Para grandes males, pequenas gotas de óleos essenciais

É a experiência que diz que o olfato pode ser um sentido mágico. Um determinado cheiro tem a capacidade de, por exemplo, transportar o tempo até à infância. Também pode ser um interruptor para evocar momentos bonitos, lembrar determinadas pessoas e até coisas que enjoam ou arreliam.

Assim se entende melhor o trabalho da aromaterapia, a ciência que utiliza os óleos essenciais para trazer equilíbrio ao corpo e à mente. Quando os usamos, estimulamos os recetores olfativos, enviando sinais para o sistema límbico, a zona cerebral responsável pelas emoções e memórias. Se os aromas forem agradáveis, é natural que despertem boas recordações, e ao fazê-lo melhoram o estado de espírito.

Mas a forma como interagem com o corpo é mais vasta, podendo mesmo acabar com a ansiedade, reduzir a dor física, melhorar a qualidade do sono, aliviar o descongestionamento nasal e torácico, reduzir as inflamações. E para grandes males bastam pequenas gotas. Que até podem ser fabricadas em casa, com um alambique, quilos de matéria-prima e muita paciência. Por isso é que os óleos essenciais se encontram no mercado em frascos tão pequenos e a preços tão elevados. O que não dissuade quem conhece o seu poder ou quem está determinado em comprová-lo.

Ultimamente, esta arte tão antiga tem despertado um interesse crescente entre quem busca terapias naturais. Mas já há muito que é aproveitada em áreas diversas, como a cosmética, para perfumes e sabonetes, pastelaria (para os aromatizantes) ou farmacêutica (em produtos dentários).

Cristiana Cardoso, terapeuta e alquimista no hotel Six Senses Douro Valley, em Lamego, descreve os óleos essenciais como compostos voláteis e poderosos, extraídos de várias partes das plantas, como as folhas, as flores, as cascas, os frutos, etc. “Estamos a falar da cura através das plantas e do que a natureza tem para nos oferecer. A aromaterapia traz benefícios tanto a nível físico como emocional. A partir do momento que temos um objetivo, podemos usar os óleos essenciais, isolados ou combinados, a nosso favor.” Para, por exemplo, aromatizar e desinfetar o ambiente. Para banhos de imersão ou compressas que visam tratar determinadas áreas que precisem de relaxamento, de ação anti-infamatória ou antiespásmica. Podemos utilizar os óleos essenciais ainda para hidratar, massajar ou inalar.

“Para potenciar o sono basta aplicar três ou quatro gotas de gerânio na almofada.” O óleo essencial de vetiver “ajuda a balançar o sistema hormonal, já que quando o inalamos de forma profunda sentimo-nos mais equilibrados e focados”. A alfazema, a canela, o tomilho, o gerânio, o limão e a árvore de chá (antifúngica, antissética e antibacteriana) “atuam no sistema imunitário”. A lavanda “é analgésica e relaxante, boa para estes dias em que andamos mais ansiosos”.

As gotas podem ser aplicadas no “dia a dia”, sejam difusores, toalhas, ambientadores do carro, roupeiros, águas-de-colónia, lençóis ou no banho. Neste último caso, Cristiana recorda que “é importante adicioná-las com uma gordura, um óleo transportador ou leite (como leite em pó) que ajudará a dispersá-las e evitará que flutuem. A concentração à superfície poderá provocar irritação cutânea”.

A combinação das essências também traz benefícios. Para o sono: “Lavanda, camomila e gerânio”. Para mais energia: “Limão, bergamota e hortelã-pimenta”. Para equilibrar o sistema hormonal: “Gerânio e lavanda”. Para a concentração: “Alecrim e hortelã-pimenta”. A especialista refere mesmo que, “se quisermos criar um ambiente mais propício ao romance, podemos juntar jasmim, rosa e flor de laranjeira”.

Cristiana garante que “quem experimenta vê e sente os benefícios de forma mais evidente do que quando usa produtos químicos. Talvez seja por isso que há cada vez mais interessados”. A engenheira de reabilitação e acessibilidades humanas Inês Matias, 29 anos, é uma dessas pessoas. “Há um ano e meio comecei a ter crises de ansiedade e recorria a psiquiatras. A solução era sempre a mesma: receitavam-me antidepressivos. Como senti que não me ajudavam mudei de estratégia.” Foi assim que chegou à aromaterapia. Com os óleos essenciais matou dois problemas: a ansiedade e as recorrentes enxaquecas. Para resolver as crises da primeira intercala o gerânio e o vetiver. Usa algumas gotas no banho, nos difusores ou no pulso. No que respeita às enxaquecas, opta por alecrim ou hortelã-pimenta. “Foi uma melhoria na minha qualidade de vida.”

Para quem decida experimentar, comprando os produtos em lojas terá apenas de ter atenção à sua composição. A alquimista Cristiana Cardoso diz que “um dos critérios é saber se o óleo é orgânico ou não”. Isto é, se em todas as fases de produção são livres de químicos, do cultivo à extração e preparação. Se tiverem compostos sintéticos, ou outros elementos, a sua pureza será alterada “e os benefícios terapêuticos não serão certamente os mesmos”.

Desinfetante caseiro

Esta é uma receita para manter a casa livre de bactérias e também para desinfetar as mãos.

Ingredientes:
• 27 ml de álcool de 70 graus
• 21 gotas de óleo essencial de árvore de chá
• 21 gotas de óleo essencial de limão
• 21 gotas de óleo essencial de eucalipto

Elaboração:
Coloque todos os ingredientes num frasco spray de 30 ml. Agite bem antes de cada utilização, para que os componentes se misturem. Depois, é só pulverizar.