Artur Jorge: o durão de lágrima fácil

Artur Jorge é treinador do Sporting de Braga

Símbolo do Sp. Braga, tem uma vida inteira colada ao clube. Afirmou-se depois de ter sido rejeitado, foi capitão de equipa e treinador nas camadas jovens. Está no lugar que sempre desejou ocupar.

“É a minha cadeira de sonho. Passo mais tempo com o Sp. Braga do que em casa.” Um eufórico e emocionado Artur Jorge comentava assim a ligação com o seu clube de sempre, minutos depois de o ter levado à conquista da terceira Taça da Liga da história, após uma vitória nas grandes penalidades frente ao Estoril.

Cresceu a dois passos do mítico Estádio 1.º de Maio, antiga casa braguista, e todos os domingos eram de festa quando com os pais, Artur e Carolina, e os dois irmãos mais novos se sentavam na fria bancada de pedra para assistir aos jogos. “Desde muito novo que fiquei com o desejo de ser eu a estar lá dentro”, lembrou em entrevista ao canal de YouTube do clube. As semanas eram divididas entre a escola e o Bairro Duarte Pacheco, onde morava e de onde saiu apenas quando casou. As brincadeiras tinham quase sempre o futebol como mote. “Era um tanto ou quanto rebelde pelo tempo passado na rua, mas educado e respeitador”, define-se.

Tanto futebol lhe preenchia os dias que aos 13 anos se atreveu a ir aos treinos de captação do ‘seu’ Sp. Braga. Teve o primeiro desgosto. Não foi selecionado e acabou por ir jogar uma temporada para o GFC Sé. O destino quis que num jogo contra o Sp. Braga desse nas vistas, fator fundamental para ser convidado a integrar o clube na época seguinte. Galgou as camadas jovens e subiu à categoria sénior, afirmando-se com facilidade como defesa-central possante, duro, quase intransponível. Estreou-se frente ao Belenenses naquele que foi o início de uma união de 12 anos e 275 jogos de Sp. Braga ao peito, boa parte deles como capitão. “Foi precisa muita resistência e capacidade de superação para chegar onde cheguei. Não era o melhor jogador, mas ninguém lutava mais do que eu”, disse na mesma entrevista, ele que não escondeu as lágrimas ao ouvir, emocionado, testemunhos de alguns ex-colegas de equipa. As mesmas lágrimas que verteu depois da conquista da Taça da Liga.

“Gostava de ganhar, da competição. Ficava furioso quando perdia e mesmo nos treinos era bastante exigente com os outros e sobretudo consigo mesmo”, descreve à NM José Nuno Azevedo, que partilhou balneário com Artur Jorge. “Um verdadeiro líder que se destacava pela personalidade forte e que não deixava ninguém indiferente. O modo direto dele marcava muito e nem sempre era bem acolhido à primeira por quem chegava ao clube. Era capitão 24 horas por dia”, assinala.

“Nunca deixava de exercer a sua liderança vincada. Falava de igual para igual com todos, fosse com colegas mais novos ou mais experientes, até com elementos da direção”, conta outro antigo companheiro de equipa, que preferiu não se identificar. “Impunha-se em campo e, sobretudo, fora dele. Apesar de parecer sisudo, estava sempre próximo e preocupado com todos”, salienta.

Depois de finalizar a carreira no Penafiel – “não sentia mais a capacidade de dar tudo de mim próprio” -, encarou mal o fim. “Não consigo descrever o que é a falta de jogar”, admitiu. Abriu um restaurante, negócio que pouco durou, e, quatro anos depois de pendurar as chuteiras, iniciou o percurso de treinador no Famalicão. Não demorou a ser convidado a integrar as camadas jovens do Sp. Braga, de onde saiu para orientar Tirsense e Limianos. Regressou a Braga e conseguiu o feito de terminar invicto a primeira fase do campeonato de sub-19. A chamada para a equipa B não tardou e a primeira experiência na formação principal também não, corria a parte final da época 2019/20. Substituiu inesperadamente Custódio Castro, soube da notícia através de um telefonema do diretor desportivo, Hugo Vieira, às três da madrugada. Na manhã seguinte estava a comandar o primeiro treino.

Finda o campeonato em terceiro lugar, regressa aos sub-23 e posteriormente à equipa B. Até ser novamente chamado a ser o homem do leme do plantel principal, em 2022/23, que termina novamente em terceiro. Casado, tem duas filhas e um filho, Artur Jorge como o pai, futebolista profissional ao serviço do Farense. E uma paixão eterna pelo futebol e pelo Sp. Braga, em cujas instalações é sempre o primeiro a entrar e o último a sair. Sonha ser campeão nacional.

Cargo: treinador do Sporting de Braga
Nascimento: 01/01/1972 (52 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Braga)