Zona, erupção cutânea dolorosa, e covid. Qual a relação?

Na maioria dos casos, a infeção resolve-se sem complicações associadas

Estudo norte-americano revela que quem esteve infetado com o novo coronavírus, é maior de 50 anos, tem 15% mais riscos de desenvolver o Herpes Zoster, vulgarmente conhecido como Zona. É uma doença transmissível e viral, causada pelo mesmo vírus da varicela.

Um estudo retrospetivo norte-americano observou adultos com 50 ou mais anos, utilizou informação de duas grandes bases de dados, e fez a comparação entre pessoas que tiveram e que não tiveram covid-19, tendo em consideração vários fatores de risco para o herpes zoster, vulgarmente conhecido como zona, uma erupção cutânea dolorosa.

As principais conclusões revelam que indivíduos que contraíram covid-19 tinham mais 15% de probabilidade de desenvolver o herpes em análise, comparativamente com os doentes de controlo que nunca foram diagnosticados com covid-19. O risco de desenvolver zona foi considerado elevado durante os seis meses após o diagnóstico de covid-19. Por outro lado, os doentes que requereram hospitalização devido à covid-19 tinham 21% mais de probabilidade de vir a ter essa erupção cutânea.

Tudo indica, embora sejam necessários mais análises e investigação, que o risco aumenta quando há uma disrupção das células do sistema imunitário, permitindo a reativação do herpes. Pessoas vacinadas contra o herpes zoster ou a covid-19 foram excluídas desta análise. O estudo está publicado no “Open Forum Infectious Diseases” da Sociedade de Doenças Infecciosas da América.

A maioria das pessoas que desenvolve a doença sente dor aguda, muitas vezes descrita como sensação de queimadura

O herpes zoster, conhecido como Zona, é causado por uma reativação do vírus varicela zoster (VZV), o mesmo vírus que causa a varicela, que fica como que “adormecido” no corpo após a infeção primária inicial. Quase todos os adultos com mais de 50 anos têm este vírus latente no seu organismo. O declínio natural do sistema imunitário, relacionado com a idade, pode despertar o VZV, reativando-o e, desta forma, causar herpes zoster.

Tudo começa com uma dor intensa, dias depois aparecem manchas vermelhas que evoluem para bolhas e posteriormente para crostas, geralmente num dos lados do corpo ou no rosto. Sente-se calor, comichão, dormência ou formigueiro nas zonas afetadas, febre e calafrios, dor de cabeça, desconforto abdominal, hipersensibilidade cutânea.

Rui Costa, especialista em Medicina Geral e Familiar e membro do Grupo de Estudos de Doenças Respiratórias da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, alerta para a importância da prevenção da infeção por herpes zoster, sobretudo das pessoas acima dos 50 anos, através da vacinação. “Mais de 95% dos adultos tiveram varicela e estão assim em risco de ter herpes zoster. Após a infeção por varicela, o vírus varicela-zoster permanece latente no organismo e pode reativar a qualquer momento e originar um episódio. Estima-se que um em cada quatro adultos terá um episódio de herpes zoster durante a sua vida”, refere.

Pessoas com um sistema imunitário suprimido ou comprometido têm maior probabilidade de desenvolver um caso de Herpes Zoster

A principal complicação da infeção por este herpes é a nevralgia pós–herpética que surge em 20% a 50% dos doentes. Uma dor que afeta os nervos e a pele, que causa uma sensação constante de queimaduras no corpo, mesmo depois das lesões causadas pelo vírus do herpes terem desaparecido.

“Evidência recente sugere ainda um risco aumentado de acidente vascular cerebral, ou seja, AVC, nos meses seguintes a um episódio de herpes zoster. Este vírus é o único vírus humano que demonstrou capacidade de replicação nas artérias cerebrais e de provocar AVC”, revela o médico.

Há outras patologias em que há um risco aumentado desta infeção. Rui Costa adianta quais são: artrite reumatoide, síndrome do cólon irritável, asma, doença pulmonar obstrutiva Crónica, doença renal crónica, depressão e diabetes.

Há, em Portugal, reforça o médico, vacinas seguras e eficazes para a prevenção da infeção pelo herpes zoster e da nevralgia pós-herpética. Nunca é demais reforçar que a vacinação deve ser uma prioridade ao longo da vida, para proteger a saúde e o bem-estar das pessoas, em especial para as mais vulneráveis como os doentes crónicos e para quem tem mais de 65 anos”, sustenta. “A vacinação evita formas graves de doença infecciosa e salva vidas. Só quem faz a vacinação é que fica mais protegido e pode ter uma vida mais segura”, acrescenta.