Uma horta na varanda, no terraço de casa, no restaurante, no hotel, na escola, no trabalho ou até no centro comercial? A Noocity, empresa de ecologia urbana, sediada no Porto, assegura que não só é possível como essencial para uma vida mais sustentável nas cidades. Pedro Lemos, chef distinguido recentemente com uma estrela Michelin, concorda. E já tem uma horta no seu restaurante.
As hortas comunitárias já dão cor a muitas cidades, contudo estão apenas ao alcance de alguns – poucos – felizardos, pois os espaços verdes são cada vez mais reduzidos, em contraste com o betão que os rodeia. Com os produtos agrícolas a encarecerem e a chegarem de origens cada vez mais longínquas, torna-se fulcral revolucionar a agricultura urbana a fim de tornar a vida das cidades mais sustentável.
E é precisamente uma mudança dos hábitos de consumo que a Noocity se propõe fazer. Como? Criando ferramentas que permitam ter uma horta em qualquer local, desde que este seja banhado pelo sol pelo menos três horas por dia. «Pode ser na varanda de casa, na parede de um restaurante, na cobertura de um hotel, no recreio de escola, na empresa ou até mesmo no centro comercial ou no supermercado», explica José Ruivo, 38 anos, gestor e fundador da empresa.
À primeira vista, a ideia poderá parecer um pouco difícil de concretizar, mas, pensando bem, conclui-se que difícil mesmo é apontar um local onde não se possa plantar, tanto mais que são apresentadas duas soluções para o cultivo. «As hortas urbanas têm tanto potencial numa cidade que se torna difícil concentrarmo-nos e limitarmos o raio de ação», diz o gestor, salientando que a empresa começou por desenvolver a ideia das Growbed e Growpocket apenas para a casa das pessoas, mas entretanto outras ideias começaram a crescer.
«De repente, lembrámo-nos de que as escolas eram um nicho ótimo e as crianças tinham tanto potencial e criámos o projeto Uma Horta na Escola. Depois surgiu a ideia dos restaurantes e hotéis, para terem produtos frescos e saudáveis para oferecer aos clientes. Seguiram-se as empresas, que podem ter hortas comunitárias para os funcionários e assim darem mais qualidade de vida uma vez que teriam ali um local para espairecer entre pausas ou mesmo no final do dia de trabalho. O potencial das hortas não tem fim», acrescenta Ruivo.
Passar da teoria à prática e ao produto final é que não foi assim tão fácil. O processo deu muito trabalho e consumiu muito tempo até ficar pronto e com a qualidade pretendida. Tanto mais que os primeiros equipamentos foram idealizados para satisfazer apenas a vontade dos seus criadores em terem uma horta no local de trabalho e nunca com o objetivo de um dia serem comercializados.
Primeiro, começaram por utilizar umas caixas de plástico, depois passaram para a madeira e a seguir para os têxteis e com uma estrutura fácil de transportar e de montar. «Até chegarmos à nossa Growbed demorou quase um ano. Fizemos muitos protótipos aqui na nossa minioficina. Só não costurámos o tecido, mas o resto foi quase tudo feito aqui. Não foi fácil chegar à qualidade dos têxteis que temos agora e convencer os fornecedores de que estávamos a começar e que precisávamos de que nos vendessem em pouca quantidade para irmos testando. Muitos produtos foram feitos com base em amostras que nos disponibilizavam», recorda o gestor.
A chave do sucesso foi mesmo a criatividade dos «inventores» e os conhecimentos em permacultura e sustentabilidade de alimentos que adquiriram ao longo dos anos. «Tudo isto deu-nos bagagem e informação para podermos chegar a um sistema de irrigação que é o mais eficiente para o cultivo em solo», justifica José Ruivo, referindo que pelas caraterísticas de autonomia de rega, poupança de água e ser sobre-elevado é o mais adequado para usar na cidade.
Mas a Noocity não se quer ficar apenas pela plantação de alimentos. No futuro, propõe-se apresentar novas ferramentas que ajudem as pessoas a diminuir ainda mais a pegada ecológica. O primeiro passo foi dado com os Growbed e Growpocket, o seguinte, embora ainda em fase de protótipo, passa pela criação de um produto para combustagem dos resíduos orgânicos, a fim de os transformar em nutrientes para as hortas crescerem e assim poder fechar-se um ciclo.
Quanto às duas soluções já disponíveis, que ficaram prontas a ser comercializadas apenas em julho de 2014, a Noocity está focada agora na sua implementação no mercado. «É algo que ainda está a ser feito e a acontecer todos os dias. Estamos a caminhar um passo de cada vez», diz o responsável, explicando que a divulgação passa quase exclusivamente pelo site (www.noocity.com/pt) e pelo contacto direto por telefone ou e-mail com potenciais clientes em Portugal, Espanha e Brasil.
A informação disponibilizada na plataforma online está a cargo de Leonor Babo, 30 anos, do Porto, formada em Design de Comunicação e Branding com uma pós-graduação em Gestão Cultural. Para além de dar mais visibilidade ao produto na comunicação social, Leonor gere ainda todo o material que se encontra no site. «Temos uma magazine e uma biblioteca que têm um papel didático de sensibilizar as pessoas para a agricultura urbana, para lhes mostrar que não é um bicho de sete cabeças e que é algo possível de concretizar», refere a responsável pela comunicação e o marketing.
Até ao momento, segundo José Ruivo a recetividade tem sido muito boa e já há inúmeras propostas na rua para hotéis e restaurantes, alguns em Portugal, outros em Madrid. «Nem todos disseram que sim, mas são poucos os que disseram que não. Já temos algumas hortas instaladas e sempre que consigo marcar uma reunião dão-me os parabéns pelo projeto», conta.
Contudo, para já, hortas efetivamente instaladas apenas se contam três: no restaurante de Pedro Lemos, no Porto, no Hotel Hilton, no Algarve, e num hotel em Madrid. «Tudo o resto está na calha», reconhece o fundador da Noocity, certo de que mais respostas positivas surgirão neste novo ano.
COMO SE PLANTA UMA IDEIA
Sediada no Porto, a Noocity foi fundada em 2011 por José Ruivo (38 anos, gestor), Samuel Rodrigues (32 anos, arquiteto), ambos portuenses, e por Pedro Monteiro (26 anos, de São Paulo/Brasil, com formação técnica em arquitetura). A ligação entre os três surgiu por intermédio de José Ruivo, então sócio de Samuel numa cooperativa de construção sustentável, e fruto da paixão que nutre pela ecologia e a sustentabilidade, que o levou a terras de Vera Cruz para frequentar um curso de permacultura no Instituto de Tecnologia Intuitiva e Bio-Arquitetura (TIBÁ), no Rio de Janeiro. Aí conheceu o que viria a ser o outro fundador da empresa e atualmente único sócio do gestor. Mas a verdade é que a Noocity nasceu quase por acaso, da necessidade de os fundadores encontrarem soluções de como fazer uma horta num local sem terra. Fruto da imaginação que tiveram para resolver essa questão, e sem se aperceberem, estavam a dar os primeiros passos para a criação de uma empresa que agora se propõe desenvolver equipamentos para a agricultura urbana.
CULTIVAR FICOU MAIS FÁCIL
Já se pode dizer adeus a obras em casa para se ter uma horta, tudo graças ao Growbed e ao Growpocket, dois produtos desenvolvidos e lançados pela Noocity. Soluções inovadoras, ecológicas, de baixa manutenção, prontas a utilizar, adaptavéis ao espaço disponível e, o melhor de tudo, que não precisam de ser regadas diariamente.
O Growbed é um produto sem paralelo no mercado e o que melhor se assemelha a uma horta. É composto por uma estrutura elevada, com um sistema de subirrigação (autorrega, com autonomia de três semanas) e uma altura para terra de 28 centímetros, pensada para permitir o cultivo de uma grande variedade de legumes, frutos, ervas aromáticas, plantas ornamentais e até alguns arbustos. É ideal para pátios, coberturas e varandas e está disponível em três tamanhos: S (125 cm de comprimento x 35 cm de largura x 35 cm de altura), que pode ser adquirido por 139 euros; M (125x65x35 cm), que custa 179 euros; e L (125x125x35 cm), com um preço de 229 euros. O Growpocket já tem concorrentes, mas, ainda assim, é uma boa solução para quem tem pouco espaço, pois é uma horta vertical, para ser afixada em varandas ou paredes ou até na Growbed. Tem um sistema de retenção e escoamento de água e também é vendido em três tamanhos: Single (60×34 centímetros), Duplo (120×34 cm) e Triplo (180×34 cm), com preços de 38, 45 e 63 euros.
Estes produtos podem ser adquiridos através do site www.noocity.com/pt ou nas lojas Cantinho das Aromáticas (Gaia), Quintal Bioshop (Porto) e Mundano Objectos (Porto). Em Espanha também estão à venda, através da página www.noocity.com/es e na loja Huertoshop, em Barcelona.