Perdeu o emprego aos 50 anos, enfrentou um curso de Direito, montou o seu escritório de solicitadoria e hoje ajuda a envelhecida comunidade de Camarate, muitas vezes sem retorno financeiro.
Terminado o ensino secundário, a vida levou Isabel Figueiredo para o secretariado, onde colaborou com nomes como José Miguel Júdice, João Salgueiro ou o banqueiro Horácio Roque. Já perto dos 50 anos, secretariava o atual presidente ibérico da petrolífera Repsol – António Calçada de Sá –, bateu-lhe à porta o desemprego. Não resistiu ao fenómeno da globalização. A Repsol agregara a Shell e em virtude do excedente de pessoal motivado pela união das petrolíferas foi-lhe imposta a rescisão. Os poucos anos de casa tornaram-na o elo mais fraco. Estava naquela idade em que a competência já não tem força para abrir portas. Voltar para casa e esbanjar os últimos anos de vitalidade com um avental à cintura também não era caminho. Isabel decidiu reabilitar o sonho de estudar Direito. Um bichinho que lhe ficou dos tempos em que trabalhou com Júdice e António Maria Pereira. Desafio com um elevadíssimo grau de exigência, mesmo para quem ainda tem a cabeça fresca. Mas tudo vale a pena por um sonho. Passados quatro anos e muitas noites em claro agarrada aos livros, lá estava ela a queimar as recompensadoras fitas. Ficara-se pela licenciatura em Direito e Solicitadoria. Não defende causas na barra do tribunal mas defende gente de fracos recursos financeiros e literários. Gente que fez do trabalho escola e que, já na reta final da vida, se vê ameaçada por multinacionais da comunicação por cabo, porque assinou contratos com cláusulas escritas num corpo que os seus olhos já não conseguem ver. Gente com dificuldade em conciliar o sentido de justiça que a vida lhes ensinou com as novas justiças emanadas em catadupa por uma troika ao serviço do sistema bancário. Na maioria das vezes não cobra pela consulta, diz não ter coração nem coragem. Na voz dos seus clientes, os seus principais atributos.