Os mil e um trabalhos de casa antes do regresso às aulas

É uma das épocas do ano mais stressantes para os pais. Voltar à escola é sinónimo de ansiedade entre tudo o que há a preparar e decidir, desde comprar material escolar a inscrever os filhos em atividades extracurriculares. Mas há estratégias para um regresso mais tranquilo. Planeamento e organização são palavras de ordem. Agora, é só ir riscando as tarefas feitas da checklist.

Está na hora de dizer adeus às férias, comprar o material escolar que falta, preparar a mochila dos miúdos, fazer contas, organizar horários. O período do regresso às aulas pode ser um dos mais stressantes do ano para os pais. Aliás, segundo um estudo da Staples, um em cada três pais refere que é pior do que mudar de casa. O mesmo inquérito concluiu que 13% dos pais só organiza tudo depois de o ano letivo já ter arrancado, enquanto 16% se prepara com menos de uma semana de antecedência. Mas a organização é o segredo para evitar a ansiedade. Há tudo e mais alguma coisa a decidir e o planeamento pode bem ser a poção mágica. O calendário escolar já está definido, as aulas começam entre 13 e 16 de setembro. Até lá, é aproveitar o tempo para tentar planear ao milímetro. Sem pressão, haverá sempre semanas que vão correr mal quando a escola começar.

Anotar num papel e dividir tarefas
Escrever tudo o que há a fazer num papel é o primeiro passo. Isso e dividir tarefas, porque a preparação do ano letivo ainda recai muito sobre a mãe, segundo Magda Gomes Dias, autora de “Mum’s the boss” e fundadora da escola da Parentalidade Positiva. Depois, definir um dia e uma hora para tratar de cada coisa, sendo o mais específico possível. E cumprir. Caso contrário, vai-se empurrando para a frente e deixa-se tudo para a última hora. Mas antes de o fazer ter a certeza que a loja está aberta àquela hora ou procurar saber se é preciso documentação para inscrever o miúdo na natação e já a levar. Tudo para não se perder tempo desnecessário.

Arrumar o quarto e secretária
Organizar o quarto e a secretária é meio caminho andado para perceber o que ainda pode ser reutilizado ao nível de roupa e material escolar e o que é preciso comprar novo. Tudo o que estiver inutilizado, nomeadamente roupa que já não serve, pode ser doado ou vendido – do OLX à Vinted, não faltam opções. Mas, segundo Bárbara Ramos Dias, psicóloga que trabalha com adolescentes, os pais não devem organizar pelos filhos. A arrumação deve ser feita em conjunto para começar do zero neste ano letivo. Quarto arrumado, cabeça organizada.

Comprar material e manuais escolares
Vale a pena estar alerta e fazer as compras antecipadamente para aproveitar os descontos em livros e material escolar, que aparecem cada vez mais cedo. É muito importante verificar primeiro o que ainda se pode aproveitar do ano anterior – até porque muito material ainda estará certamente em boas condições, desde lápis a borrachas – para comprar só o necessário. E fazer uma lista antes de ir à loja. Os manuais escolares voltam a ser gratuitos este ano e convém não esquecer de fazer o registo na plataforma MEGA para ter acesso aos vouchers. As livrarias online são uma boa opção para quem quer poupar tempo e deslocações. No que toca à mochila, a ter que se investir numa, o ideal é optar por alças largas e acolchoadas para não sobrecarregar as costas. No caso dos mais pequenos, um trolley pode ser a melhor hipótese. Na medida do possível, encadernar e etiquetar, afiar lápis e organizar tudo com os miúdos antes do arranque do ano letivo.

Olhar para o armário: que roupa e calçado é preciso renovar?
As crianças crescem num ápice e tudo deixa de servir. É tempo de regressar ao guarda-fatos e verificar o que deixou de servir. Os saldos (que já estão no fim) são uma boa oportunidade para comprar roupa e calçado que está em falta – até num tamanho ligeiramente maior já a pensar no inverno – antes do ritmo escolar começar. Também é importante confirmar se é preciso comprar sapatilhas e um fato de treino para Educação Física ou equipamentos, sabrinas, sapatilhas para atividades extracurriculares. Fazendo isso já, evita-se o stress de ter que ir a correr ao final do dia ou aos fins de semana para as lojas. E, na hora do regresso, planear com os miúdos a roupa que vão usar no dia seguinte – além de deixar a mochila preparada -, envolvendo-os nisso, é uma estratégia para manhãs mais tranquilas.

Organizar o transporte
Organizar, desde já, as viagens de casa para a escola e da escola para casa é um ponto que não pode falhar na preparação do regresso às aulas. Se os transportes públicos são a resposta, comprar antecipadamente o passe. Em muitos concelhos, até já é gratuito para estudantes. Em alternativa, o que facilita a vida dos pais é usar o sistema de boleias, alternadamente, com outros pais que vivam perto ou cujos filhos frequentem as mesmas atividades. Isso permite aliviar o final de um dia, dando margem aos pais para irem ao ginásio, por exemplo. “Também precisamos de nos conceder tempo para nós”, alerta Magda Gomes Dias.

Salas de estudo e tempo organizado
Com a pressão que cai atualmente sobre as famílias e os conflitos que se geram ao final do dia para fazer trabalhos de casa, o recurso a salas de estudo é uma opção a ter em conta. E se essa for a decisão, começar logo no início do ano letivo é o indicado, para criar rotinas. A oferta abunda, por isso é preciso fazer uma busca antecipadamente, perceber quais as melhores opções, que “não são os que fazem as coisas pelos miúdos, mas os que ensinam a fazer, que ajudam a criar estratégias de estudo”, destaca Magda Gomes Dias. O filho aceitar ir é o primeiro ponto a considerar. Depois, para escolher o melhor, há dicas: procurar saber se os outros pais estão satisfeitos, informar-se sobre a formação dos orientadores, sobre se há apoio direcionado a cada aluno. E, claro, se é perto, se há transporte, se os horários são compatíveis e preços. Mas se um centro de estudos não é o caminho, ainda antes do início do ano, sugere a psicóloga Bárbara Ramos Dias, ensinar o filho a fazer planos de estudo, resumos e apontamentos é um caminho a tomar. E a organizar o tempo que dedica ao estudo, aos trabalhos de casa, às atividades extracurriculares, aos ecrãs (televisão, telemóvel, computador), às tarefas domésticas partilhadas, às brincadeiras, aos amigos e à família. Definir em conjunto esses tempos de acordo com o horário escolar é uma boa opção.

Atividades extracurriculares
Entre escolas de música, artes marciais, natação, dança, teatro, futebol, hoje não faltam alternativas de atividades extracurriculares. Para os pais que querem inscrever os filhos em alguma atividade, esta é a altura. Procurar saber os interesses dos filhos é ponto assente antes da inscrição. Tomada a decisão, é possível antecipar tudo o que aí vem e tratar já do que há a comprar, nomeadamente equipamentos, um saco, agilizar transporte, organizar horários familiares.

Lanches e jantares
O stress vai voltar a entrar na rotina, mas há algum que se pode poupar. Preparar a semana toda ao fim de semana, considera Magda Gomes Dias, pode ser um salva-vidas. E, além de se planear os lanches para a escola logo na hora de ir às compras (que convém que sejam saudáveis, mas que os miúdos gostem), há outro truque que pode ajudar as famílias na gestão do dia a dia. Chama-se batch cooking, ou seja, cozinhar por lotes. Consiste em planificar toda a ementa semanal de modo a cozinhar tudo num só dia (ao domingo, por exemplo). Assim ficam já preparados os jantares – e almoços se for caso disso – para todos os dias da semana. Isto permite preparar uma bolonhesa ao domingo para comer quarta-feira e no próprio dia só ter que cozer a massa. Ou deixar um peixe no frigorífico pronto a ir ao forno. Ou guardar lulas cozinhadas para aquecer e batatas já descascadas para fazer puré na hora. Poupa-se dinheiro com esta organização – porque não se compra comida desnecessária – e os finais de dia tornam-se mais tranquilos.

Ir ao médico
Os últimos dias de férias são perfeitos para marcar idas a consultas médicas de rotina e verificar se as vacinas estão em dia. Fazê-lo antes da azáfama dos dias corridos e de fins de semana preenchidos é uma boa solução, até porque permite já antecipar questões como a necessidade de comprar uns óculos. Ir ao pediatra, ao oftalmologista despistar eventuais problemas de visão (são forte fator para baixos resultados escolares se não forem detetados), ao dentista, ao otorrino, ao ortopedista para crianças que façam desporto.

Gerir a ansiedade do regresso
Voltar à escola é um momento de grande ansiedade para as crianças e adolescentes, porque vão rever os amigos e voltar a ter rotinas. Mas é possível também ajudá-los a gerir todo o mau stress, que dá “dores de cabeça, de barriga e musculares, vómitos, apatia, entre outros”, salienta a psicóloga Bárbara Ramos Dias. Desde beber água a fazer exercícios de respiração, comer alface, laranja, maracujá, brócolos, chocolate preto e cortar açúcares e refrigerantes, fazer atividade física, rir, brincar, dormir bem, incentivar pensamentos positivos. E não nos podemos esquecer que o stress desta fase também entra em grande na vida dos pais. E, nesse caso, uma boa estratégia nas primeiras semanas de aulas é acordar bem mais cedo. Para terem tempo de tomar banho, fazer o pequeno-almoço e estarem já arranjados antes de acordarem os filhos. “Assim não saímos a correr, stressados, zangados e com gritos”, aponta Magda Gomes Dias.

Pegar já nos livros?
Sim e não. Pegar nos livros deve ser um prazer, realça Magda Gomes Dias, “o de descobrir o que vão aprender no próximo ano”. Mas não deve ser obrigatório. Os pais podem tentar incentivar a folhear já os livros e os filhos podem entusiasmar-se com isso, ou não. E não há drama nisso. Mas atenção: é útil para matérias que envolvam memorizar, como a tabuada, fazer uma revisão. Até porque decorar implica sobretudo treino mental.