Como é que teria sido se tivéssemos ficado juntos?

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É ELA, É. É MESMO ELA. Ou não…? Espera lá… Ela não tinha o cabelo assim. Aquilo não é o cabelo dela. Pin­tou? Como é que as mulheres dizem? Madeixas. Fez ma­deixas. Ou nuances? Nunca sei. E está mais ondulado. E mais curto. Fica-lhe bem. Está gira. E mais magra. Bem mais magra. Fogo, deve ter perdido uns cinco ou seis quilos. Não é que fosse gorda, mas agora está bem fininha. Mas continua com umas boas mamas. Sim se­nhor. E belas pernas. Belos saltos altos. O que é que ela fará? Para vir assim vestida às compras, a esta hora, de­ve ter saído do trabalho. A vida tratou-te bem.

UPS, OLHA PARA OUTRO LADO, olha para outro lado. Olha para os iogurtes. Ela está a olhar para cá. Ainda es­tá? Não. Boa. Está a falar com a miúda. Será a filha? Não pode ser. Não pode ter uma filha daquela idade. Ou po­de? Então, deixa lá fazer as contas. 2002? 2003? Sim. Já lá vão 11 anos. Já acabámos o namoro há 11 anos. Bolas, olha o que os anos fazem a uma ex-namorada. Emagre­ce, pinta o cabelo, tem uma filha, fica mais gira… Ó tem­po volta para trás, o caraças. Anda mas é para a frente. Se passados 11 anos está assim, como é que estará daqui a mais 11? Bom, eu também tive um filho. Só não ema­greci. Pelo contrário. E tenho menos cabelo. Mas a ela, o tempo fez-lhe bem. Outra? Outra miúda a chegar? Duas filhas? Três!? Bolas, tem três filhas? Sim senhora…

TENHO DE SAIR DAQUI, JÁ ESTOU A DAR NAS VISTAS. Pa­reço um tarado, a olhar para uma mu­lher. Um desses stalkers dos filmes. Venho para aqui para perto da manteiga e fico mais um bocado a olhar para ela. Não vejo é ali nenhum gajo. Será aquele alto? Não. Esse está com aquela mu­lher ao fundo. Bom, ela pode ter vindo sozinha com as miúdas. Mas não é fácil. Logo três. Também tenho bom remédio, para saber. Deixa lá ver a mão. Será que ela tem aliança? Levanta a mão. Levanta a mão. Pega lá numa das miúdas ao colo para eu ver. Isso… passa a mão no cabelo. Ok…. Não há aliança. Boa. Bom, is­so não quer dizer nada. Eu também não uso aliança e sou casado. E vim sozinho às compras. Mas por aca­so gostava de ver se ela está com algum gajo. E como é que ele é.

ONZE ANOS… Realmente, não há como encontrar uma ex-namorada no supermercado para ficar a pensar na vida. Se fosse ao contrário, será que ela fazia o mes­mo? Se fosse ela a ver-me com o miúdo, por aqui, entre os ovos e o leite, a comprar vinho ou garrafas de água, será que ficava a espreitar, para ver como é que eu es­tava? As mulheres também fazem isso? Também têm essa curiosidade? Será que ela ficava à espera para ver se aparecia a minha mulher? Fogo, 11 anos… De todas as namoradas que gostava de voltar a encontrar, esta é aquela sobre quem eu tinha mais curiosidade. Como é que teria sido se tivéssemos ficado juntos? Tínhamos um filho, como eu? Ou três, como ela? E será que ela estava mais magra, mais gira, com o cabelo mais lou­ro? Como é que seria a vida agora?

OLHA, OLHA QUEM RESOLVEU APARECER. O senhor ma­rido. Eh pá, é este? O gajo é baixinho. E tem pinta de la­brego. Ela está com este bom aspeto todo e está com este gajo? É mais gordo do que eu. E bem mais velho. Deve ter uns 50 anos. Tem um ar acabado. Se calhar as filhas são dele. Uma ou duas, então. Fogo, não esta­va à espera disto. Ela com aquele bom aspeto todo e ele com um ar destes? E ela era tão exigente com a imagem. E chateava-me se eu andava mais desleixado. Bom, já me sinto menos mal. Vou-me embora. Vou mas é pro­curá-la no Facebook. Peço-lhe amizade e mando-lhe uma mensagem. Deve ter fotografias.

[Publicado originalmente na edição de 16 de novembro de 2014]