A irreverência de Helmut Newton na Corunha

Helmut Newton dispensava material de iluminação, preferindo aproveitar a luz natural

Exposição “Fact & Fiction” da Fundação MOP dá a conhecer a linguagem fetichista e contrastante do fotógrafo de moda.

No porto da Corunha, Galiza, Espanha, o conjunto de antigos armazéns é agora a MOP – fundação de Marta Ortega Pérez, presidente da Inditex. Pelo terceiro ano, as paredes internas do edifício estão repletas de icónicas imagens. Desta vez, a mostra tem por nome “Fact & Fiction”. Em colaboração com a fundação Helmut Newton e os comissários Phillip Garner e Matthias Harder, reúnem-se as imagens que melhor ilustram a mente daquele que é considerado o enfant terrible da fotografia. Pela escuridão das salas, destacam-se os retratos de Margaret Thatcher, Andy Warhol e Yves Saint Laurent, bem como a sua célebre obra “Grandes nus”. Pela lente de Helmut Newton (1920-2004), a moda, a Natureza e o ser humano juntam-se num espetáculo sem regras. De entrada gratuita, a exposição inclui um espaço com vídeos do artista em trabalho, bem como objetos pessoais. Para explorar até 1 de maio de 2024.

Um visionário com uma carreira de seis décadas, da qual se destaca a nudez, sobretudo feminina. Phillip Garner refere que as regras da arte da sua época existiam para que Helmut Newton as quebrasse. Nascido em Berlim, naturalizou-se australiano, país para onde se mudou quando, aos 18 anos, fugiu da Alemanha nazi, por o pai ser judeu. Não demorou muito a tornar-se um dos mais carismáticos fotógrafos de moda.

Dispensava material de iluminação, preferindo aproveitar a luz natural. Além do fetichismo, destacam-se as dualidades: o claro e o escuro, o elegante e o banal. Num dos seus trabalhos mais notáveis, para a “Vogue” francesa em 1975, uma modelo exibe um conjunto Yves Saint Laurent. Observam-se vários contrastes, a figura feminina num fato masculino, em pose editorial iluminada apenas pelo candeeiro da simples Rua Aubriot, em Paris.

Os lugares que influenciam a sua arte, tais como Paris, Monte Carlo ou Berlim, também podem ser apreciados. Helmut Newton dizia que, quando as suas fotografias não tinham nudez, ninguém as admirava. Assim, na imagem que fez do Colosso do Apenino, em 1996, se repararmos bem, veremos Shirley Mallmann nua. São descobertas como esta que esta exposição nos proporciona.