Texto de Ana Pago | Fotografia de Diana Quintela/Global Imagens
Antes de se lançar na viagem de dois meses para percorrer os mesmos caminhos de de Camões, sozinha por 12 países e 16 cidades exóticas como Ormuz, Mombasa ou Taprobana, Maria João Lopo de Carvalho não imaginava o embate.
«Fui na rota do poeta de outubro a dezembro de 2015, para escrever Até que o Amor Me Mate – As Mulheres de Camões, e o certo é que me enriqueceu como nenhum outro homem», conta a autora, que aos 55 anos mais parece uma adolescente infatigável, com um tremendo sentido prático. «Mais do que uma viagem, foi uma viragem. Dobrei o meu Cabo da Boa Esperança, como ele fez. Naveguei mais além.»
«A escrita é a minha arma de fogo. Não fossem os livros e morria.»
E se há coisa que a vida lhe ensinou foi precisamente a transformar problemas em trabalhos em curso. «Sou um conjunto de imperfeições que posso limar e ir suavizando.» Tudo à sua frente são horizontes em aberto e ela gosta desse crescimento contínuo, como uma heroína dos seus próprios romances (adora a Marquesa de Alorna). «A escrita é a minha arma de fogo. Não fossem os livros e morria.» Se de caminho puser mais gente a ler com o seu espírito de princesa guerreira, tanto melhor.
A viagem mais surpreendente que fez foi à Índia, em 2005, de onde trouxe os contrastes. Voltar lá sozinha a apaixonar-se por Camões a cada etapa só a fez tomar ainda mais gosto pelo imprevisto. «O maior encanto é esse prazer da aventura à medida que vamos contornando o medo.» Se falhar, falhou – paciência! Faz tudo parte. «Seja como for, estes 55 anos a andar no arame já ninguém mos tira.»
Uma vida em números
2 – FILHOS
Primeiro veio Tomás, hoje com 30 anos, e 11 meses depois nascia a filha mais nova, Rita, esforçada e audaciosa como a mãe. «Foi quase como se tivesse tido gémeos.»
2000 – ARRANQUE
Começou a escrever tinha 40 anos, ao mesmo tempo que trabalhava em publicidade na McCann Erickson, na Know How (a sua empresa de edição de livros e ensino de inglês para crianças) e dava aulas de português e inglês.
7 – LIVROS
É este o número de irmãos protagonistas da coleção que escreve a meias com a autora Margarida Fonseca Santos, 7 Irmãos. Vale tudo para criar o gosto pela leitura nos mais novos.
2001 – POLÍTICA
Na campanha autárquica a Lisboa de 2001 andou pelas ruas a apoiar Santana Lopes, o candidato que foi eleito e era amigo de faculdade de José Tomás Vilarinho Pereira, o primeiro dos três maridos.
9 – CAMÕES
Ao aprendê-lo pela primeira vez na escola, no 9.º ano, não lhe achou piada nenhuma. Foi preciso revisitar Os Lusíadas no curso de Letras para perceber o poeta que inspirou o seu romance histórico Até que o Amor me Mate.