Estas substâncias mandam mensagens ao cérebro e estimulam ou inibem a ingestão alimentar. É um sistema complexo. Saiba o que acontece e quais as implicações.
O sistema digestivo e o tecido adiposo enviam sinais que atuam no sistema nervoso central e eis que aquilo que comemos e o gasto de energia são controlados pelos neurónios do cérebro. É um processo complexo, que acontece dentro de nós, e que merece muita reflexão quando o prato é colocado em cima da mesa. E há hormonas à mistura.
As hormonas do apetite e da saciedade existem e, conforme as situações, podem desequilibrar a balança porque dão instruções ao cérebro para comer mais ou menos. E, como sabemos, a obesidade é um problema.
Entre as hormonas que regulam o apetite, há duas que se destacam, a leptina e a grelina. A primeira, segundo Eva Lau, endocrinologista do Centro Hospitalar do Porto e do Hospital CUF, também no Porto, «é produzida principalmente pelas células gordas do corpo humano e diminui a sensação de fome».
A grelina é produzida no estômago e estimula o apetite. «Após as refeições as suas concentrações diminuem, informando o cérebro da plenitude da refeição e travando o apetite
No início, a descoberta foi considerada promissora para o tratamento da obesidade. «No entanto, verificou-se que as suas concentrações estão aumentadas em indivíduos obesos, e que estes apresentam resistência à sua ação, invalidando a utilidade da Leptina como tratamento», refere a especialista.
Por sua vez, a grelina é produzida no estômago e estimula o apetite. «Após as refeições as suas concentrações diminuem, informando o cérebro da plenitude da refeição e travando o apetite. Alguns estudos demonstram, no entanto, que em indivíduos obesos não se verifica esta diminuição após a ingestão alimentar, o que pode contribuir para um aumento do consumo de comida», adianta Eva Lau.
Obesidade não é apenas um problema estético
«A regulação do apetite envolve fatores biológicos e sociais, ao que se acresce uma complexidade dos centros reguladores, localizados ao nível do sistema nervoso central. A ingestão alimentar é, por um lado, regulada de forma automática por mecanismos centrados no cérebro que, após receberem informações do resto do corpo, estimulam ou inibem a ingestão, de forma a manter um equilíbrio», sublinha Eva Lau.
Há também as motivações psicológicas associadas à ingestão alimentar que pode ser condicionada por experiências prévias, boas ou más, e fatores emocionais. «Atualmente somos inundados por alimentos hipercalóricos, com cores e formas apelativas, que despertam os nossos sentidos e que, desta forma, podem levar a uma ingestão alimentar superior às necessidades», refere a endocrinologista.
Qual a relação entre hormonas e obesidade? «A desregulação hormonal é um mecanismo fundamental na obesidade. Além disso, foram encontradas alterações de genes em indivíduos obesos, que modificam a expressão destas hormonas, podendo resultar em ganho de peso excessivo.»
As pessoas obesas têm hormonas do apetite desreguladas. O corpo resiste às hormonas, o apetite aumenta, e não há uma saciedade total com a refeição
Ou seja, pessoas obesas têm hormonas do apetite desreguladas. O corpo resiste às hormonas, o apetite aumenta, e não há uma saciedade total com a refeição. E, portanto, come-se mais. «Mas é importante reforçar que a existência de uma vulnerabilidade genética apenas propicia o desenvolvimento de obesidade se houver um ambiente de abundância energética e sedentarismo associados», diz Eva Lau.
A obesidade é um problema de saúde que está a aumentar e que significa riscos acrescidos de doenças como diabetes, hipertensão arterial, problemas cardiovasculares, síndrome depressivo, e alguns tipos de cancro. «É fundamental desmistificar que a obesidade é apenas um problema estético e compreender que é uma das doenças mais relevantes na nossa sociedade e com impacte significativo na saúde pública», realça a endocrinologista.