“Um rosto humano num mundo de papéis”, diz Américo Aguiar, bispo auxiliar de Lisboa. Conheceram-se quando Cristina Gatões comandava o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) do Norte, era ele vigário geral da diocese do Porto, apreensivo com migrantes e sacerdotes estrangeiros que precisavam de vistos. Do relacionamento, ficou a impressão “de estar perante alguém capaz de perceber que por detrás de cada pedido há uma pessoa, um projeto, um futuro”. E a amizade. “Foi mesmo amor à primeira vista”, corrige. Se Cristina é crente ou católica, não sabe, nunca lhe perguntou. Mas, garante, é mulher de palavra. “No primeiro encontro, uma conversa longa, prometeu-me uns pastéis de Tentúgal para a reunião seguinte. Pois olhe, lá os tinha, à minha espera.”
“O lado humanista” por oposição “à linha mais policial” é também realçado por Constança Urbano de Sousa. Cristina Gatões deve à ex-ministra da Administração Interna a subida a diretora-adjunta nacional do SEF. Igualmente coimbrã, Urbano de Sousa justifica a escolha. “Trata-se de uma jurista muito competente na sua área, uma mulher com longa experiência profissional e com sentido de responsabilidade e de Estado.” Prova? Dá como exemplo a imediata demissão dos diretores do SEF Lisboa, na sequência da recente morte de um cidadão ucraniano que se encontrava sob custódia daquele serviço.
Nem tudo, porém, são elogios. Determinada e ambiciosa, há quem lhe chame “Gatões das sete vidas”, tal a capacidade e resistência à polémica. Em 2018, a revista “Visão” noticiava que, quando responsável pela delegação do SEF em Coimbra, cometera grave quebra de segurança, ao assinar um cartão de residência com todos os campos em branco. No entanto, quer esse processo quer um outro, por suspeitas de utilização indevida do carro de serviço, acabariam arquivados pelo Ministério Público.
Resistiu ainda quando, já diretora-adjunta, veio a público a utilização de carro e motorista de serviço para as deslocações diárias Lisboa-Coimbra (onde então residia) e Coimbra-Lisboa, pagando a direção nacional hotel, ajudas de custo e horas extraordinárias ao motorista. A situação, ainda que tivesse a concordância do MAI de Eduardo Cabrita, dividiu os sindicatos.
Sindicatos hoje em silêncio. Acácio Pereira, presidente do Sindicato da Carreira de Inspeção e Fiscalização, o mais significativo, não presta declarações. Renato Mendonça, do Sindicato dos Inspetores de Investigação, Fiscalização e Fronteiras, representante de um dos três inspetores detidos por suspeitas de homicídio do cidadão ucraniano, está em silêncio. Artur Girão, presidente do Sindicato dos Trabalhadores do SEF, limita o depoimento a uma linha: “(Cristina Gatões) é capaz de ouvir e de dialogar e isso é um bom sinal”. Da antecessora, Manuela Niza, que há dois anos tecia elogios – “é uma mulher experiente e competente” -, nem uma palavra. A pergunta “está arrependida do que disse na altura?” ficou sem resposta.
A diretora nacional confirma a determinação e diz de onde vem. “Dos meus pais.” Acrescenta: “Sou positiva e emotiva”. A cafeína é hábito de que não prescinde. “Adoro cozinhar, ler livros e jornais, política, adoro o meu trabalho.” Do tempo de quarentena, gosta de não ter de viajar.
Na lista das irritações, constam “a burocracia, o machismo, o populismo, e o ‘achismo’”. Da infância e da adolescência, guarda “os amigos que ficaram para sempre”. Licenciada em Direito pela Universidade de Coimbra, Cristina Gatões vem da carreira de investigação e fiscalização do SEF. É diretora nacional desde 1 de janeiro de 2019.
Cristina Isabel Gatões Batista
Cargo: Diretora Nacional do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras
Nascimento: 04/07/1966 (53 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Coimbra)