Alfarroba.Tex: têxtil 100% natural, 100% português

Mónica Gonçalves é a fundadora da marca Alfarroba.Tex

Mónica Gonçalves é designer e criou um couro suave e maleável para aplicar na moda, na decoração, na arquitetura. O fruto é usado na totalidade e a produção é artesanal.

A ideia surgiu no verão passado e o couro natural de alfarroba chegou ao mercado há poucas semanas, depois de um processo de tentativa e erro até à fórmula perfeita. Mónica Gonçalves, designer de moda, tem caminho feito na investigação e concretização de novos materiais, sustentáveis e amigos do ambiente, desenvolveu o fio de cortiça e também produz couro de casca de banana para uma marca italiana. Desta vez, recuou às origens, ao cheiro da alfarroba da infância, às raízes do pai algarvio e da avó Florência que chegou a ter uma produção pujante de laranjas e alfarrobas no Algarve. Alfarroba.Tex acaba de nascer e já vende para todo o país. A primeira encomenda internacional, para Londres (Reino Unido), surgiu há uma semana.

“É um material muito português. Portugal é o produtor número um de alfarroba no Mundo”, diz. O fruto vem do Algarve, Mónica Gonçalves trata-o em casa, põe as mãos na pasta, a produção é artesanal. Nada desperdiça, tudo aproveita. “A alfarroba é utilizada na íntegra.” Transforma uma matéria rija num têxtil elástico, suave, maleável, 100% natural. Com vários recipientes, panela de pressão incluída, o fruto é triturado, o amido confere resistência, a pasta é espalhada para secar à temperatura ambiente durante oito horas no terraço de casa na Póvoa de Santa Iria. “Depois é protegido com pó de talco e está pronto a ser vendido.”

O couro de alfarroba de Mónica Gonçalves tem várias aplicações. Na moda, em malas, sapatos, casacos, gabardinas. Na decoração, em sofás, candeeiros, bases de pratos, entre outros artigos. Na construção, como isolante. “Tem uma excelente acústica, tem um bom isolamento”, garante. Uma peça de 50 por 70 centímetros custa 20 euros, mais portes de envio.

O processo teve os seus desafios. Garantir a solidez da cor, que o couro não desbotasse, tornar o fruto menos pegajoso depois de fervido, não perder o cheiro do material. “O que me move é a adrenalina do risco. O projeto do fio de cortiça foi muito difícil, foram seis anos até conseguir, e nunca desisti. No final, a sensação é extraordinária.” O processo está otimizado, a produção é caseira, mas facilmente ganha escala industrial. “Acompanho a evolução do negócio à medida que vai crescendo.”

Mónica Gonçalves sonha que o seu couro de alfarroba vá longe, as expectativas são altas. “Poderá ser muito utópico, muito ambicioso, mas gostava que a pele de alfarroba se tornasse um material tão associado a Portugal como a pele de cortiça, que tivesse aquele cunho assumidamente português.”