Margarida Rebelo Pinto

Parabéns


Rubrica "A vida como ela é", de Margarida Rebelo Pinto.

Correu tudo bem. Correu tudo bem para toda a gente: a Igreja Católica deu uma inequívoca demonstração de força que dificilmente será esquecida, cristãos que não vão à missa há anos fizeram as pazes com a fé, o Papa Francisco conquistou (ainda mais) o país e o Mundo, o Mundo apaixonou-se por Portugal e a Câmara de Lisboa mostrou-se competente e capaz de realizar e de concretizar um dos maiores eventos jamais realizados na capital. O nosso presidente da República, católico convicto, exultou 24 horas sobre 24, espalhando a sua alegria e simpatia naquele que terá sido, provavelmente, o momento mais feliz dos dois mandatos. Bebés, crianças, jovens e menos jovens viram, ouviram e sobretudo sentiram a voz de Francisco a ecoar no coração, com as suas mensagens de paz, de esperança, de amor e de inclusão.

A logística e o planeamento foram exemplares, o que facilitou o trabalho das forças policiais. Estas foram todas mobilizadas, incluindo os alunos da Escola Prática e do Instituto Superior de Polícia. Sabemos receber e recebemos bem. Recebemos com simpatia, com cortesia, com cuidado e com amor. Fomos a grande sala de estar do Mundo. É claro que tivemos os nossos momentos gagos e anedóticos, indispensáveis ao nosso modo de ser, como o aperto de mão vigoroso à saída do avião do Vaticano, a dança dos tapetes na qual Carlos Moedas deu a volta ao ato contestatário protagonizado pelo artista plástico Bordalo II com grande rapidez e souplesse, mas faz parte.

Estão de parabéns o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, e toda a sua equipa, bem como Ricardo Sá Fernandes e respetivo gabinete. Destaco ainda o espírito de missão e a capacidade de trabalho da diretora municipal dos espaços verdes, Catarina Freitas, e da sua estrutura. Moedas, com a segurança e calma que o caracterizam, nunca deixou de acreditar que seríamos capazes. Todas as equipas de todos os serviços associados viveram intensamente o evento muitos meses antes da data, para que tudo corresse o melhor possível. Como é habitual e até estranhamente previsível, o primeiro-ministro esteve sempre no país do Nim que é o seu habitat natural, aproveitando o final apoteótico do evento para apanhar a boleia dos vencedores. No entanto, os grandes vencedores foram os voluntários e peregrinos que deram toda a sua energia. O resultado está nas imagens incríveis e reais, um mar de alegria e paz e a emoção em milhões de rostos, tanto naqueles que saíram à rua, como nos que assistiriam em direto.

A JMJ provou que, quando nos empenhamos em algo de alma e coração, somos muito bons. O orgulho é um sentimento que falta ao português na vidinha que nos consome, na vírgula maníaca que tanto irritava o poeta Alexandre O’Neill. Precisamos de momentos excecionais para mostrarmos ao Mundo, e sobretudo a nós próprios, que somos excecionais.

Seria bom que não esquecêssemos as mensagens que o Papa Francisco nos deixou. “Não temam, não tenham medo.” “Quem ama, não fica de braços cruzados.” “Continuem a cavalgar as ondas da caridade para serem surfistas do amor”, proclamando uma Igreja para todos, todos, todos. Guardemos a melodia de uma das mais belas repetições que o Mundo tanto ansiava e que todos precisávamos de ouvir.