Texto de Sara Dias Oliveira
Em criança, arregalava os olhos quando colocava patas de insetos, cabelos, folhas ou casca de cebola no microscópio que era do pai contabilista. O fascínio pelos mistérios da natureza despertou cedo.
Não entrou em Medicina por três décimas; estudou Biologia; é investigadora auxiliar no i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde, no Porto; mestre em Microbiologia Molecular; doutorada em Ciências Biomédicas, na área da Imunologia. O fascínio mantém-se. “Ver em primeira mão aquilo que ainda ninguém viu. Trabalhar com coisas que ainda ninguém sabe e tentar perceber o significado dos fenómenos que observamos.”
Susana Santos, 42 anos, de Oliveira de Frades, a viver em Gaia, adora descobrir. Como a investigação em equipa, com Maria Inês Almeida e Inês Alencastre, que resultou num teste que ajuda a diagnosticar a depressão com uma amostra de sangue. Um sistema único no Mundo, nunca antes aplicado na rotina clínica na área das doenças mentais.
Um painel de biomarcadores que, conjugados entre si, dá uma medida de risco e de estratificação da depressão. Os resultados são revelados 24 a 48 horas após a colheita. “O médico faz uma entrevista clínica, com a subjetividade de uma entrevista clínica, e passa a ter um exame biológico no qual se pode basear quando tem de decidir se vai ou não receitar medicação ou outro tipo de acompanhamento.”
Além de um auxiliar de diagnóstico, permite monitorizar o curso de doença. Uma combinação que conquistou o Prémio da Agência Nacional de Inovação em 2017 e o prémio “Os Melhores do Portugal Tecnológico”, na categoria Inovação, em 2018, da revista “Exame Informática”. O teste ainda não está no mercado, mas o trio de investigadoras está a tratar da patente e a tentar encontrar financiamento para validar o marcador biológico.
Neste momento, Susana investiga a forma como as células do sistema imunitário comunicam com as dos tecidos e as mensagens que trocam entre si após uma fratura óssea. No interface entre o sistema imune e a regeneração de tecidos. “Se a resposta imune se descontrolar, vai ser prejudicial ao processo de regeneração. Se conseguirmos modelar essa mensagem, talvez consigamos convencer o organismo a resolver uma resposta inflamatória.” Em suma, “gostava de contribuir, de alguma forma, para a melhoria dos cuidados dos pacientes”.
Lê muito, escreve artigos científicos, anda pelo Mundo a falar do seu trabalho científico e o seu dia-a-dia tem sempre mais perguntas do que respostas. Acredita que evolução acelera quando há parcerias. “Para que a ciência avance temos de conversar uns com os outros. Na ciência ninguém consegue trabalhar sozinho.”
Dá aulas nas duas faculdades de Medicina da Universidade do Porto e, todos os anos, durante uma semana, recebe alunos do secundário do Programa Ciência Viva. “Têm uma visão fresca e trazem perguntas em que nós, que estamos tão embrenhados no trabalho, não pensamos. Gosto muito dessa interação.”