Texto de Joana Almeida Silva
Tudo começou com um simples par de meias. A sogra de Reinaldo Moreira, um dos três sócios gerentes da Springkode, deu-lhe um par de meias, dos bons, sem marca, e o gesto plantou a semente para um projeto.
A Springkode é uma startup do Porto e permite fazer aquilo que quem vive na região Norte já terá mais facilmente experimentado: comprar um produto premium, diretamente na fábrica, a baixo preço. Só que o faz online, para todo o Mundo.
Reinaldo, 32 anos, formado em Engenharia Industrial e Gestão pela Universidade do Porto, explica que em causa está a ligação entre o consumidor e o mundo da confeção. Um mundo que, para continuar a vencer na economia global, com a concorrência das potências produtivas asiáticas, investiu imenso nos últimos anos. “Há novas gerações à frente das fábricas, que tiveram de dar um salto qualitativo muito grande e estão perfeitamente a par do online e do potencial do e-commerce.
Hoje, o consumidor é muito mais predisposto para a compra online, e estas duas realidades não se comunicavam. Nós apercebemo-nos disso e esta pode ser uma revolução para a confeção.”
A plataforma distingue-se de gigantes casas generalistas de compras como o eBay ou a Amazon por estar virada apenas para a moda. Arrancou com artigos de três fábricas, ganhou aceitação, e entretanto já tem parcerias com mais quatro, cujos artigos fotografados vão ser colocados na montra em breve.
“Democratizámos a qualidade e abrimos as portas das fábricas ao consumidor final, também em termos de posicionamento de preço, porque, embora não sejam artigos baratos quando se compara com a ‘fast fashion,’ são mais baratos do que os seus equivalentes das grandes marcas de luxo.”
Roupa com etiqueta da fábrica
A Springkode arrancou em 2018, com um investimento de cem mil euros e uma aposta voltada para a produção nacional e para a exclusividade, com a oferta de no máximo 50 peças por parceiro de negócio. Reinaldo Moreira: “O que se vê no site são coleções exclusivas, dos designers que fazem roupa para as maiores marcas do Mundo. Não são cópia de nenhum produto que esteja a ser produzido na fábrica ou à venda com a chancela de uma marca de luxo, e têm uma qualidade que seria impossível conseguir com o preço equivalente no retalho tradicional. É uma forma de rentabilizar o que a fábrica já tem dentro de portas num novo canal de vendas”.
A redução de preço, garante, pode chegar aos 80%. Quem navega pela plataforma vê qual seria o preço de uma camisola ou de um casaco produzido pela mesma unidade, no retalho tradicional. Exemplo disso é um vestido preto à venda por 53 euros e com a referência de que na loja de marca custaria 340.
“O nosso público é sofisticado, percebe a diferença de qualidade entre um produto ‘fast fashion’ e de uma marca de luxo, já comprou roupa barata e percebeu que ela é adequada para certas situações mas para outras não é, e muitas vezes o dinheiro é mal gasto porque rapidamente essas peças ficam estragadas. Ao mesmo tempo, percebe que as marcas se fazem cobrar pelo marketing, pelo nome, e que o produto sofre vários aumentos de preço ao longo da cadeia.”
Compras racionais e sustentáveis
Focada no mercado interno e à procura de enrobustecer o projeto para garantir sucesso fora de portas, a Springkode vai alargar a oferta às coleções masculinas e pondera ainda adicionar ao negócio áreas como o calçado e a bijuteria. A marca diz-se orgulhosa de trabalhar de forma “totalmente transparente”, em que o processo de criação da roupa está totalmente exposto, da fábrica ao site. Além disso, acredita na tendência para privilegiar as marcas sustentáveis.
“O público procura mais informação sobre o que está a comprar, a sua origem. Querem saber se está em linha com os valores que têm”, realça Reinaldo Moreira. “Há uma grande tendência mundial para a compra ser mais ponderada. Nós queremos que a fábrica seja a nossa marca e que a identidade do produto seja a identidade da fábrica.”