Digital e desumano? O Tinder até ferveu na Web Summit

Notícias Magazine

Esta semana foi marcada em Portugal pela maior conferência de empresas, ideias e pessoas que usam o ciberespaço de alguma forma. O passado, o presente, mas sobretudo o futuro das indústrias da tecnologia digital passaram pela Web Summit, em Lisboa. Curiosamente esta conferência decorre desde o ano passado (e pelos vistos até 2020) no Parque das Nações – onde Portugal começou a vestir uma nova imagem, de país desenvolvido, tecnológico e mais bem organizado, na Exposição Mundial, a Expo’98.

Por estes dias, aquele espaço lindo – que foi resgatado de parque de contentores para a vida de uma urbe moderna – encheu-se dessa vida moderna. Gente, gente, muita gente, sobretudo jovem, mas também com ar de jovem –, que é como quem diz gente que está disposta a agarrar o futuro, em vez de ficar no passado, independentemente da sua idade.

Gente ao sol, gente junto ao rio, gente fazendo negócios, gente comendo com gente, gente tomando cafés com gente, gente ouvindo gente, gente tendo ideias com gente, gente engatando gente, gente dançando com gente… Gente e mais gente, interagindo, saindo do ciberespaço para o mundo real. De carne e osso. E pele e cabelos e risos.

Tudo o que vi na Web Summit – neste e no ano passado – contradiz o cenário dos catastrofistas da tecnologia digital que dizem que estamos a encaminhar-nos para um mundo sem contacto humano ou onde os robôs podem tomam o lugar das pessoas. «Estamos assolados – e imersos – por apps e aparelhos que silenciosamente estão a reduzir a quantidade de interação significativa que temos uns com os outros», dizia David Byrne num artigo de agosto publicado na revista do MIT, o bastião do digital, e lembrado por um amigo no Facebook.

De facto, olhando para as múltiplas aplicações e para o que elas fazem – que é, no fundo, facilitar-nos a vida de maneiras imateriais –, isto parece verdade. Mas o que dizer do imenso mercado de conferências e eventos e jornadas e cimeiras que acontece no mundo? Não é um bocado contraditório que uma conferência de tecnologia tenha sequer de realizar-se? Não é estranho um evento destes, que custa milhões, que faz que pessoas tenham de deslocar-se gastando milhões, que estejam três ou quatro dias noutro lugar que não o da sua residência e trabalho…quando tudo o que ali se faz podia ser feito lá, precisamente lá, no ciberespaço?

A resposta é não, não é contraditório nem estranho. Na verdade, à maior parte das tecnológicas o sucesso acontece-lhes porque preencheram necessidades básicas da atividade humana, e de forma mais simples do que acontecia no mundo meramente analógico. Vejam por exemplo o Tinder. Até ferveu nestes dias de Web Summit.