As fotos que lhes mancharam a vida

Os casos sucedem-se, quase sempre camuflados por uma cortina de vergonha e receio do julgamento social (Foto: DR)

Maria era virgem e enviou imagens íntimas ao namorado porque não o queria perder. Quando ela acabou a relação, ele publicou-as no Facebook. Joana andava na faculdade quando foi abordada por um “representante de uma agência de modelos”. As fotos que lhe fez chegar acabaram espalhadas por sites pornográficos. Filipa tinha 13 anos quando partilhou retratos de cariz sexual com o parceiro para apimentar a relação. Ele acabou a enviá-las a um sem fim de amigos.

Maria tinha 14 anos quando se perdeu de amores pela primeira vez. Um turbilhão arrebatador que começou por saber-lhe a história de encantar. “No início era tudo muito bonito. Para mim o amor era só unicórnios cor-de-rosa.” Quatro anos e incontáveis dias de angústia depois, encontrar as palavras certas para a história errada começa a parecer-lhe mais simples. Como mais simples é agora reconhecer os indícios que então varria para debaixo do tapete. “Quando andava de saia ou usava um decote ele dizia-me ‘tira isso’.”

Ele, o ex-namorado, nunca lhe bateu, mas a agressividade verbal foi-se fazendo rotineira. “Tivemos várias discussões, por ciúmes sobretudo. Nessas alturas dizia-me que era uma vadia, que andava com todos.” Ela mantinha-se fiel ainda assim. Ao namorado e a um emaranhado interminável de ofensas e perdões. Mas não tinham relações. Maria era virgem e não se sentia preparada. Ele foi-lhe pedindo fotos. Ela acedia. Enviou-lhe várias. Nua e com o rosto bem visível. “De alguma forma sentia-me na obrigação de mandar porque tinha medo que ele me deixasse.” Não a deixou, mas traiu-a. E então deixou-o ela. O inferno ainda mal tinha começado.

Despeitado, sedento de vingança, espalhou as fotos, tão íntimas, tão deles, pelo Facebook. Maria soube por uma amiga. Lembra-se bem. O peito a queimar, o chão a fugir-lhe. “Comecei a sentir-me muito mal, com muito nojo e raiva.” Moída pela vergonha, fechou-se em casa. Esteve um mês e meio sem ir à escola. Ainda hoje guarda um texto que escreveu na altura. E que faz questão de partilhar para que sirva de aviso a outras como ela. “Estou como que um ser inanimado, um ser não presente. Sinto um buraco negro em mim que absorve tudo, que não me deixa manter ninguém dentro de mim, que me sufoca e me prende no vazio, que me encurrala em pensamentos absurdos.”

Maria acabou por abrir-se com a avó, que insistiu em apresentar queixa. Ela nunca quis. Mas começou a ser acompanhada por um psicólogo, que a pôs em contacto com outras vítimas como ela. Quando voltou à escola ainda foi gozada e criticada. “Mas depois acabei por ser apoiada.” Entretanto, a página, onde se acumulavam as fotos que a embrulhavam em vergonha, foi encerrada. E aos poucos foi-se reerguendo, aprendendo a lidar. Mesmo que o episódio a tenha mudado para sempre. “Fiquei muito mais desconfiada, sempre de pé atrás.”

A narrativa não é só dela. A humilhação que lhe tolheu os dias é a de muitas outras. Muitos outros também. De gente que arrisca mostrar o corpo porque confia em quem está do outro lado e acaba aprisionada num rasto de exposição e vergonha que tantas vezes parece interminável. Maria fê-lo por medo de perder o namorado. Joana porque acreditou tratar-se de alguém que a poderia ajudar a singrar. Ela tinha 19 anos. Ele adicionou-a no Facebook e apresentou-se como representante de uma agência de modelos. Ela caiu. Ainda hoje não acredita que pôde ser tão ingénua.

Ele foi mantendo conversa. Diariamente. Durante meses. Ela respondia. Ele ia pedindo fotos. Primeiro “normais”. Depois com roupa mais justa. Depois mais ousadas. “Dizia que a patroa queria ver o meu à-vontade.” Ela ia mandando. Ele esticava a corda. Queria mais fotos. De biquíni, primeiro. De lingerie, depois. Sem lingerie, mais tarde. Prometia um pagamento por cada uma das fotos. Mas sempre que ela lhe falava no pagamento ele adiava. E ela foi cedendo. Até ao ponto em que lhe enviou fotos verdadeiramente pornográficas. Sempre com o rosto a descoberto.

Mais de dez anos depois, ainda não sabe explicar como se deixou levar pela conversa. Como não suspeitou de uma cilada. De um dia para o outro, ele deixou de falar. Ela estranhou. Mas não anteviu o que a esperava. Só percebeu o engodo em que tinha caído quando um amigo, preocupado, lhe enviou o link de um site pornográfico onde as fotos tinham ido parar.

Ela sentiu o baque. A incredulidade a princípio, o pavor mais tarde. Incentivada por outra amiga, apresentou queixa. As fotos espalharam-se de tal forma que chegou a ter desconhecidos a abordarem-na na rua para a vexar. “Olhavam-me de lado, comentavam, recebia chamadas de números anónimos. Nos primeiros tempos escondia-me e chorava. Fiquei muito envergonhada. Foi horrível.” Vergada pelas piadas de mau gosto e os comentários constantes, deixou de aparecer na faculdade e acabou por desistir do curso.

Entretanto, o responsável foi identificado e Joana foi chamada a tribunal. “Nunca o tinha visto.” Era mais velho do que ela, mas relativamente jovem. O momento em que o olhou nos olhos ficou-lhe gravado para sempre. “Nem sei dizer o que senti”, hesita, a repulsa a transbordar-lhe pelo rosto sem precisar de a nomear. Ele pediu desculpa. Ainda se vitimizou. Disse que também a ele o episódio lhe tinha custado caro. Que os pais o tinham expulsado de casa e os amigos lhe chamavam pedófilo. Ela não quis saber.

Para não ter de reviver tudo outra vez, nem ter de se sujeitar a um longo e penoso processo nos tribunais, aceitou a indemnização mínima. Parcas centenas de euros que nem de perto amenizam o trauma. “Não é nada comparado com a merda toda que foi.” Agora à distância, já é capaz de falar do assunto com mais desembaraço. Mas a marca fica. “Mexe sempre comigo. Quando me lembro da estupidez que fui fazer…”, desabafa, olhar no vazio, como que a culpar-se pela enésima vez.

Uma prática comum

Os casos sucedem-se, quase sempre camuflados por uma cortina de vergonha e receio do julgamento social. Mas a tendência é crescente, assegura quem lida de perto com o problema. “Temos cada vez mais pais a recorrer a nós para relatar situações relacionadas com a divulgação de imagens íntimas dos filhos, sejam ou não menores, o que aponta para uma generalização do envio dessas fotos”, contextualiza Ricardo Estrela, gestor da Linha Internet Segura, operacionalizada pela Associação de Apoio à Vítima (APAV) desde o arranque do ano passado. O responsável frisa, no entanto, que o problema não se cinge aos mais jovens. Nem sequer ao sexo feminino.

Dentro deste crescendo, há contextos distintos. Por um lado, a chamada revenge porn – ou pornografia da vingança (ver caixa) -, que surge como arma de arremesso associada ao final de relações amorosas. Por outro, a proliferação dos perfis falsos nas redes, de predadores que vão procurando conquistar a confiança da vítima até a convencer a enviar fotos íntimas (ou até vídeos).

Por vezes para proveito próprio. Por vezes para usarem as imagens como meio de chantagem, extorquindo dinheiro às vítimas (sextorsion). Por vezes para as canalizarem para sites de pornografia. “No acesso a estes sites é muitas vezes pedida uma joia de pagamento, que pode passar pelo fornecimento de mais imagens. Há um circuito paralelo de compra e venda de imagens deste tipo”, explica Carlos Cabreiro, responsável pela Unidade Nacional de Combate ao Cibercrime e à Criminalidade Tecnológica (UNC3T), da Polícia Judiciária.

Há ainda o cyberbullying, que pode ou não ter por base imagens íntimas e que é comum entre jovens de faixas etárias aproximadas. Neste caso, ou em situações de revenge porn, as imagens são frequentemente partilhadas em páginas do Facebook. Ou em grupos do WhatsApp. Em ambos os casos, é possível criar links que podem depois ser acedidos através de motores de pesquisa na web, criando-se uma teia por vezes impossível de seguir. O fenómeno enreda-se numa intrincada rede de conceitos que estão ou podem estar relacionados com a questão das imagens íntimas. O novelo dificulta a existência de estatísticas específicas.

A Linha Internet Segura registou, no ano passado, um total de 827 processos: destes, 676 resultaram de denúncias de pornografia infantil, oito de pedidos de apoio por devassa da vida privada, oito por sextortion, quatro por cyberbullying, três por sexting, dois por gravação de fotografias ilícitas e um por aliciamento de menores para fins sexuais (grooming). Entre outros.

Já as estatísticas mais recentes, relativas a março e abril deste ano, mostram um aumento exponencial de casos, necessariamente relacionado com o confinamento a que grande parte da população tem estado sujeita. Só nesses dois meses, o serviço contabilizou 292 processos.

Entre esses, e mencionando apenas os que estão relacionados com a questão das imagens de cariz sexual, houve 84 por pornografia infantil, 21 por sextorsion, dez por divulgação não consensual de imagens e vídeos íntimos, cinco por grooming.

Seguir o rasto dos números em termos de queixas apresentadas e condenações é um exercício ainda mais complexo. “As designações em causa (revenge porn, sextorsion) referem-se a fenómenos criminais e não a tipos de crime específicos. Ou seja, consoante as circunstâncias do caso concreto, aqueles fenómenos podem traduzir a prática de crimes de pornografia infantil, fotografias ilícitas, devassa da vida privada, ameaça, coação ou até mesmo extorsão”, esclarece Pedro Verdelho, coordenador do Gabinete de Cibercrime da Procuradoria-Geral da República.

Se a GNR consegue especificar o número de queixas relacionadas com a intimidade sexual (15 por devassa da vida privada e oito por extorsão, em 2019), a PSP não dispõe de dados desagregados. O Ministério da Justiça fez saber que, entre 2014 e 2018, houve 96 condenados em processos-crime findos nos tribunais judiciais de primeira instância, por crime de devassa da vida privada. No entanto, não é possível isolar o número de condenações por devassa da vida sexual. Também Pedro Verdelho, da PGR, assume a impossibilidade de fornecer estatísticas “com a especificidade pretendida”, mas admite uma “clara perceção de que estas situações têm vindo a ser reportadas ao Ministério Público com crescente frequência”.

As consequências, nos casos em que as fotos – ou vídeos – acabam partilhadas com terceiros ou espalhadas pela Internet são quase sempre as mesmas
(Foto: Pedro Granadeiro/Global Imagens)

Os casos que lhes chegam são apenas a ponta do icebergue. Por vergonha, por medo de represálias, ou simplesmente para se pouparem à angústia de reviverem o pesadelo, muitas vítimas optam por não apresentar queixa. “Se estivermos a falar de adultos, sobretudo no caso de uma relação extraconjugal, há uma tendência para não denunciar, a não ser que tenham mesmo de o fazer. Noutros contextos, de violência doméstica, por exemplo, as vítimas ficam tão incomodadas e revoltadas que o que querem é denunciar. Agem depressa.

se estivermos a falar de menores, as situações só são conhecidas ou porque um colega conta a um adulto de confiança ou porque os pais acabam por se aperceber”, distingue Ricardo Estrela, da Linha Internet Segura.

Os mais jovens surgem quase sempre como vítimas “apetecíveis” para este tipo de episódios. Por não estarem tão conscientes dos riscos, por serem mais facilmente manipuláveis e pela naturalidade com que tendem a olhar para a partilha de imagens íntimas, com ou sem relação amorosa à mistura. Ivone Patrão, psicóloga e investigadora na área dos comportamentos e dependências online, tem estudado os jovens entre os 12 e os 30 anos e refere que 15 a 20% assumem esta prática como “comum”.

“Mas se quer a minha experiência clínica, diria que quase todos o fazem”, acrescenta. Num outro estudo, conduzido por Patrícia Ribeiro, investigadora da Universidade do Porto, 42% dos jovens universitários assumem já ter enviado imagens de cariz sexual. Entre os que enviam nudes, 52% admitem não ter tido a perceção do risco que estavam a correr quando enviaram as imagens e 5% dizem ter sido vítima de partilha a terceiros não consentida. A docente da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto não tem dúvidas de que esta é uma “realidade crescente”.

Um outro estudo, desenvolvido ao abrigo do Programa de Intervenção no âmbito da Violência nas Relações Interpessoais (PREVINT), concluiu que dos 4367 jovens inquiridos, entre os 12 e os 19 anos, 221 (5%) já tinham partilhado imagens íntimas de terceiros sem consentimento. “Entre os autores deste sexting agressivo, 155 [mais de 70%] são rapazes. E quanto mais jovens maior a tendência para o fazerem”, constata Ricardo Barroso, coordenador do estudo.

“Vamos tornar isto mais quente”

Filipa aprendeu da pior forma o conceito de sexting agressivo. Tinha 13 anos quando começou uma relação de quatro que haveria de se tornar um longo pesadelo. Ele era mais velho, maior de idade. Ela apaixonou-se. O princípio dos princípios ainda foi tranquilo. Mas quando acabou o verão e ela voltou à escola começaram os ciúmes. “Dizia que eu dava muita confiança aos rapazes.”

Para o acalmar, deu-lhe as passwords de todas as contas nas redes sociais. Ela também ficou com as dele. Hoje percebe que o desfecho infeliz se anunciava logo aí. Quando não estavam juntos, ele pedia-lhe fotos. “Vamos tornar isto mais quente”, dizia-lhe. Ela acedia, sem noção dos riscos. “Como já tínhamos relações estava à vontade.”

Mas a história foi-se tornando mais obscura com o tempo. A dada altura começaram a consumir drogas. E ele começou-lhe a pedir que não fosse à escola para ficarem juntos. “Tivemos uma grande discussão e ele bateu-me”, conta, sem rodeios. A agressividade tinha vindo para ficar. “Ele pedia desculpa e dizia que ia mudar e eu desculpava.” Mas nunca mudava. Por essa altura já Filipa tinha deixado as saias e os tops bem arrumados no fundo do armário. “Porque ele não gostava.”

Sofreu em silêncio. Durante anos. Até que a mãe lhe viu uma nódoa negra e foi obrigada a contar. A mãe não se conformou. Insistiu que teria de apresentar queixa. Filipa não queria nem por nada. Só a conseguiu dissuadir de ir à esquadra quando se comprometeu a terminar de vez a relação. Assim foi. Quando lhe disse, ele ainda lhe deu um estalo. Em público. Ninguém se meteu. Depois, ainda se vingou. Enviou as fotos dela para todos os amigos em comum.

Filipa ficou para morrer. “Toda a gente me apontou o dedo. Ofendiam-me. Diziam-me que era uma vergonha, uma porca. Rebaixaram-me e fizeram-me sentir um monstro. Deixei de querer encarar quem quer que fosse. Sentia vergonha e medo. Deixei de gostar de mim.” Hoje sabe que nunca devia ter enviado as fotos. Mas na altura não lhe passou pela cabeça que ele pudesse espalhá-las. Até porque ele também tinha as dele e nunca o fez. Nem para retaliar. Para aliviar o sofrimento, começou a automutilar-se.

Mas só quando se mudou para casa de uma prima, para longe de todos os que a gozavam e a humilhavam, começou a superar. O psicólogo da escola também ajudou. O resto é um processo que se faz devagar, devagarinho. “Ainda sinto uma mágoa grande dentro de mim”, confessa, anos depois. Mas, nas horas do aperto, agarra-se sempre a uma frase que lhe tem servido de lema de vida: “Serás um pouco mais do que ontem e um pouco menos do que amanhã”.

Muitas vítimas optam por não denunciar
(Foto: Pedro Granadeiro/Global Imagens)

O caso de Filipa, em que a divulgação das fotos surgiu depois de anos de violência verbal e física, não é uma simples coincidência. “A revenge porn acontece muitas vezes em contexto de violência doméstica ou violência no namoro”, realça Ricardo Estrela, da Linha Internet Segura. “Muitas vezes, estas imagens são até usadas como chantagem, para manter a pessoa dentro da relação e impedir que apresente queixa.”

O perigo aumenta porque abundam os casos em que o envio de fotos de cariz sexual para o parceiro é algo “quase natural”, assinala o responsável da linha de apoio da APAV. “É como uma prova de amor.” Ivone Patrão, investigadora do ISPA, destaca ainda a questão da “desejabilidade social” como fator explicativo para a partilha destas imagens.

Já as consequências, nos casos em que as fotos – ou vídeos – acabam partilhadas com terceiros ou espalhadas pela Internet são quase sempre as mesmas. “É uma situação traumática. A pessoa sente-se exposta na sua intimidade.” Daí que quem passa por isso registe, com frequência, alterações no humor, nos padrões de sono, perda de apetite e uma tendência acentuada para o isolamento. “Não querem contacto social. E há uma culpabilização muito grande, que acaba por trazer mais desconfiança, mais retraimento, mais inibição”, alerta a especialista.

Nalguns casos, mais graves, o trauma traz também comportamentos de automutilação. Noutros, mais extremos, pode chegar ao suicídio. Em Portugal, não há estatísticas que o provem, mas em Espanha ficou conhecido o caso de Verónica, que, aos 32 anos e com duas filhas, viu um vídeo íntimo, gravado anos antes, ser espalhado pelos colegas da fábrica onde trabalhava. Depois de dias de humilhação, Verónica não aguentou. Pôs fim à vida e a notícia correu mundo.

Ricardo Estrela defende que mais do que diabolizar a prática do envio de imagens íntimas, importa sensibilizar para a necessidade de salvaguardar a identidade. O rosto, obviamente. Mas não só. “Estas imagens devem ter o mínimo de elementos possível. Deve evitar-se mostrar tatuagens e sinais distintivos, por exemplo.” Aumentar a literacia digital também é fundamental, sublinha a psicóloga e investigadora Ivone Patrão. “Para que as pessoas saibam os riscos que estão a correr”, avisa. Sobretudo em relação aos mais jovens. “As escolas e os pais devem estar sensibilizados para o problema”, prossegue, pedindo uma “intervenção precoce”.

O apelo de uma intervenção em contexto escolar é secundado pela colega Patrícia Ribeiro, autora de um estudo sobre violência sexual online. “A educação deve contemplar programas de prevenção e promoção dos direitos humanos, que ajudem os jovens a tornarem-se críticos em relação a essas questões. Que os façam questionar-se sobre a ética envolvida na partilha destas imagens.” Até porque, como tantas vezes se diz em relação à web, “uma vez na net, para sempre na net”.

Mesmo que não aconteça, o medo nunca se vai de vez. A investigadora lembra um testemunho lido em tempos. “Ela [a vítima] dizia que nunca sabia quando as imagens podiam voltar a aparecer. Tinha sempre medo, quando começava uma nova relação, que o namorado viesse a descobrir o que tinha feito anos antes, ou que soubessem disso nas entrevistas de emprego. Dizia que era como uma doença crónica.”

Os nomes usados nos testemunhos partilhados neste artigo são fictícios, para proteção das vítimas.

Cinco conceitos a reter

Sexting
Resulta das palavras “sex” (sexo) e “texting” (envio de SMS) e significa a troca de mensagens eróticas, com ou sem fotos, via telemóvel, chats ou redes sociais.

Revenge porn
Ou pornografia de vingança. Ato de expor publicamente, na Internet, fotos ou vídeos íntimos de terceiros, sem o consentimento dos mesmos, mesmo que estes se tenham deixado filmar ou fotografar em privado. Ocorre, regra geral, após o término de uma relação amorosa.

Sextorsion
Quando alguém ameaça distribuir conteúdo de natureza pessoal e confidencial caso não se forneçam imagens de natureza sexual, favores sexuais ou dinheiro.

Cyberbullying
Uma extensão do bullying, com as agressões e as ofensas a serem consumadas online. Pode traduzir-se na partilha de textos, fotos e vídeos agressivos ou humilhantes para com outra pessoa, colocando-lhe a identidade em causa e afetando-lhe a autoestima.

Grooming (online)
Forma de manipulação online de crianças e jovens. Inicia-se geralmente através de uma abordagem não-sexual. Pode ter como propósito o aliciamento para o envio de fotos íntimas ou a persuasão para um encontro presencial, com vista à consumação do abuso sexual.