Comemora-se hoje a Implantação da República. Viagem no tempo.
As barricadas na Praça do Marquês de Pombal, em Lisboa, simbolizavam a revolta republicana que, a 5 de outubro, culminou na queda da monarquia, proclamada em todo o país. No Porto, foi a segunda vez que tal sucedeu.
Barricadas precárias, de chapas, tábuas e bancos de jardim. Mas que tropa era esta, de escopeta na mão, determinada nos rostos e informal nas vestes, que virou do avesso o rumo da secular pátria? Republicanos, claro, carbonários, a maior parte, civis, os que aqui vemos. Na Praça do Marquês de Pombal, ao longo de três dias, concentraram-se centenas de revoltosos comandados por Machado Santos, militar, médico e carbonário, que ficou para a posteridade como o grande herói militar da revolução triunfante.
No Diário de Notícias edições sucessivas iam dando conta do estado das coisas. Primeiro hesitante («Os acontecimentos de hontem» era título que não comprometia), depois de modo confiante («A Republica Portugueza», lia-se na primeira página, poucas horas após a proclamação na varanda dos Paços do Concelho de Lisboa. No Jornal de Notícias as cautelas foram maiores. Todos tinham na memória a revolta fracassada de 31 de janeiro de 1891, quando a República, proclamada na Câmara do Porto, foi esmagada pelas armas. Apesar de o movimento ter sido proclamado logo a 5 de outubro, chegada pelo telégrafo a notícia, o título inicial era apenas «Uma insurreição em Lisboa»: só no dia 8, visto que estava como paravam as modas, a primeira página foi encimada pelo título «A Republica em Portugal».
No romance A Guerra do Fim do Mundo, de Mario Vargas Llosa, o místico conhecido como António Conselheiro apontava a República brasileira, proclamada em 1889, como a chegada do Anticristo. Por cá, a jovem de 116 anos sobreviveu a revoltas monárquicas e a um regime ditatorial que a desprezava sem a abolir.