O meu objeto: o gorro de Dino D’Santiago

Dino D’Santiago tem concerto dia 2 de abril no Coliseu de Lisboa. “Badiu”, o seu mais recente álbum, é uma homenagem aos “badius”, povo resistente e resiliente da ilha de Santiago, Cabo Verde

O objeto escolhido pelo músico, compositor, cantor e ativista.

Um gorro oferecido ao meu filho que carrega o simbolismo da luta pela independência de Cabo Verde, eternizado por Amílcar Cabral, com o padrão do pano de terra, usado nos séculos XV e XVI como instrumento de troca, 100% algodão, feito por pessoas escravizadas que vinham da Guiné-Bissau. O pano inflacionou o seu valor no século XVI porque muitos africanos morriam nas encostas dos rochedos na tentativa de apanhar uma planta que tingia o pano. Um rei português proíbe essa apanha e o pano desvaloriza consideravelmente, passa a ser sintético com linhas trazidas do Senegal. O pano de terra tornou-se um símbolo nacional. Usado em batizados, casamentos, funerais. E é um símbolo que se eterniza no Batuque, um dos géneros mais antigos da música tradicional de Cabo Verde, censurado pela Igreja, censurado pela Inquisição, considerado música profana e de culto ao diabo por haver uma dança da mulher. Hoje, finalmente, desmistificando essa crueldade que aconteceu na História, o Batuque é um dos grandes símbolos da nossa cultura. E o pano de terra é elevado aos céus de punhos fechados.