O objeto escolhido pelo cantor Salvador Sobral.
“A minha caixa de medicamentos é uma caixinha de rolo de câmara analógica. A Jenna tira fotos analógicas e então há sempre muitas pela casa. É um objeto que está sempre comigo, nas minhas calças. Os medicamentos largam um pozinho, vou mudando de caixas, às vezes passo-as por água para tirar os pós. Não convém ter uma durante muito tempo. Acho que mais ninguém faz isto, é uma coisa minha.
Não sei como começou sequer. Tinha aquelas caixas típicas da farmácia, mas acho deprimente – segunda-feira, terça-feira, quarta-feira… Não sou essa pessoa. Tomo medicamentos todos os dias, de forma obrigatória desde os 20 anos, e é a única coisa em que sou disciplinado na vida, que não me engano, sou bastante rigoroso (com a minha filha descobri outra disciplina que é a educação dela). Tudo isto é muito metódico. Às vezes, deixo medicamentos soltos, a médica não gosta, mas ela sabe.
Pensando sobre isto, acho que é uma maneira de ter um bocadinho do meu eu artístico mesmo nos medicamentos que tenho de tomar. De ter um bocadinho de arte e um bocadinho de loucura, para não ser tudo o doente e a caixinha dos dias, para ter um bocadinho de rebeldia nesta minha obrigação. Tenho de tomar medicamentos durante muito tempo, talvez para a vida toda, então mantenho um bocadinho de arte neste processo clínico. Talvez até possa lançar uma moda.”
Cantor
33 anos
