Esta semana Portugal vai estar no centro do mundo. Ah sim, já sabiam – há o Cantona, a Maddona, o Fassbender, os brasileiros do Lava Jato e mais e mais estrangeiros, mais ou menos conhecidos, milionários ou não. Pois, mas nenhum desses fogachos mediáticos é tão importante como a Web Summit. E passo a explicar porquê.
Entre a sua pequenez, o pouco alcance das pessoas que o governam, a fraca escolaridade e cultura dos que são governados, Portugal anda, há mais de 500 anos, a tentar descobrir um rumo para si próprio. Há cinco séculos esse rumo foi mais ou menos claro – descobrir o mundo, dar-lhes novos mundos.
Foi um rumo porque foi um desígnio e uma política – que teve apoio estatal, e também popular. Foi um rumo porque teve uma missão que foi adotada por todos e porque todos a perceberam – alguns mais claramente que outros, mas os que não a entenderam ficaram mais ou menos a falar sozinhos.
Depois disso, foi sempre a descer. Durante uns anos fomos verdadeiramente grandes, espalhando ideais e maneiras de fazer coisas – nem todas foram agradáveis para todos, mas falo de comparar o comparável, a preços constantes, como dizem os economistas, a valores constantes para as épocas.
Perdemos terras que considerávamos nossas – e era obvio que não podiam ser – e riquezas. E, pensando assim, nem nos demos muito mal. Porque, apesar de tudo, saímos de guerras que nos puseram uns contra os outros sem sequelas que pusessem em causa o nosso futuro, como acontece com tantas nações.
Mas nunca mais nos reencontrámos. Nunca mais definimos um rumo que fosse realisticamente bem sucedido ou com vista ao sucesso – e que tivesse em conta o nosso tamanho e o nosso nível cultural. Já fomos saudosistas ou modernaços. Já fomos pequeninos ou basófias. Já fomos trôpegos ou os melhores do mundo.
Mais recentemente encontrámos uma identidade que vai bem connosco. Somos anfitriões. Somos os sorridentes e simpáticos estalajadeiros – e isso não é pejorativo. Somos os que recebem bem e verdadeiramente se interessam pelos outros, os que nos chegam de tão diferentes paragens. Isso está a trazer-nos negócio e divisas. A par com outras vantagens, está a transformar-nos num país mais moderno, mais cosmopolita e mais bem sucedido.
Vem também neste caminho o facto de termos recebido a Web Summit. Não foi apenas pelo nosso sol mas foi também por ele. Não foi apenas pelo nosso cosmopolitismo – que no nosso caso vem aliado a segurança, mas também foi. Mas não nos podemos ficar por sermos o simpático estalajadeiro. Aquilo que a Web Summit prova é que a tecnologia e o digital permitem com muito pouco fazer muito: é preciso ter uma boa ideia e praticá-la. Não é assim tão fácil, mas nós já fizemos coisas mais complexas. Agora temos de dar o próximo passo nesta escala – e teremos, aí sim, o nosso lugar no mundo assegurado.