Beatriz, a neta

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Aos 30 anos, conhece bem o significado da palavra solidariedade. Voluntária há seis no Gabinete de Ação Social do Porto (GAS Porto), criado em 2002, alia a profissão de arquiteta ao seu sentido de amor ao próximo. Tem o privilégio de cuidar da avó de 94 anos, a grande «paixão» da sua vida, uma referência que a inspirou a seguir o caminho do voluntariado sénior.

«A minha missão e vocação é trabalhar com idosos. Gostava que todos tivessem as possibilidades e a retaguarda familiar que a minha avó tem», explica. Recorda ainda o difícil primeiro dia de voluntariado. Ao deparar-se com situações de grande isolamento e vulnerabilidade, achou que não seria capaz e pensou em desistir. Até que compreendeu que «não iria conseguir mudar o mundo mas se melhorasse a vida de alguns idosos já faria diferença nas suas vidas».

O GAS Porto, que conta com cerca de 400 voluntários de todas as idades, tem como objetivo combater o isolamento e apoiar idosos em tarefas diárias. Depois de identificadas situações de emergência, procede-se à reabilitação das suas casas através de pequenas intervenções de baixo custo e com mão-de-obra de voluntários. «Queremos que as condições físicas e as barreiras arquitetónicas não sejam um problema para que o idoso permaneça em casa se assim o desejar em vez de ter de ir para um lar». Atualmente, a instituição acompanha 55 idosos e já realizou 22 intervenções, mas a meta é mais ambiciosa.

«O Prémio BPI Seniores permitirá o crescimento do projeto, poderemos apoiar 82 idosos e realizar mais 27 intervenções. Sem este apoio não seria possível», explica Beatriz Portilho. O acompanhamento dos idosos é regular e passa por verificar se tomam a medicação correta, ajudar a fazer o pagamento de contas ou simplesmente ouvi-los. No que respeita às intervenções habitacionais, há que perceber exatamente o que se pode melhorar em termos de segurança e de mobilidade.

«Pode ser necessário substituir a banheira por um poliban mas, se tal não for possível por falta de autorização dos senhorios ou por outros motivos, podemos arranjar a alternativa de uma cadeira giratória que permita ao idoso tomar banho com maior segurança.»

O apoio da instituição pretende prevenir situações que possam dificultar o dia-a-dia destas pessoas através de «um olhar crítico e incisivo». Em paralelo, o GAS Porto desenvolveu neste ano um manual de boas práticas que inclui todos os conceitos que idosos e cuidadores precisam de conhecer bem como o contacto de instituições que podem apoiá-los em caso de necessidade.

Existem regras muito simples para as quais só se começa a estar atento depois de surgir um problema. Numa primeira fase, serão distribuídos mil exemplares. «A quantas mais pessoas chegarmos, melhor.» A arquiteta considera que recebe muito mais do que dá. «Volto sempre de cada visita de coração cheio. Criam-se laços muito fortes, recebem-se agradecimentos únicos», explica Beatriz. Emociona-se ao falar do GAS Porto e dos idosos com quem contacta. A quem disponibiliza o seu tempo e o seu saber. É a neta que muitos avós gostariam de ter.

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