Texto de Marcelo Teixeira
Os ataques de cães continuam na ordem do dia. Há dias, uma mulher de 60 anos foi atacada em Santa Maria da Feira. A diferença deste caso é que o animal não era um pitbull nem um rottweiler, antes um labrador – normalmente apontado como uma das mais dóceis das raças. Entrevista a Maria do Céu Sampaio, presidente da Liga Portuguesa dos Direitos do Animal, sobre prevenção, segurança e consequências dos ataques caninos.
Este fim de semana, um cão labrador, em Santa Maria da Feira, atacou uma mulher de 60 anos. Deverá haver uma redefinição do conceito «raças perigosas»?
Um labrador atacar é muito estranho. Mas atacou porquê? Sentiu-se em perigo? Tem algum trauma? Os órgãos de comunicação não devem noticiar só metade da história. E muitas vezes é isso que acontece. A perigosidade vem dos donos que não os educam. A nossa instituição nunca concordou com essa denominação que distingue as raças. Não há raças de cães mais perigosas do que outras.
Nestes casos, o que deve acontecer? Punir os cães ou os donos?
O dono deve ser punido. Deverá suportar todas as despesas inerentes aos danos que o seu animal causou. No entanto, os cães também são direcionados para um procedimento após uma ocorrência de agressividade. Vão para o canil sob forma de sequestro e ficam de quarentena de 15 dias sob observação de um veterinário. Só depois de uma avaliação cuidada das condições físicas e mentais do animal, e das condições que o dono lhe oferece, é que pode voltar a casa. Se não puder, é entregue para adoção.
Mas e se alguém for atacado por um cão cujo dono não seja identificável?
Para já, são aplicadas multas a qualquer tutor em que o seu cão não tenha chip. Desde 2008 que essa lei está em vigor, aliás. E mesmo que o animal não esteja identificado, se for possível provar quem o alimenta ou onde pernoita será então essa pessoa a responsável pela tutoria do animal.
O problema é que nem sempre as regras são cumpridas. Ainda é frequente vermos cães sem trela a passearem na rua.
A lei não o permite e muito bem. É um dever dos donos para segurança das pessoas e do próprio animal. Não se trata só de potenciais ataques. Um cão pode ir para a estrada e acabar por provocar um acidente de viação. As pessoas têm de ser mais responsáveis.
Todos os cães devem usar açaime?
Só se o animal tiver antecedentes é que terá de usar açaime. Mas não é nenhum drama: há hoje açaimes de pano, por exemplo, que reduzem o desconforto do cão. Às raças perigosas também é exigido este mecanismo de prevenção, coisa com que não concordo. A meu ver, o bom senso dos dos donos é o mais importante. São eles que vivem com o animal, por isso conhecem o seu temperamento. Se o dono entender que o seu animal pode morder, então deve colocar-lhe açaime. Seja de que raça for.