Cancro do ovário. Sem dor, sem sinal, sem hemorragia

Um tumor do ovário aparece sem ruído, sem alarme, sem sinais

É uma doença grave que se manifesta sobretudo em mulheres com mais de 50 anos e em situações de pós-menopausa. Em Portugal, há quase 600 novos casos por ano. Até 2035, a incidência mundial prevê um aumento de 55% e que a mortalidade suba 67%.

O cancro do ovário é o sétimo tipo de cancro mais comum entre as mulheres, a quinta causa de morte por doença oncológica no sexo feminino, o cancro ginecológico com maior taxa de mortalidade. No nosso país, não há um registo de cancro do ovário, todavia, avança-se com uma estimativa de cerca de 560 novos casos em 2020. Oito em dez casos são descobertos numa fase avançada, muitas vezes quando apresentam metástases para outros órgãos. É um tumor e é considerada uma doença rara e sem recomendação de rastreio.

Mónica Nave, médica oncologista, especialista em tumores ginecológicos e cancro da mama, confirma que se trata de uma doença discreta, pouco exuberante em sintomas. “É um cancro silencioso, é verdade.” “E não há nenhum exame de rastreio com base populacional”, acrescenta. Seja rastreio com exames de imagens, seja rastreio com indicadores tumorais. Aconselha-se, portanto, disciplina e uma consulta de rotina com periodicidade anual para perceber se está tudo bem. Ou não.

Todos os anos, no Mundo, cerca de 314 mil mulheres são diagnosticadas com cancro do ovário, perto de 207 mil morrem

Um tumor do ovário aparece sem ruído, sem alarme, sem sinais. Não há dor e não há hemorragia. Muitas vezes, só quando cresce e se espalha para outros órgãos ao seu redor é que é detetado. “A mulher pode estar atenta a sinais que lhe dizem que o corpo não está bem”, adianta Mónica Nave. Há alguns. “O aumento do volume da barriga.” Aquele desconforto constante, o inchaço, a sensação de enfartamento, a flatulência. Situações que não passam e que não são consequência do que se comeu ou dos excessos culinários.

Mulheres na pós-menopausa e com mais de 50 anos são, maioritariamente, as mais afetadas com este tumor. Mónica Nave lembra que a história familiar também tem o seu peso. “Um cancro da mama em idade jovem na família, um cancro de ovário da mãe, de uma tia.” “A grande maioria das mulheres que têm cancro do ovário devia fazer um estudo genético do tumor e do sangue periférico”, sublinha.

Uma em cada 78 mulheres pode vir a desenvolver cancro do ovário durante a vida

A ecografia ginecológica permite ver o que se passa nos ovários, se é detetada uma massa, faz-se uma TAC ou uma ressonância magnética. “Se há suspeita de um cancro do ovário deve recorrer-se a uma instituição com uma equipa multidisciplinar, uma equipa treinada. É preciso uma ‘expertise’ técnica e profissional na abordagem destes doentes. Isso é fundamental.” “E quanto mais célere o diagnóstico, melhor. Mais vale pecar por excesso”, acrescenta Mónica Nave.

Confirmado o diagnóstico, há que tomar decisões consoante a situação e sua gravidade. Poderá ser uma cirurgia de barriga aberta para retirar os ovários, o útero, toda a doença. Poderá não ser necessário uma operação, avançando-se para a quimioterapia de forma a reduzir a doença na cavidade abdominal. “Neste caso, reavalia-se a situação, se houver um avanço, passa-se para a cirurgia.”

De acordo com evidência clínica, 85% das mulheres com cancro do ovário terão uma recaída após a cirurgia e quimioterapia com platina. “Na maior parte dos casos, porque são diagnosticados numa fase tardia, tem muita propensão a voltar.” É, portanto, uma doença grave, com alta taxa de recidiva, mas que pode ser controlada e tornar-se uma situação crónica. No caso deste cancro, o acesso a um tratamento adequado significa mais anos de vida e com mais qualidade. E todo o cuidado é pouco.