As mulheres e os homens que Joe Biden quer levar para a Casa Branca

Garantido o triunfo nas eleições presidenciais americanas - mesmo que Trump continue apostado em cantar vitória e em contestar os resultados até às últimas consequências -, Biden tem agora em mãos a exigente missão de escolher quem vai integrar a próxima Administração. Entre hipóteses plausíveis e certezas por oficializar, a “Notícias Magazine” dá-lhe a conhecer dez dos nomes que surgem na linha da frente. Cinco homens, cinco mulheres.

Antes de tomar posse como presidente dos EUA, a 20 de janeiro, Joe Biden tem em mãos a difícil tarefa de escolher o elenco que o acompanhará e a Kamala Harris nos próximos quatro anos. Uma missão tão mais ardilosa quanto maiores são as expectativas que o Mundo deposita na próxima Administração americana – sobretudo depois de quatro conturbados anos com Donald Trump. Biden, que já anunciou a nomeação do seu conselheiro Ron Klain para chefe de gabinete, tem prometido unir o país e é grande a curiosidade para perceber se essa promessa vai ser posta em prática na composição do Executivo. Espera-se que o novo governo possa encontrar um ponto de equilíbrio entre moderados e progressistas e há até a expectativa de que sejam incluídos nomes do Partido Republicano. É ainda aguardado um número recorde de mulheres para os cargos-chave da Administração. Mas, como reza a gíria futebolística, prognósticos…

(Foto: Gage Skidmore)

Susan Rice

Capital de experiência acumulado

(Foto: New America)

Aos 55 anos, a democrata natural de Washington DC é a favorita a ocupar o cargo de secretária de Estado, uma das mais influentes posições no Governo americano. A “cotação” deve-a em grande medida à bagagem de largos anos no Departamento de Estado. Rice foi secretária de Estado adjunta para os assuntos africanos durante a presidência de Bill Clinton, embaixadora dos EUA nas Nações Unidas no primeiro mandato de Barack Obama e conselheira de Segurança Nacional no segundo. Trunfos que se esperam decisivos, ainda mais porque a pandemia de covid-19 e o descalabro económico que veio com ela exigem que quem assuma o cargo tenha já um capital de experiência acumulado. A confirmar-se, Rice, assumidamente próxima de Obama e Biden, será a quarta mulher no cargo, a segunda negra (depois de Condoleezza Rice). Mas a contestação dos republicanos – que ainda hoje não lhe perdoam a forma como geriu o caso do assassinato de Christopher Stevens, embaixador americano em Benghazi, na Líbia, em 2012 – pode complicar-lhe a nomeação.

Antony Blinken

O confidente de Biden

(Foto: DR)

É um nome praticamente certo no elenco que acompanhará Joe Biden ao longo dos próximos quatro anos. O facto de ser confidente de longa data do novo presidente dos EUA, aliado ao estatuto de “diplomata veterano”, parecem alinhar-se na perfeição para garantir a Antony Blinken um lugar junto do líder. Com décadas de experiência no Capitólio, Blinken foi conselheiro adjunto de Segurança Nacional e secretário de Estado adjunto na presidência de Barack Obama e surge agora como um nome talhado para assumir o papel de conselheiro para a Segurança Nacional de Joe Biden (cargo que de resto já ocupou quando Biden era o “vice” de Obama). Há também quem o coloque na rota para secretário de Estado, mas este segundo cenário desenha-se bem menos provável. Blinken, de 58 anos, é descrito pelo círculo mais próximo como o “diplomata dos diplomatas”, alguém com um pendor altamente deliberativo e um trato particularmente cuidado, além de altamente familiarizado com os meandros da política externa.

Michèle Flournoy

E o Pentágono muda de género

(Foto: Chris Kleponis/AFP)

Quando se perspetiva a futura Administração Biden, Michèle Flournoy, 59 anos, nascida em Los Angeles, é um daqueles nomes que não pode faltar. O facto de ter sido subsecretária adjunta da Defesa para a Estratégia com Clinton e subsecretária da Defesa para a Política com Obama colocam-na no topo da lista para ocupar o cargo de secretária da Defesa – uma espécie de ministra da Defesa, se olharmos para o cargo à luz da nossa realidade. Mentora do think tank Center for a New American Security, criado em 2007, Flournoy é há anos uma voz ativa e respeitada na política – ainda neste verão foi coautora de um projeto que enfatiza a necessidade de a Defesa americana acelerar esforços para desenvolver novas tecnologias que lhe permitam superar a China. Caso os prognósticos se confirmem, Flournoy será a primeira mulher na história dos EUA a liderar o Pentágono.

Lael Brainard

O consenso é quem mais ordena

(Foto: Eric Baradat/AFP)

Também ela pode fazer história, se se confirmarem as apostas que a colocam como favorita para assumir o cargo de secretária do Tesouro. Lael Brainard, economista de 58 anos nascida na Alemanha, atualmente membro do Conselho de Governadores da Reserva Federal, representaria igualmente uma estreia num cargo que nunca antes conheceu mulheres – e que será com certeza determinante numa fase em que os estragos económicos resultantes da covid-19 exigem rápidos e eficazes estímulos à economia. A senadora progressista Elizabeth Warren seria, à partida, um nome forte para o lugar, mas a possível continuidade da maioria republicana do Senado parece fazer antever um braço de ferro que Biden dificilmente quererá comprar. Segundo a revista americana “Politico”, nomes como Roger Ferguson, ex-vice-presidente do Reserva Federal, ou a investidora Mellody Hobson também surgem no horizonte, mas, face aos seus laços corporativos, dificilmente passariam pelo crivo dos progressistas. É este complexo emaranhado que faz sobressair Brainard, subsecretária do Tesouro no tempo de Obama, como uma opção mais consensual. Mais sólida também.

Doug Jones

Em nome da credibilidade

(Foto: DR)

É um dos favoritos a ocupar a posição de procurador-geral, cargo que é parte integrante do Governo e sobre o qual recai a incumbência de liderar o Departamento de Justiça dos EUA. Doug Jones, 66 anos, natural do Alabama, seria, tal como Brainard, uma escolha arrancada ao “sistema”. Mas também neste caso com um respeitável capital de credibilidade. Sobretudo no que aos direitos civis diz respeito. Nos quatro anos em que foi procurador no Alabama destacou-se pelo sucesso na condenação de dois membros do Ku Klux Klan envolvidos num atentado à bomba, em Birmingham, 40 anos antes. Jones é ainda amigo de longa data de Joe Biden, tendo estado ao seu lado já há mais de 30 anos, quando o novo presidente dos EUA arriscou a primeira campanha presidencial. Corria então o ano de 1988. E junta a esses pergaminhos o facto de estar disponível para assumir a pasta, visto que acabou de perder o cargo de senador do Alabama para Tommy Tuberville. Mas nomes como Tom Perez, presidente do Comité Nacional Democrata, ou Sally Yates, procuradora-geral adjunta durante a presidência de Obama, prometem complicar-lhe a nomeação.

Pete Buttigieg

E o melhor cargo é…

(Foto: Gage Skidmore)

Perceber a forte probabilidade de Pete Buttigieg integrar a Administração Biden implica recuar até 3 de março de 2020 e às vésperas daquela super terça-feira em que o democrata abdicou da candidatura às primárias no Indiana, o seu estado natal, a favor de Joe Biden – um passo que se revelaria fundamental para a vitória do recém-eleito presidente dos EUA. Buttigieg, assumidamente homossexual, ganhou aí créditos e capital político consideráveis com Joe, que praticamente lhe garantem um lugar na nova administração. Nos EUA, vai-se comentando que só resta agora escolher o cargo mais adequado para o jovem político do Indiana. Os conhecimentos que tem exibido em termos de política externa têm levado os seus apoiantes a fazer lobby por um possível cargo como embaixador nas Nações Unidas. Outros apontam a posição de secretário de Assuntos dos Veteranos como outra forte possibilidade. Problema: é comummente visto como um trabalho de baixa recompensa e alto risco, com escândalos burocráticos frequentes. Uma perspetiva pouco apetecível, sobretudo para políticos jovens. E Buttigieg só tem 38 anos.

Alejandro Mayorkas

História à vista na Segurança Interna

(Foto: DR)

É um mais do que provável candidato a selar a diversidade na Administração Biden. Nascido em Cuba, há 60 anos, Alejandro Mayorkas pode tornar-se em breve no primeiro latino a chefiar o Departamento de Segurança Interna dos EUA desde que este foi criado, há 18 anos. A confirmar-se, seria o regresso a uma casa que bem conhece, visto que já durante a Administração de Barack Obama funcionou como número dois deste departamento (entre 2013 e 2016). Também com Obama, mas entre 2009 e 2013, Mayorkas foi diretor dos Serviços de Cidadania e Imigração, liderando a implementação do programa Deferred Action for Childhood Arrivals (Ação Diferida para as Chegadas durante a Infância), projetado por Obama para proteger menores ilegalmente levados para o país. O programa, que Donald Trump tentou revogar, mereceu, na altura, ampla contestação por parte dos republicanos, o que ainda hoje poderá valer a Mayorkas anticorpos consideráveis. Caso a hipótese Mayorkas não vingue, a opção poderá recair em Xavier Becerra, procurador-geral da Califórnia.

Stacey Abrams

O segredo do triunfo na Geórgia

Foto: Erik S. Lesser/EPA)

Aos 46 anos, o currículo de Stacey Abrams já dá pano para mangas. Mesmo que uma boa parte dele tenha muito pouco que ver com a política. Natural de Madison (no estado do Wisconsin), Abrams já foi advogada tributária, romancista, guionista política, coprodutora de um documentário e organizadora de duas campanhas eleitorais. Abriu negócios próprios e, em 2018, na Geórgia, ainda foi a primeira mulher afro-americana a ser nomeada numa corrida para governadora. Mas o feito que a tem posto na ribalta é mesmo o facto de ser considerada a mentora da vitória de Biden na Geórgia, um estado historicamente republicano. O segredo será um documento preparado por Abrams em 2019, em que constavam as melhores estratégias para garantir a vitória naquele estado. Agora, o sucesso pode muito bem ser “premiado” com um cargo na nova administração americana – mesmo que ainda não seja claro qual. Certo é que Abrams é reconhecida pela enorme capacidade de organização e pela resiliência em doses colossais. Trunfos que poderão ser extremamente úteis a Biden nos próximos quatro anos.

Meg Whitman

O piscar de olho aos republicanos

(Foto: Max Morse)

Se, como se espera, Joe Biden cumprir a promessa de tentar unir o país, incluindo representantes republicanos na sua Administração, Meg Whitman, uma executiva de 64 anos, natural de Huntington (estado de Nova Iorque), é um forte nome a considerar para a pasta de secretária do Comércio. Antiga CEO do eBay e da Hewlett Packard (HP), hoje diretora executiva da plataforma de streaming Quibi, Whitman parece, à partida, ter o know-how necessário para assumir o cargo. A sua nomeação pode, no entanto, esbarrar na ala mais progressista dos democratas. Whitman chegou a ser candidata ao cargo de governadora da Califórnia pelo Partido Republicano.

Eric Garcetti

De mayor para secretário de Transportes

(Foto: DR)

É a velha lógica de premiar quem se vai revelando merecedor de confiança. Eric Garcetti, 49 anos, mayor de Los Angeles desde 2013, há muito dá provas de lealdade a Joe Biden: em 2016, por exemplo, recusou apoiar Hillary Clinton até Biden ter formalizado a decisão de não se lançar na corrida; já este ano, reiterou-lhe apoio logo em janeiro, quando os prognósticos ainda eram tudo menos favoráveis. Espera-se, por isso, que possa ser “recompensado” com um lugar no novo governo dos EUA. O cargo de secretário de Transportes é, até ver, o mais provável para o antigo presidente do Conselho Municipal de LA. Mas a imprensa americana vai deixando em aberto outras possibilidades.