1992. O ano que viu nascer a “Notícias Magazine”

No arranque dos anos 1990, mais precisamente em 1992, nascia a “Notícias Magazine”. Mas esse ano testemunhou outros nascimentos, desde bandas que nos acompanham há 30 anos, carros icónicos, empresas que ainda marcam os dias, clássicos do cinema ou até países que conquistavam a independência. Se rebobinarmos no tempo, em Maastricht assinava-se o tratado que batizou a União Europeia, por cá Álvaro Siza Vieira vencia o Prémio Pritzker, as mulheres entravam no Exército, Herman José era a estrela da televisão nacional, o McDonald’s começava a invadir o país, o álbum “Nevermind” dos Nirvana batia recordes, na África do Sul votava-se o fim do apartheid, Ayrton Senna cumpria a sua última época na Fórmula 1 e a sida inundava os noticiários. Esta é uma viagem no tempo ao tanto que 1992 nos deu.

Clã

“A nossa vontade era fazer música durante muitos anos”

(Foto: João Octávio Peixoto)

Acabaram, no início do mês, de fechar a tour “Dá o que tem”, que quiseram, por vontade própria, fazer por clubes, voltar à atmosfera vibrante e elétrica dos clubes, à proximidade de um público que já os acompanha faz 30 anos. Três décadas de Clã é história que baste para escolherem fazer o que lhes dá na gana na hora de celebrar um número redondo. E “foi uma fortíssima injeção de adrenalina”, nas palavras de Manuela Azevedo. “A verdade e a intensidade destes concertos, cara a cara com o público, numa grande proximidade física (e não só) é uma experiência extraordinária – inspiradora, comovente e redentora.” Se voltássemos a 1992, quando a banda, feita de novatos e desconhecidos, se formava e tentava medir o pulso do público português ao pop rock, Manuela Azevedo já sonhava longa vida.

“Logo desde o início que a nossa vontade era fazermos música juntos durante muitos anos, conseguirmos ser como os The Rolling Stones ou os Xutos & Pontapés. Sabíamos que não era coisa fácil, mas era o que procurávamos, na nossa ingenuidade de principiantes.” O primeiro álbum, “LusoQUALQUERcoisa”, só viria a sair em 1996 ao fim de uma longa espera (o disco estava pronto há meses, faltava espaço editorial para ser lançado), na “grande emoção e excitação” de ouvirem as próprias canções tocadas nas rádios, de receberem tantas boas críticas, de artigos em jornais e revistas, de filmarem um videoclip. E nem o balde de água fria que se seguiu – tiveram poucos concertos para mostrar o disco – os travou. “Testou a nossa resistência e fortaleceu a vontade da banda de seguir em frente.” E ainda bem.

Colecionam canções que todos sabem de cor, somam palcos e concertos, contam 11 álbuns. Orgulho, diz a voz incontornável da banda, não é a palavra certa. “Sentimo-nos privilegiados.” E, ao fim de 30 anos, a música dos Clã continua a merecer atenção e a encontrar novos públicos.


Joana Ribeiro

Da Netflix às salas de cinema: uma atriz que explodiu aos 20 anos

(Foto: DR)

Nasceu em 1992 e aos 30 anos, feitos a 25 de março, Joana Ribeiro é uma atriz em ascensão, que já se afirma a nível internacional. Para quem sempre teve a ideia de ser atriz, que deixou o curso de Arquitetura por concluir e foi para Nova Iorque fazer um workshop de representação de um mês, as novelas não eram objetivo, mas acabaria por ser aí que faria escola, que afinaria a arte entre dezenas de cenas por dia e a ginástica artística a que isso obriga. “Nós não somos confrontados com cinema português, para mim ser atriz em Portugal era fazer novelas. E isso sempre foi algo que afastei um bocado da minha ideia.” Mas o pai incentivou-a a fazer o casting para a novela “Dancin’ days”, coprodução entre a SIC e a Globo, para se testar em audições. E haveria de ser escolhida.

“Encontrei uma diretora de atores que trabalhava em cinema no Brasil e foi aí que o meu chip mudou. Percebi que não é tanto o que tu fazes, mas mais o projeto em si.” Tinha 20 anos quando surgiu no pequeno ecrã, num fenómeno de fama que nunca mais voltou a experimentar. Poucos anos depois, fazia o filme “A uma hora incerta”, de Carlos Sabogal, a única experiência no grande ecrã até o cinema internacional vir ter consigo. “Não tive que ir procurar a minha sorte lá fora. É um sinal dos tempos, hoje é mais fácil um ator de Portugal fazer castings para projetos internacionais.” O filme “O homem que matou Dom Quixote”, de Terry Gilliam (ex-Monty Python), ia ser produzido em Portugal, estavam à procura de um ator português e foi aí que Joana entrou em cena. Nem com a mudança da produção para Espanha o realizador mudou de ideias, numa sorte que a levou a gravar cenas, em 2017 (o filme só foi lançado cá neste ano), ao lado de nomes como Adam Driver e Jonathan Pryce. “Era o meu segundo filme e de repente vi-me no plateau de uma produção destas e foi incrível. Não era por estar ao lado de atores norte-americanos muito famosos, era por serem muito bons. E nunca me fizeram sentir que estava num sítio que não me era devido, muito pelo contrário.”
Não parou aí, ainda fez parte da primeira série portuguesa da Netflix, “Glória”, lançada em 2021. Mas não se encosta à sombra de um sucesso anunciado. “Sei que é tudo muito rápido e há sempre alguém melhor do que nós.”


Vodafone

Desde os primórdios do telemóvel

Era Telecel o nome e nascia em 1992 num autêntico espírito de start-up, no frenesim do desconhecido, que foi “da montagem da rede GSM em tempo recorde, ao lançamento do serviço comercial e à implementação de estruturas e tecnologia a partir do zero”. Luísa Pestana, administradora da Vodafone Portugal, viveu essa época dourada dos primórdios de uma operadora que dava os primeiros passos. “Ter um telemóvel, há 30 anos, era um símbolo de status social. Recordo-me de várias histórias caricatas, como o caso de um cliente que estava sempre a deitar fora as baterias do telemóvel, porque desconhecia que era possível recarregá-las”, conta.

A verdade é que a empresa nascia numa altura em que nunca se perspetivou que “a base de clientes e o apetite para este tipo de serviço viesse a ser tão grande, nem se antevia o impacto que as redes móveis vieram a ter nas décadas seguintes”. Mas a Vodafone escreveu linhas que entram na história. Foi a primeira operadora a ter um serviço de apoio em permanência (24/7), introduziu tarifários desenhados para o perfil de cada cliente (planos pré-pagos, outros dirigidos a crianças e adolescentes, a jovens, a profissionais), lançou o primeiro cartão SIM pré-ativado do mercado, conseguiu fidelizar clientes durante décadas. A nível internacional, um marco: o primeiro SMS da história foi enviado pela operadora Vodafone precisamente em 1992, longe de se imaginar o impacto que as mensagens escritas viriam a ter.

A empresa cresceu e o país cresceu com ela. E nunca parou de inovar. Estendeu os tentáculos ao serviço de televisão, liderou “na disponibilização da tecnologia 3G e na comercialização de serviços 4G em Portugal”. Hoje, chega a 4,1 milhões de lares e empresas com a rede de fibra e a mais de 4,5 milhões com a rede móvel.


Instinto Fatal

O famoso cruzar de pernas eternizado em Hollywood

Vestiu-se de polémicas e de controvérsia, mas tornou-se num dos filmes de maior sucesso financeiro do início dos anos 1990, arrecadando mais de 300 milhões de euros em todo o Mundo. “Instinto Fatal” foi lançado em 1992 e fez-se um ícone que projetou Sharon Stone, protagonista da longa-metragem ao lado de Michael Douglas, para o estrelato. E a célebre cena do interrogatório na esquadra, o mais famoso cruzar de pernas (sem roupa interior) da história do cinema, não é alheia a isso. Chegou a gerar polémica em Hollywood com Stone a alegar, numa entrevista em 2006 e também na recente autobiografia, que a cena em que a sua vulva ficou exposta foi filmada sem o consentimento dela. A garantia do realizador, conta, seria a de que não se ia ver nada na versão final. Mas Paul Verhoeven sempre negou e deu uma versão diferente da história.

A verdade é que o filme de suspense erótico neo-noir, que segue a história de um detetive de polícia (Douglas) que investiga um homicídio brutal de um astro do rock e que se envolve num relacionamento tórrido e intenso com a principal suspeita (Stone), uma escritora enigmática, foi muito mais do que isso. E há 30 anos que a obra-prima tem sido reconhecida pelas descrições inovadoras de sexualidade no grande ecrã. Em Portugal, quando estreou nos cinemas em 1993 (depois na RTP, em 1995), foi agitador de mentalidades.


Renault Twingo

O carro para namorar que atravessa gerações

Surgiu pela primeira vez no Salão Automóvel de Paris, em 1992, e desde então que não mais passou despercebido, de tão revolucionário no design numa caixa de olhos de sapo, na irreverência das cores (foi lançado em quatro inicialmente: azul-marinho, vermelho-coral, verde-coentro, amarelo indiano) e no tamanho compacto que parecia uma Renault Espace de bolso.

A ideia da Renault era simples: reencarnar o espírito prático da 4L e posicionar o novo modelo na gama abaixo do Renault 5 e do Clio. Certo é que, após três décadas daquela aparição, o Renault Twingo pode entrar diretamente na categoria de clássico dos tempos modernos, que marcou uma geração e continua a merecer novas versões, incluindo uma elétrica. Quando chegou a Portugal, em 1993, Alcino Barros rendeu-se, comprou-o em amarelo indiano, carro que ainda hoje mantém. “Era muito diferente de tudo. É pequeno, mas com um espaço interior muito generoso, que fazia inveja e surpreendia.” A paixão é tal que criou o Twingo Automóvel Clube, que tem despertado interesse pelo Brasil ou por França.

Da fama de carro para namorar, o Twingo marcou diferença também aí: “Porque dá para formar uma cama. Tira-se o encosto de cabeça e os bancos podem ser completamente rebatidos ao nível do banco traseiro. As novas versões até já traziam teto de abrir para ver as estrelas”. E do primeiro modelo de um carro que queria espelhar alegria, até pelas cores de lançamento, percebe-se que o botão dos quatro piscas sobre o tablier seja uma bola vermelha em forma de nariz de palhaço. Nisso, até o nome é feliz, numa junção de três estilos de dança: twist, swing e tango.


Croácia

Trinta anos de independência

Foi preciso uma longa história de luta e resistência para a 15 de janeiro de 1992 a República da Croácia ter sido reconhecida pela Comunidade Europeia, incluindo Portugal, e concretizar a aspiração antiga do povo para que se tornasse uma nação europeia livre, soberana e democrática. Uma data, que de tão perto parecer, está cravada na memória de todos os croatas. Mas o caminho foi duro. A queda do Muro de Berlim viria a desencadear as primeiras eleições livres na Croácia, em 1990, com a minoria nacional sérvia a tentar combatê-lo. Um referendo em 1991 mostrou que a grande maioria dos cidadãos queria continuar na senda da restauração da soberania do país, e isso levou a uma decisão histórica do Parlamento croata que declarou a independência do país.

A Europa Ocidental demorou a reagir, o que motivou uma agressão da Sérvia, Montenegro e do Exército Popular Jugoslavo, numa guerra brutal. Foi aí que o apoio começou a emergir e os primeiros países reconheciam a Croácia, que resistiu numa luta heroica. Desde então, tornou-se membro da NATO e da União Europeia. É um dos poucos países europeus em que os membros das minorias étnicas têm os próprios representantes no Parlamento e os crentes de várias religiões têm folga para os principais feriados religiosos. E o país que deu a gravata ao Mundo ou a identificação por impressão digital que desbloqueia smartphones, de mar azul e mil ilhas, de cidades antigas como Dubrovnik, atrai cada vez mais visitantes.


Disneyland Paris

O sonho europeu da The Walt Disney Company

Depois do sucesso do Walt Disney World na Flórida, o burburinho de que haveria planos para construir um parque temático semelhante na Europa disparou. E a abertura da Tokyo Disneyland, em 1983, no Japão, que foi sucesso instantâneo, seria o catalisador perfeito para o que viria depois. Os líderes da divisão de parques temáticos da The Walt Disney Company tinham mais de mil locais europeus possíveis, que ficaram reduzidos a quatro: dois em França e dois em Espanha, com os dois países a perceberem as vantagens e a oferecerem acordos financeiros à Disney. O final desta história todos sabemos: a Euro Disney Resort, como se chamava originalmente, abriu portas em abril de 1992 na cidade de Marne-la-Vallée, sobretudo pela sua proximidade a Paris e localização central na Europa ocidental.

Estimava-se que estava a até quatro horas de carro para 68 milhões de pessoas e duas de voo para mais de 300 milhões. As projeções confirmaram-se, é uma das atrações mais visitadas em toda a Europa. O resort tem dois parques temáticos (além do primeiro, Disneyland Park, em 2002 abriu o Walt Disney Studios), hotéis, um complexo de compras, alimentação e entretenimento. E, é sabido, a magia das personagens Disney, de um castelo iluminado, dos espetáculos, de montanhas-russas e de um autêntico mundo encantado rende milhões de visitantes todos os anos.