Sun2Dry, um desidratador amigo da Terra, made in Portugal

A ideia é combater excessos de produção e dar uso à fruta e vegetais

O projeto de Lisete Fernandes quer sair da UTAD para as nossas varandas. Já foi a Londres e a receita é simples. De caixas de peixe e latas nasce um apelo à alimentação saudável.

É uma ideia portuguesa, com certeza. “Testei com maçãs por ser algo sempre disponível no nosso país”, revela Lisete Fernandes, investigadora da UTAD. Tinha de “criar algo diferente” no doutoramento em Ciências Químicas e Biológicas da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Para não seguir “ciência de gaveta”, apercebeu-se de uma realidade. Os “snacks desidratados popularizam-se” e, consequentemente, os desidratadores à venda. Aproveitou, então, o que o nosso país tem de melhor: sol abundante. Nasce, então, o Sun2Dry: alternativa aos desidratadores a eletricidade.

“Funciona de forma muito simples”, explica. “Uma caixa com ventoinhas recicladas de computadores, alimentadas por painéis solares de cerca de 30 cm”. Estas “puxam e mantêm o ar quente na caixa e, ao mesmo tempo, expulsam a humidade que os alimentos soltam”. Depois, a caixa só precisa de uma varanda exposta ao sol. O desidratador sustentável já foi testado com maçãs, cogumelos e deu bons resultados. “Funciona particularmente bem com cascas de citrinos.” O tempo de cada produto na caixa “depende da quantidade de água e do tempo que demora a libertá-la”.

Aproveitar até mesmo cascas? É essa a ideia, combater excessos de produção e dar uso à fruta e vegetais “que são considerados feios nos mercados”, conta Lisete. As framboesas são bom exemplo. “Um fruto com muita perda na apanha, porque facilmente se esborracha”. Mas, com o Sun2Dry, “esses descartes podem ser colocados no desidratador e consumidos em batidos, iogurtes ou bolos”. É por isto que o protótipo se encaixa na Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável. E pode ser muito apelativo para “crianças que queiram participar na desidratação.

Usando as maçãs, fizeram-se “testes para perceber a grossura a que se deve cortar a fruta para que não saiba a folha de papel, mas que seja crocante”, releva Lisete. Agora, quer mostrar que os seus snacks são “mais saudáveis do que os do mercado”, já que esses, “como são feitos a altas temperaturas, podem comprometer o valor nutricional dos alimentos”. “Quero provar que, além de sustentável, o Sun2Dry é saudável e acessível.” O próximo passo é instalar os protótipos em casas para ter feedback. Um dia será possível ter um Sun2Dry à medida de cada varanda, acompanhado de “um manual de instruções, livro de receitas, tudo a que se tem direito”, descreve. Deseja, inclusive, criar uma app que avise o utilizador quando o alimento libertou humidade suficiente para “estar crocante e pronto a comer”.

Por um Planeta e estilo de vida mais saudáveis, nasce o Sun2Dry. No mundo ideal de Lisete, todos teremos uma caixa à varanda, capaz de transformar qualquer alimento num snack delicioso