depois da primeira tentativa, começou a surgir. E escolheu de novo Lisboa, para onde regressou em 2015. «É um projeto pioneiro em Portugal, mas não no mundo: sempre fui cliente deste tipo de lojas lá fora. Portugal ainda não é o lugar ideal para este negócio, mas acredito que venha a ser.»

Fala da «moda reciclada», com uma visão sustentável, que faz uma curadoria de peças tendo em mente as direções que vários designers apresentam nas passerelles em cada estação. «Tenho uma visão apertada daquilo que compro e vendo: aqui não entra fast fashion e o tipo de peças massificadas que toda a gente tem no armário. Damos prioridade aos designers e às marcas, mas há outras peças únicas, vintage, de marcas que não são conhecidas.»

«Aqui não entra fast fashion e o tipo de peças massificadas que toda a gente tem no armário. Damos prioridade aos designers e às marcas.»

Apesar disso, em relação ao preço, é com as lojas de massas que quer competir: os valores vão dos 15 aos 120 euros. A exceção são vestidos de noite de criadores, que já chegam a valores dentro dos 200 euros.

Qualquer um pode vender na loja, desde que tenha no armário peças que se enquadrem no pretendido. De resto, grande parte dos achados que se encontram na Pop Closet vêm de clientes particulares aos quais António oferece trinta por cento sobre o valor de venda ou, em alternativa, cinquenta por cento, se a pessoa quiser usar o valor para compras na própria loja.

«Também faço ocasionalmente viagens a outros mercados, como Londres, Nova Iorque e Paris, para comprar algumas peças, não em lojas mas em armazém grossistas deste tipo de roupa.»

A Pop Closet está no Chiado em Lisboa, mas daqui a um ano pode mudar-se para outro lugar. É essa a ideia de António Branco.

Tem também na calha, para breve, a compra de restos de fábrica, nomeadamente peças com pequenos defeitos, edições limitadas e numeradas de roupa personalizada por designers e roupa ou acessórios reciclados por pequenos criadores.

Este é o primeiro Natal da Pop Closet e é provável que no próximo já não esteja aqui. A ideia de António é mudar de local a cada ano, ano e meio. «Talvez a primeira mudança seja para a zona do Cais de Sodré ou de Marvila.»

Por enquanto, e apenas seis meses depois de abrir portas, o negócio não corre mal, mas sobretudo por causa dos turistas, mais habituados a este tipo de loja. «Em Portugal ainda há um preconceito em relação à roupa. Nas novas gerações isso está a mudar.»