O que a vida me ensinou: Paulo Bragança

Notícias Magazine

Texto Sara Dias Oliveira | Fotografia Luís Carvalhal/Museu do Fado

A música sempre andou lá por casa. Desde cedo. O pai tocava guitarra portuguesa, a mãe e as tias cantavam bem, os miúdos gostavam da animação e lá iam acompanhando as cantigas. O pequeno Paulo gostava desses saraus fadistas e era uma criança sossegada. «A minha mãe costumava dizer “deem um livro ao Paulo e não precisam de se preocupar com mais nada”.»

Cresceu, estudou Direito e Ciência Política, mas não terminou os cursos, e foi-se afirmando como fadista. Em 1992 lançou o primeiro disco, seguiram-se concertos e mais álbuns. Em 2006 saiu do país, esteve fora 11 anos, estudou Filosofia na Irlanda, mestrado incluído. Viveu em Londres, em Dublin, numa comunidade cigana na Roménia. Regressou a Portugal em abril deste ano e está a preparar um novo disco de originais com o amigo e editor Carlos Maria Trindade.

Esteve nos Bons Sons em agosto, no Avante! e no Caixa Alfama em setembro, e a 25 deste mês canta pela primeira vez no festival Vodafone Mexefest. Neste momento, não pensa voltar a sair de Portugal.

Desde que chegou que tem tido vários espetáculos. Esteve nos Bons Sons em agosto, no Avante! e no Caixa Alfama em setembro, e a 25 deste mês canta pela primeira vez no festival Vodafone Mexefest. Neste momento, não pensa voltar a sair de Portugal.

A sua marca no fado colou-se à pele, abanou preconceitos, abriu uma nova página na história da música da saudade e do destino. «Sou fadista porque canto a vida.» Cantava descalço, vestido de preto, casacos de cabedal. Chamaram-lhe o fadista punk. E continua a pisar o palco sem sapatos.

«Sou fadista por condição, sou fadista porque sou pessoa.»

A existência humana é um assunto que lhe interessa. É um filósofo com muitas questões na cabeça: a fragilidade do que somos ou do que não somos, o tempo e o espaço, perguntas e mais perguntas. «Os nossos planos de conhecimento, sejam empíricos ou sejam científicos, são curtos, muito perenes, há uma ausência de permanência.»

E, por isso, confessa que anda de bisturi em punho a tentar dissecar o que lhe atormenta a mente. É pelo verbo, pela palavra, que, na sua opinião, o homem se perpetua. Seja como for, está de volta para continuar a sua arte: cantar o fado com a irreverência que o carateriza. E sem papas na língua. «Sou fadista por condição, sou fadista porque sou pessoa.»

Uma vida em números

11 – VIAGENS
Número de anos que esteve fora do país. Viveu em Londres, em Dublin e numa comunidade cigana na Roménia.

23/3/2006 – PARTIDA
Data em que saiu de Portugal.

1992 – PRIMEIRO
Ano de lançamento do seu primeiro disco, Notas sobre a Alma

2 – NASCIMENTO E MORTE
2 de setembro: dia em que nasceu, em 1971, e dia da morte do seu produtor, Rui Vaz, em 1997.