C’est Catherine. O nome é francês, mas os materiais e a inspiração são totalmente portugueses. Ana Catarina Rocha criou uma marca de roupa de inspiração vintage em que até os padrões e os materiais são fiéis à década de 1960.
Podia ser o nome de um romance, de um filme francês da nouvelle vague, de uma capa da Vogue dos anos 1960, de uma canção do Serge Gainsbourg. «Se fosse uma cidade seria Paris, se fosse uma série seria Mad Man», diz Ana Catarina Rocha. Mas C’est Catherine é, sobretudo, a concretização de um sonho da designer de moda: «Criar roupa 100 por cento nacional de inspiração rétro, em que até os padrões e os materiais são fiéis à época e ao país.»
Depois de vários anos a estudar entre Portugal e Londres, Ana Catarina percebeu que, entre todas as coisas que poderia fazer na área da moda, o que mais lhe apetecia mesmo era voltar para a casa materna, em Sines, no Alentejo, sentar-se na velha máquina de costura e recuperar as tardes de infância que passava com a madrinha a mexer em tecidos e a materializar fantasias na roupa. Por isso, num tempo obcecado pela imagem seguinte, a criadora fez o contrário: voltou a abrir os álbuns lá de casa e encontrou nas antigas fotografias de família a inspiração que a guiou na primeira coleção.
Entretanto, recuperou alguns metros de tecidos tipicamente portugueses: a chita, tão usada nos anos 1950 com os seus diversos padrões florais, e a ganga vintage (chamada cotim), que faziam as delícias das nossas bisavós, avós e mães e foram as matérias-primas eleitas para cruzar com outra das suas grandes referências: as divas do cinema europeu e americano das década 1950 e 1960. Assim nasceu uma marca que poderia ter a imagem de uma Catherine Hepburn vestida jovialmente com tecidos simples, a memória do nosso país rural e o glamour cosmopolita de uma mulher que toma o pequeno-almoço no Tiffany’s em Nova Iorque.
Depois da temporada em Sines, Ana Catarina Rocha, 25 anos, regressou a Lisboa em 2012, mas trazia consigo uma coleção que até já tinha nome: C’est Catherine. A marca encontrou no showroom do LX Factory e na Boutique del Rio, no Príncipe Real, dois espaços para ficar exposta ao público. A coleção foi um sucesso neste verão. Em parte por juntar sabiamente peças hit, como crop tops, com clássicos como saias rodadas estilo Dior, recriando todo o ambiente dos verões dos anos 1950. A vocalista dos The Gift, Sónia Tavares, ficou logo atraída pelas peças desenhadas por Ana Catarina. Por isso escolheu vários deles para as galas do programa de televisão Factor X (SIC). Também a apresentadora Inês Folque, do canal Meo Kids, usou algumas peças no programa que apresenta.
Com influências construídas em torno de um imaginário rétro – e com nomes como Balmain, Chanel ou Balenciaga bem marcados nas suas preferências –, Catarina Costa licenciou-se em Design de Moda na Universidade da Beira Interior, de onde, mais do que teorias, trouxe a sensação tátil do manuseamento das lãs da zona da serra da Estrela, do burel e dos algodões com estampagens antigas. Passou depois pela Central Saint Martins, em Londres, onde estudou Jornalismo de Moda, e pela Universidade de Florianópolis, no Brasil, na qual entrou no mundo do branding e da estratégia de marcas. Estas andanças significaram o fim de alguns sonhos mas um ganho em consciência do real: «É muito difícil, em Portugal, criar uma marca de roupa, ser um designer e viver disso como acontece lá fora. O empreendedorismo, a criação de um negócio são coisas muito morosas, que exigem muito tempo e paciência.» Mas isso não a demoveu. Investiu as economias nos tecidos portugueses e sentou-se à frente da máquina de costura sem outra preocupação que não fosse a construção de «um olhar próprio, que revelasse influências mas não fosse imitação de nada nem de ninguém».
Esse espírito singular está presente também no número de peças postas à venda. Todas as coleções C’est Catherine são limitadas e têm apenas um exemplar de cada peça em três tamanhos diferentes. «Quem veste a marca dificilmente correrá o risco de encontrar alguém na rua que esteja vestida de igual.» Os preços variam entre os 70 e os 200 euros.
E assim, com este espírito livre e tenaz, numa face de menina tímida, Ana Catarina Rocha já lançou a segunda coleção, desta feita para ou outono-inverno. Para manter o sonho sobre bases bem reais, trabalha durante o dia num showroom de outras marcas de moda, junto ao Marquês de Pombal, mas a partir das seis da tarde ganha nova vida como estilista e dedica-se às suas coleções. «O outono chega à cidade. Tudo esmorece menos a classe. C’est Catherine chega mais madura depois do verão, mais segura e senhora de si. Entra na estação da renovação com a serenidade de uma mulher e a jovialidade de uma menina.» As palavras são da estilista, no catálogo onde a marca ressurge em novas cores. Os tons pastel da primavera deram lugar aos ocres, aos burgandy, aos pretos, aos verdes-escuros. As linhas continuam pensadas para o corpo de bailarina de Catherine Hepburn: saias trapézio, calças palazzo, casacos muito largos. Os tecidos são mais densos e já incorporam materiais como a lã, «que é também uma expressão da nossa cultura».