Fragmentos de Hiroshima em praia japonesa

Partículas encontradas numa praia, na Península de Motoujina, no Japão

O começo da história não é novo. No dia 6 de agosto de 1945, uma bomba atómica norte-americana atingiu a cidade japonesa de Hiroshima, matando milhares de pessoas. A grande novidade é na verdade esta: mais de 70 anos depois, uma equipa de investigadores descobriu, por acidente, que a areia da praia da cidade vizinha está cheia de fragmentos que resultaram dessa explosão.

O que acabou, mais uma vez, por confirmar o que já se sabia. “Este foi o pior acontecimento criado pelo homem, de longe”, disse em comunicado Mario Wannier, um dos responsáveis pela descoberta. “A grande questão para mim era: temos uma cidade e, um minuto depois, ela deixa de existir. Onde está a cidade — onde está o material do que desapareceu? É um tesouro ter descoberto essas partículas. É uma história incrível.”

Foi em 2015 que Wannier decidiu estudar a areia que cobre a parte da costa da península de Motoujina. No entanto, só este ano publicou o artigo que descrevia o que encontrou. De acordo com o geólogo, o caminho para compreender o que eram aquelas partículas analisadas foi tortuoso.

Partículas idênticas às da extinção planetária

Parte da amostra analisada era comum, composta de microrganismos, fósseis e materiais rochosos, que normalmente são encontrados nas praias. Porém, algumas chamaram a atenção, por serem demasiado diferentes: “Era impossível não reparar que algumas eram estranhas. Geralmente são aerodinâmicas, vítreas, arredondadas — estas partículas lembram imediatamente alguns fragmentos esféricos que já tinha visto nas amostras de sedimentos do limite do Cretáceo-Terciário”, garantiu Wannier.

A época a que o investigador se refere é marcada pelo evento de extinção em massa planetária, quando ocorreu a morte dos dinossauros, há cerca de 66 milhões de anos. A composição dos detritos corresponde aos materiais que eram comuns em Hiroshima, na altura do bombardeio, como mármore, concreto, aço inoxidável e borracha.

O que ainda não se sabe é se esses fragmentos são radioativos e, se são, até que ponto podem afetar o solo da região.