Texto de Ana Tulha
Quando, em 2015, travou conhecimento com Rui Moura, o primeiro português a participar num curso com chancela da NASA, Ana Pires, 38 anos, ainda andava longe de adivinhar que, apenas três anos depois, também ela haveria de sentir o pulso à agência espacial americana. Sobretudo porque, até aí, o mar sempre tinha sido a prioridade.
Agora, a investigadora do INESC TEC e do ISEP pode gabar-se de ser a primeira mulher portuguesa a participar no programa de Cientista-Astronauta da Embry-Riddle Aeronautical University (Flórida), apoiado pela NASA. E até já faz planos para ir estreitando laços com a agência.
O volte-face começou durante o doutoramento (quando conheceu Rui Moura) e teve continuidade em maio deste ano, ao decidir avançar com uma candidatura ao projeto PoSSUM – Ciência Suborbital Polar na Alta Mesosfera. Em agosto, chegou a notícia que rasgou horizontes. Ana Pires foi uma das 12 selecionadas, entre centenas de candidatos.
Porquê ela? “Neste projeto, eles optam por selecionar pessoas com diferentes conhecimentos. Tentam misturar num grupo de 12 pessoas as mais diversas áreas. É uma forma muito inteligente de fazer ciência. No meu caso, acho que o facto de ter um doutoramento em geociências e de estar a trabalhar na área da robótica [está a fazer mestrado em robótica e sistemas autónomos, no ISEP] foi decisivo”, explica à “Notícias Magazine” a engenheira geotécnica.
Em setembro, a aventura tornava-se real, mesmo que, durante um mês e meio, tenha tido uns quantos episódios que entram em qualquer guião de ficção científica: desde vestir o fato espacial a sobrevoar a mesosfera, passando pela experiência num avião acrobático, que exacerba o poder da força G. “Foi uma experiência incrível e levou-me até ao limite. Mas é muito duro fisicamente. Tanto que vomitei no primeiro voo”, conta, divertida. E mesmo vestir o fato… é tudo menos fácil: “Temos de fazer uma ginástica enorme, com a ajuda de outras colegas. É um processo muito complicado. Quase tanto como preparar a missão”.
E, agora, o que se segue? Para já, a investigadora já teve outra boa notícia: recebeu recentemente um convite para integrar a lista de participantes de um novo curso, em maio do próximo ano, desta vez no âmbito de um projeto mais relacionado com a exploração geológica. Depois… depois quer ter calma, percebe-se. Mas não esconde o sonho de vir a trabalhar efetivamente com a NASA.
“Apesar de andar com a cabeça na lua, tenho os pés na terra e perfeita noção de que seria extremamente difícil fazer uma missão. Mas trabalhar como investigadora, ligada à parte dos recursos geológicos, gostava muito.”