O chef que foge da monotonia e escolhe a simplicidade

Dono de sete restaurantes, com uma hamburgueria em vésperas de ser inaugurada, Chakall ainda é chef executivo de um restaurante em S. Tomé e Príncipe e de um bar de tapas na China (Foto: Leonardo Negrão/Global Imagens)

Texto de Marisa Silva

Cresceu a ver a mãe cozinhar, serviu às mesas do restaurante da família e, da infância, não esquece o cheiro do molho Tuco, feito com carne e tomate. Nascido na Argentina em 1972 e batizado como Eduardo, Chakall ganhou em criança a alcunha pela qual é conhecido.

No meio dos tachos, sempre lhe foram reconhecidos dotes. Aprendeu a arte com a mãe e a tia. Das primeiras iguarias que confecionou, recorda as empanadas e as espetadas de carne que, aos 11 anos, fez para impressionar as raparigas numa festa.

“Quando não estávamos na escola, ficávamos no restaurante. Na altura, não havia creches. Lembro-me de ver a minha mãe fazer massa para o esparguete, enquanto eu limpava e separava as folhinhas de salsa e de hortelã”, recorda o chef, que integra o júri da terceira edição do passatempo “Brincar na Cozinha com Teka“.

Aos 18 anos, Chakall dedicou-se ao jornalismo. Fez da profissão a sua vida até decidir viajar para África. Em 1997, chegou a Portugal para preparar a aventura. A cozinha não estava nos seus planos. No entanto, para não gastar o dinheiro que tinha guardado, acabou a trabalhar num restaurante. Um ano depois, rumava a África. Foi no Sudão que fez do turbante a imagem de marca. No regresso a Portugal, o destino encarregou-se de o devolver à culinária. “Como escrever em português era complicado, a cozinha foi o caminho que surgiu.”

Viajar é uma das suas grandes paixões. Por ano, faz cerca de 150 voos. Dono de sete restaurantes e com uma hamburgueria em vésperas de ser inaugurada, Chakall é uma referência na cozinha nacional e internacional. Aborrecem-no comidas demasiado elaboradas. Talvez por isso goste de comer em tascas. “A minha mãe fazia tudo caseiro e eu odiava comida caseira. Havia um vendedor que me dava, às escondidas, um pacote de Hot Dogs”, lembra.

O signo gémeos torna-o um apreciador de desafios. Deixa-se fascinar com o processo de criação e recusa a ideia de “ficar confortável numa cadeira”. Tanto que já ponderou deixar de ser chef. “Gosto de carros velhos. Monto-os, limpo-os, faço tudo de novo. Mas, quando está pronto, já não o quero mais. Eu gosto do processo, não do fim.”

No currículo, Chakall soma a publicação de 14 livros. É ainda chef executivo de um restaurante em S. Tomé e Príncipe e de um bar de tapas, na China. Humildade é o segredo para o sucesso. “Há muita gente que quer ser chef pela fama. Mas esta é uma profissão muito dura. Tira muitas horas da família. Não há feriados”, salienta.

Filhos cozinham

Em casa, a cozinha não é exclusiva do chef. Na hora das refeições, os filhos também arregaçam as mangas. Chakall é pai de cinco. “É importante que as crianças tenham noção de que a comida não vem do pacote e que o frango antes de cozinhado foi uma galinha.”

Os gostos variam à medida que a idade avança. E, na cozinha, não há lugar para obrigações. Distribuir tarefas consoante os gostos é meio caminho andado. “Os pequenos gostam de fazer massas, de meter a mão na farinha, de ficar sujos um bocadinho. O meu filho mais velho, que tem 26 anos, gosta mais de fazer carne grelhada”, descreve.

Habituado a lidar com crianças, o chef acredita que o concurso “Brincar na Cozinha com Teka“, cujas inscrições já arrancaram, vai ser um sucesso. Na sua mente, já estão alinhados alguns dos critérios para eleger o vencedor. “O mais importante é o sabor e o equilíbrio das coisas. Depois, temos a apresentação e a forma como os pratos são preparados”, desvenda.