Texto de Marcelo Teixeira
A investigação sobre a origem do cão e o momento de separação do lobo chegaram a um número: remonta há 33 mil anos e aconteceu no continente asiático. O objeto de estudo centra-se na compreensão dos primórdios da domesticação do animal, mas há novidades surpreendentes. Segundo o El País «foram os cães que nos ajudaram a desenvolver técnicas de caça e a procurar comida».
As pegadas arqueológicas evidenciam a partilha do mesmo espaço e sobretudo a razão desta cumplicidade. É no noroeste da Arábia Saudita, em Shuwaymis e Jubbah, que se pode observar estas gravuras que têm entre oito e nove mil anos e são os primeiros desenhos, descobertos até hoje, que identificam o trabalho de equipa, com aquele que se perpetuou até hoje como o melhor amigo do homem. As gravuras revelam homens a domar cães, com um género de corrente ou trela primitiva e a enfrentarem animais selvagens como o leão.
Maria Guagnin, investigadora associada ao Instituto Max Planck e atualmente integrada na Universidade Livre de Berlim, revelou no estudo publicado no Jornal de Arqueologia Antropológica que «as imagens mostram os caçadores a controlar os cães e a utilizá-los para as suas estratégias de caça. Isto aconteceu muito antes de ocorrer a domesticação de outros animais, como as vacas ou as cabras. O que não está claro é se os cães se sentiam atraídos pela vida humana ou se foram domesticados ativamente».
Greger Larson, um dos principais investigadores sobre a origem dos cães e que trabalha na Escola de Arqueologia da Universidade de Oxford, reconheceu ao jornal espanhol El País a importância da descoberta: «é razoável pensar que os cães e os humanos caçavam em conjunto. Aliás, não há dúvidas. Mas é mais difícil interpretar se eram realmente domados através de correntes».
Esta descoberta sugere que a presença deste animal na caça era muito útil e que as presas podiam ser encontradas e mortas muito mais facilmente graças às suas capacidades.
O lugar destes vestígios dá por si só outra informação: no neolítico, aquele local estava fora do alcance dos lobos, o que significa que os cães já tinham sido domesticados e viajaram até ali com o homem.
Mietje Germonpré, do departamento de paleontologia do Real Instituto Belga de Ciências Naturais, foi a investigadora que descobriu o crânio de um possível canídeo com 32 mil anos encontrado em Goyet. A descoberta deu origem a um grande debate sobre quão antiga será a espécie, tendo sido avançadas hipóteses que variam entre os 10 e os 38 mil anos.
O momento de separação do cão do lobo não é claro para a ciência. No entanto, esta descoberta na Arábia Saudita abre novas perspetivas, como explica Germonpré ao El País: «muito provavelmente, pela ligação que as gravuras representam, os cães tinham uma grande importância para os homens. Isto sugere que a presença deste animal na caça era muito útil e que as presas podiam ser encontradas e mortas muito mais facilmente graças às suas capacidades».
Em muitas situações beneficiámos das capacidades dos cães. Se não estivessem connosco é muito provável que não tivéssemos chegado até aqui.
Robert Losey, professor de Antropologia na Universidade de Alberta, no Canadá, considera que «as imagens descobertas indicam que temos coabitado e caçado com os cães há milhares de anos. Já se suspeitava mas agora fica demonstrado por evidências arqueológicas».
Já sobre se os cães foram realmente essenciais na sobrevivência do homem respondeu que «sem dúvida nenhuma. Em muitas situações beneficiámos das capacidades dos cães. Se não estivessem connosco é muito provável que não tivéssemos chegado até aqui».