Joana Bordalo e Sá: a voz da luta dos médicos

Joana Bordalo e Sá é presidente da Federação Nacional dos Médicos (FNAM)

Firme a tratar o cancro, também lidera com garra manifestações e ações em prol de melhores salários e condições de trabalho para os médicos.

Para a Federação Nacional dos Médicos (FNAM), 2023 foi “o ano dos anos da luta”, com greves e diversas ações na defesa da profissão e do Serviço Nacional de Saúde (SNS), com Joana Bordalo e Sá na dianteira. Sindicalista desde o início da carreira, a médica oncologista assumiu a presidência da FNAM em dezembro de 2022, meses após ter chegado à liderança do Sindicato dos Médicos do Norte, não faltando quem lhe gabe a coragem e o compromisso com a causa a que se propôs.

Pessoalmente, a médica admite que ser presidente da FNAM não estava nos seus planos, mas aceitou a missão sem olhar para trás, num contexto quente, com a classe a reivindicar “não apenas melhores salários, mas também melhores condições de trabalho”, sublinha, sem poupar críticas ao ministério de Manuel Pizarro. Independentemente do resultado das próximas eleições, Joana Bordalo e Sá garante: “Vamos manter as nossas reivindicações”.

Segundo o antigo presidente da FNAM, o médico Noel Carrilho, que a conhece há mais de uma década, “é uma pessoa muito séria e que exige muito rigor de todos os que estão à sua volta”. Já a nível pessoal, prima pelo “bom humor”, que fica à porta quando se reúne em negociações.

Natural do Porto, mas com dupla nacionalidade, portuguesa e cipriota (neste caso, herdada da mãe, professora de inglês, já falecida), trabalha no IPO desde que concluiu a sua formação académica no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto-ICBAS. Diz que foi o pai, o biólogo e professor catedrático Adriano Bordalo e Sá, que a influenciou a estudar ali. Tal como ele, também dá aulas no ICBAS, onde começou a ir ainda muito pequena. “No fim dos anos 90, a minha opção era estudar no Porto”, partilhou no podcast Alumni Mundus, da Universidade do Porto, justificando a opção académica.

Curiosamente, começou por cursar Veterinária antes de seguir Medicina. “Estava muito convicta que queria ser veterinária, mas, no terceiro ano, achei que, ao nível de saídas, não seria o que queria fazer”. Licenciou-se em 2004, seguindo-se o mestrado em Medicina e Oncologia Molecular na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e um doutoramento.

Várias vezes Joana Bordalo e Sá fez voluntariado. Começou ainda quando estava no internato por um campo de refugiados em Beirute, no Líbano. “Aprendi imenso”, reconhece. Depois esteve em contexto rural a trabalhar a questão educativa com crianças e mulheres na Índia. Já formada, fez duas pausas, para rumar à Guiné-Bissau, onde integrou ONG. “Na última vez, estive num hospital mais dedicado ao HIV e SIDA. É uma experiência que acho que todos os médicos deveriam ter”, afirma.

A especialização em Oncologia aconteceu pela “forte componente humana muito próxima do doente, pela comunicação e por acreditar na inovação e investigação”. No IPO do Porto, Joana Bordalo e Sá é ainda coordenadora do internato médico, onde puxa “os mais jovens a falarem pelo futuro do SNS”, uma das suas principais bandeiras.

Para ela, “os últimos meses foram difíceis” enquanto líder sindical. No entanto, assegura: “Continuo com força, pois tenho este desafio”. Dar voz a causas é algo a que se habituou desde nova. Ainda aluna no ICBAS, juntou-se a mais três colegas e criou o jornal académico “O Grito da Gaivota”, que tinha “sempre um tema quente, com dois pontos de vista diferentes”. “Acredito muito num espaço mais participativo e ativo da população em geral”, defende.

Com uma agenda exigente e múltiplas responsabilidades, a médica, que é casada, tenta manter algum exercício físico como rotina. “Sempre que posso, fujo para a montanha, onde faço caminhadas. Além disso, mantenho alguma atividade cultural”, sintetiza, deixando claro a importância do equilíbrio entre vida profissional e pessoal.

Joana Bordalo e Sá
Cargo:
presidente da Federação Nacional dos Médicos (FNAM)
Nascimento: 1979 (45 anos)
Nacionalidade: Luso-cipriota