A inauguração aconteceu precisamente há 175 anos. “A população saiu toda para a rua e aglomerou-se nas praças e sítios principais. Deixou-se escurecer bem para depois ser maior o efeito e a surpresa."
A escuridão dos becos e das vielas sempre serviu de palco para atos de má índole. Assim, desde a Idade Média que a “luz” foi vista pelos governantes como uma poderosa arma contra a criminalidade. Em 1383, o rei D. Fernando decretou que em Lisboa, nas ruas de passagem da ronda dos quadrilheiros, os respetivos moradores deveriam mantê-las toda a noite iluminadas com candeias. Não duraria muito. Quando as circunstâncias mudam, principalmente as políticas e as sociais, tudo muda com elas. E assim o negrume voltou às ruas, bem como todos os males que aquelas noites traziam.
Em 1689 foi a vez do rei D. Pedro II tentar trazer luz às trevas. Mas foi avisado que a elevada tributação que recairia sobre o povo de Lisboa, imprescindível para o fabrico de lampiões e para a aquisição de azeite, iria ser insustentável. Nada feito.
Em meados de 1700 a iluminação noturna chegou às principais cidades europeias, como Paris (1765). Por cá, passaram 15 anos até que, por especial dedicação de Pina Manique, intendente geral da Polícia, Lisboa seguiria, finalmente, esse exemplo. Assim, a 17 de dezembro de 1780, no aniversário da rainha D. Maria I, as principais ruas da capital foram iluminadas com 774 candeeiros de azeite. Um grupo de 100 homens tratava da tarefa. O azeite provinha da contribuição mensal dos moradores, que consistia num quartilho de azeite doce de qualidade inferior, e também do produto das oliveiras que foram plantadas nas bermas da estrada real e em caminhos do termo de Lisboa para esse efeito. Um custo elevado. Mais uma vez, não vingou. A criminalidade voltou a intensificar-se. E foi precisamente esse motivo que levou, em 1801, a rainha D. Maria I a criar a Guarda Real da Polícia e a decretar novamente a resolução da iluminação pública.
Em 1834 a administração da iluminação passou para o Município de Lisboa, estimando-se que naquela altura existissem 2328 lanternas a azeite. Era preciso mudar a estratégia.
No ano seguinte iniciaram-se as conversações para a utilização de gás na iluminação. O que só viria a acontecer em 1848. A proposta vencedora para a iluminação a gás pertenceu a Cláudio Adriano da Costa e ao belga José Detry. A inauguração aconteceu a 30 de julho de 1848, há 175 anos. “A população saiu toda para a rua e aglomerou-se nas praças e sítios principais. Deixou-se escurecer bem para depois ser maior o efeito e a surpresa. Tocaram bandas e filarmónicas, estalaram girândolas e foguetes, ressoaram os ‘vivas’, houve um grito geral de espanto e foi vibrante e uníssona a exclamação: – ‘Ah!’.” [Sousa Bastos, 1947].