José Nunes da Fonseca: o Eusébio do Exército

Paulo Jorge Magalhães/Global Imagens

Texto de Alexandra Tavares-Teles

Fica na história da Academia Militar como um dos melhores alunos de sempre – há quem afirme que é o melhor -, obtendo a média rara de 19 valores. Foi, naturalmente, o primeiro do curso (1979/85), Ciências Militares (Engenharia), e é “Espada de Toledo”, o reconhecimento que a Academia reserva exclusivamente à excelência. Barra nas teóricas, aluno de 20 a educação física é “o nosso Eusébio”, na designação carinhosa de um amigo antigo.

Nomeado pelo presidente da República sob proposta do primeiro-ministro, José Nunes da Fonseca mereceu a unanimidade do Conselho de Generais do exército, consenso pouco vulgar, tanto mais que saltou por cima de candidatos com mais tempo de generalato. O novo Chefe do Estado-Maior do Exército tomou posse em tempos difíceis, com o “caso Tancos” longe do fim.

“É o homem certo para este momento de burburinho”, defende António Costa Mota, o tenente-coronel presidente da Associação de Oficiais das Forças Armadas. Justifica: “É uma pessoa muito ponderada, tranquila, com uma característica essencial ao cargo – é dialogante”. Alguém que sabe ouvir. E decidir, “com argumentos sempre muito bem sustentados”.

“É uma pessoa muito ponderada, tranquila, com uma característica essencial ao cargo [de Chefe do Estado-Maior do Exército] – é dialogante” (António Costa sobre José Nunes da Fonseca)

Luís Paula Campos conhece Nunes da Fonseca dos tempos da Academia Militar. Foram colegas, tinham ambos 20 anos. Recorda, agora, um rapaz “discreto e reservado, extremamente inteligente, muito arguto, muito pragmático”. “Estupidamente organizado”, ri. Alguém que “só fala do que sabe”, com uma memória “lendária”: “Fixa tudo o que lê”. “Sou-lhe franco” – remata o coronel – “estamos a falar de uma pessoa fora do normal, em aptidão intelectual e física”.

O pai, um sargento do exército, acabaria por influenciar a sua carreira e a dos irmãos (um major-general no ativo e um coronel na reserva). Aluno dos Pupilos do Exército e da Academia Militar, prestou serviço em diversas unidades e estabelecimentos das Forças Armadas, nomeadamente na Escola Prática de Engenharia, de que foi comandante. Da folha de serviço constam 23 louvores nacionais. Mais três estrangeiros.

Cumpriu duas comissões em operações NATO – na Bósnia-Herzegovina, entre 1998 e 1999, como Oficial de Operações no Quartel-General da Divisão Multinacional Sudeste, e no Kosovo, em 2011, como General Comandante da Força Logística.

Correr – uma a duas horas – é prazer diário de que não prescinde. Colocado na Guarda Nacional Republicana em janeiro de 2013, foram muitas as vezes que fez o trajeto casa-quartel do Carmo de sapatilhas.

Segundo-Comandante Geral da GNR desde junho de 2018, há quem veja nestes cinco anos que leva fora do exército o único contra da nomeação. Porque perdeu o contacto com os seus. Mas há quem pense o contrário e veja o afastamento como uma vantagem. Para esses, mais do que nunca, o exército necessita de uma chefia sem anticorpos.