Inteligência artificial revoluciona saúde digestiva

As inovações estão patenteadas e já estão a ser usadas em estudos clínicos

Médico e investigador Miguel Mascarenhas lidera equipa que desenvolveu tecnologias para facilitar deteção de lesões e cancros.

A inteligência artificial (IA) está a ajudar na deteção das lesões e cancros do sistema digestivo, poupando sofrimento aos doentes e tempo aos médicos. E as tecnologias desenvolvidas por uma equipa de profissionais de medicina e engenharia liderados pelo gastrenterologista e investigador Miguel Mascarenhas são disso exemplo.

O médico, que fundou e coordena a Unidade de Medicina de Precisão do Serviço de Gastrenterologia do Hospital de São João (atual Unidade Local de Saúde de S. João) em colaboração com as faculdades de Medicina e de Engenharia da Universidade do Porto (UP), desenvolveu com a sua equipa oito tecnologias pioneiras na área da gastrenterologia e saúde digestiva. O trabalho deu origem, também, a mais de 100 publicações científicas e foi distinguido com mais de 50 prémios nacionais e internacionais, incluindo o melhor trabalho científico do Colégio Americano de Gastrenterologia, em 2022, e o Best Presenter Award, em 2023, pela Sociedade Internacional de Cancro Anal.

No rastreio do cancro do colo retal e do estômago através de endoscopia por cápsula, por exemplo, a IA permite realizar “uma tarefa de horas em segundos e aumentar a sensibilidade na deteção de lesões”, explica o médico. Outras das tecnologias desenvolvidas permitem “aumentar a sensibilidade de biópsias de 50 para 95%”. “Conseguimos aumentar a taxa de deteção de lesões precursoras de cancro, podendo diminuir o número cancros em estado avançado, evitando-se cirurgias e internamentos desnecessários e poupando-se recursos valiosos e escassos aos sistemas de saúde.”

O contributo que a IA pode dar nesta área gerou grande interesse da comunidade científica internacional. O trabalho que começou no São João expandiu-se e, atualmente, Miguel Mascarenhas tem a seu cargo a coordenação de centros de IA no Hospital Universitário La Princesa (Madrid), no Hospital Paris Saint-Joseph (Paris), no NYU Langone Health (Estados Unidos) e no Instituto de Infectologia Emílio Ribas (São Paulo), entre outros. Neste contexto foi criada uma spin-off na UP, a DigestAID, que ajudou a alavancar estas tecnologias.

As inovações estão patenteadas e já estão a ser usadas em estudos clínicos, aguardando-se a aprovação da FDA, a agência que autoriza a introdução deste tipo de equipamentos de saúde nos Estados Unidos, assim como a certificação europeia, para se difundirem.