Christine Lagarde: o diabo veste Prada

Christine Lagarde é presidente do Banco Central Europeu

Vegetariana e abstémia, a presidente do BCE cresceu na Normandia, no seio de uma família católica praticante. Foi nadadora-salvadora e professora de natação. No Secundário reprovou duas vezes. Nunca foi boa aluna a Matemática.

Foi a primeira mulher a presidir a uma das maiores firmas americanas de advocacia internacional, a Baker & McKenzie (1999-2004), especializando-se em Direito do Trabalho. A primeira a tutelar a pasta da Economia, Finanças e Indústria, entre os países do G8, então ao serviço do governo francês, de Sarkozy e do centro-direita, decretando a liberalização do mercado de trabalho, a redução do imposto sucessório, a austeridade para os serviços públicos. Foi a primeira mulher a presidir ao FMI (2011-2019), num tempo sombrio – o auge da crise da Zona Euro, que teve a Grécia como protagonista infeliz, obrigada à vontade dos credores.

É a primeira mulher a presidir ao Banco Central Europeu (BCE). E sempre que fala, as famílias tremem. Em nome do combate à inflação, a subida sucessiva das taxas de juro, decretada pelo BCE e anunciada pela voz firme de Lagarde, não tem fim à vista.

Interpares, as tensas cimeiras e as longas reuniões a que preside não a impedem de criar bom ambiente. “Ela é muito divertida”, disse Jeroen Dijsselbloem ao site Político.eu. O então presidente do Eurogrupo lembrou ainda que mesmo nos “momentos mais impossíveis”, com o destino da Grécia e da Zona Euro na balança, “ela pegava na bolsa, tirava uns M&M’s e anunciava: ‘Vamos comer uns chocolates’”.

A 3 de agosto de 2011 perdeu a boa disposição. Um tribunal francês ordenou uma investigação sobre o papel de Lagarde numa arbitragem de 403 milhões de euros a favor do empresário Bernard Tapie. A 20 de março de 2013, o apartamento em Paris foi revistado pela Polícia francesa. Que encontrou uma carta, sem data, dirigida ao presidente Sarkozy, missiva em que se colocava nas mãos do “querido Nicolas”. “Use-me como lhe convenha e convenha ao seu projeto e à sua equipa.”

Em 2016, um tribunal francês considerou-a culpada de negligência no caso Tapie. Em 2018 e 2020, a “Forbes” classificou-a em terceiro lugar na lista das 100 mulheres mais poderosas do Mundo. Em 2022, Emmanuel Macron atribuiu-lhe a insígnia de Comandante da Ordem Nacional de Mérito.

Foi retratada por Laila Robins no filme para televisão da HBO “Too big to fail” (2011). Serviu de inspiração a Meryl Streep na composição da personagem Miranda Priestly (“O diabo veste Prada”, 2006). A atriz definiu-a em duas palavras: “Elegância e autoridade”.

À “Vogue”, revelou o segredo da tão discutida “elegância”: as francesas Chanel e Ventilo, e a casa inglesa Austin Reed. “Fazem uns fatos maravilhosos, roupas de negócios, muito resistentes a aviões.”

Nascida em Paris, partilhou com Jacqueline Onassis a distinta Holton-Arms School, Escola Preparatória e particular feminina, em Bethesda, Maryland, onde completou uma licenciatura em Inglês. De regresso a França, formou-se no Institut d’Études Politiques d’Aix-en-Provence em Direito Social e frequentou a Sciences Po Paris.

Foi casada duas vezes, duas vezes divorciada, tem dois filhos, Pierre-Henri, de 25 anos, e Thomas, de 23. Ensinou-os a passar a ferro e a cozinhar.

Vegetariana e abstémia, Christine Madeleine Odette Lallouette, nome de solteira, cresceu na Normandia, no seio de uma família católica praticante. Perdeu o pai, professor de Inglês, aos 17 anos. Pertenceu à equipa de natação sincronizada que venceu o campeonato francês em 1973. Jovem “muito engraçada e divertida”, reprovou duas vezes no Secundário. Não era boa aluna a Matemática. Foi professora de natação. Foi nadadora-salvadora. Hoje, o BCE estraga vidas.

Christine Madeleine Odette Lagarde
Cargo:
presidente do Banco Central Europeu
Nascimento: 01/01/1956 (67 anos)
Nacionalidade: Francesa