Hélder Mota Filipe: o professor

Hélder Mota Filipe é bastonário da Ordem dos Farmacêuticos

É grande consumidor de biografias e de literatura policial. Coleciona canetas, herança paterna. Muito distraído, é frequente verem-no à procura do carro ou a cumprimentar pessoas que julga conhecer. O novo bastonário da Ordem dos Farmacêuticos gosta de mornas e de mousse de chocolate. E, muito, de ensinar.

Professor. “Acima de tudo, é assim que me sinto.” Depois de décadas com intervenção nos órgãos dirigentes e reguladores do setor do medicamento, o recém-eleito bastonário da Ordem dos Farmacêuticos (OF) tem na Academia a casa de que nunca se afasta. Reconhecido, foi eleito há uns anos o melhor docente da Faculdade de Farmácia de Lisboa. “Gosto muito de ensinar, de acompanhar o crescimento dos meus alunos e sei que eles também gostam das minhas aulas.” Djamila Reis é testemunha. Foi aluna de Hélder Mota Filipe em Farmacologia, corria 1992. “Sempre muito exigente e motivador, lembro-me bem da proximidade que mantinha connosco.” As aulas práticas, no laboratório, obrigando ao manuseamento de ratos e de murganhos, eram “pouco agradáveis”. “Mas, com paciência, sentido de humor discreto, trato fácil e firmeza, foi conseguindo a nossa adesão.” Um professor “justo” na hora da avaliação, diz a ex-aluna, que foi também orientada por Hélder Mota Filipe no mestrado.

Djamila Reis, nascida em Cabo Verde, salienta a ligação de Hélder Mota Filipe a África. Fundadora da Entidade Reguladora do Medicamento cabo-verdiana, foram muitos e necessários os contactos mantidos com o Infarmed – segunda casa de Hélder Mota Filipe ao longo de mais de 12 anos -, visando protocolos de colaboração. “Demonstrou sempre enorme disponibilidade.” Não é, portanto, um acaso ter sido escolhido presidente da Associação de Farmacêuticos dos Países de Língua Portuguesa. “Um orgulho”, assume o próprio. As reuniões juntam 93 farmacêuticos de sete países, “um ambiente de opiniões diversas”. Mas, mesmo assim, acrescenta Djamila Reis, “tem muito equilíbrio e diplomacia”.

África é uma paixão antiga do novo bastonário. “Sempre me fascinou, a tal ponto que passei a minha lua de mel, na Guiné-Bissau.” Foi a amiga Djamila quem lhe apresentou as mornas de Cesária Évora, prazer que revisita com frequência. Mornas e mousse de chocolate, um dos poucos vícios gastronómicos que lhe descobre o amigo de adolescência Rui Pinto. “Não lhe conheço outro vício da mesa. Por exemplo, não bebe álcool. Sempre coca-cola.” Também professor universitário, acompanhou Hélder Mota Filipe na candidatura à OF. Conheceram-se na Faculdade de Farmácia de Lisboa, tinham 17 anos. “Sempre muito generoso com os colegas, muito determinado, muito dedicado ao estudo e à participação associativa.” Tempo em que ambos dançavam – “e cantavam” Vangelis e Wham. Em que jogavam squash e desenhavam futuros. “Meteu na cabeça que iria fazer o posdoc numa universidade de onde tivesse saído um Nobel e não descansou enquanto não conseguiu entrar no William Harvey Research Institute. Nunca desiste.” Dois anos em Londres “muito bons”, mas a sentir saudades de Sintra, onde cresceu e aonde pertence, apesar de ter nascido em Mafra. “Não conseguiria viver noutro local.”

É grande consumidor de biografias e de literatura policial. Escreve com aparo. Coleciona canetas, herança paterna. “É o meu ponto mais fraco. O meu luxo.” Tem perto de uma centena, cerca de um terço Montblanc. Muito distraído, é frequente verem-no à procura do carro ou a cumprimentar pessoas que julga conhecer. A política interessa-o, os partidos não. Lida mal com “os votos de obediência” e por isso mesmo recusou convites da Opus Dei e da Maçonaria. Declara-se “otimista responsável” e “um falso irracional”. Se pudesse ter escolhido, “seria menos voluntarioso”. É realista: “Aos 56, sei que já não vou mudar”.

Franklim Marques foi seu opositor nas eleições para a OF. Divergências à parte – “Temos visões muito diferentes” -, reconhece no vencedor “um homem cordato”. Paula Almeida, que com ele integrou a direção do Infarmed, define o amigo: “Estudioso, com ideias muito claras e definidas sobre o que pretende. Dinâmico, atento e muito eficiente. nunca o vi cansado”. O bastonário Hélder Mota Filipe quer deixar duas marcas: “Uma Ordem mais útil e mais próxima”.

Hélder Dias Mota Filipe
Cargo:
bastonário da Ordem dos Farmacêuticos
Nascimento: 08/10/1965 (56 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Sobral da Abelheira, Mafra)