Começaram por ser amigos, depois agente e artista e, no último ano, tornaram-se sócios na empresa de agenciamento. Agir e Hugo Castanheira falam todos os dias, discutem muito e passam horas a fio a delinear os passos da carreira do músico. Agora vem aí um single com Ana Moura.
Estava rodeado de adolescentes a ouvi-lo cantar quando Hugo Castanheira, que trabalhava em música, entrou e ficou perplexo ao ver o entusiasmo do público com o artista, de boné na cabeça, que atuava no palco do bar Loft, em Santos. «Quem é este rapaz?», perguntou aos amigos. «É o Agir.», responderam-lhe. Ele não fazia ideia de quem era e explicaram-lhe que se tratava de um fenómeno do YouTube. Desde essa noite de 2010 até agora tudo mudou: Hugo, de 36 anos, e Agir, de 28, conheceram-se melhor, tornaram-se agente e artista, ficaram amigos e no último ano acabaram por fazer-se sócios. «As coisas resultaram porque há amizade», garante Agir, que em dezembro passado, quando decidiu que ia pedir em casamento a namorada, Catarina Gama, em pleno concerto no Coliseu de Lisboa, no dia 18 desse mês, não hesitou em partilhar o segredo com o amigo. Juntos planearam o momento ao pormenor – e no fim da noite acabaram todos a «chorar». Definiram com todo o pormenor aquele concerto, como fazem sempre desde que trabalham em parceria. Um dos mais recentes projetos é o single com Ana Moura, que será lançado em breve. Estão também a preparar idas à Suíça, à Espanha, à Madeira e, provavelmente, ao Brasil.
«Somos os dois workaholics», explica Hugo, que acredita tratar-se de uma dupla predestinada, recordando o verão de 2013 em que o viu depois daquele concerto no Loft. «Tinha-lhe perdido o rasto, mas quando estava como diretor artístico no Meo Spot, no Algarve, uma amiga apareceu com um namorado que era ele. Estivemos imenso tempo a falar nesses dias e resolvemos que no fim das férias íamos juntar-nos e levar as carreiras mais a sério.» Ele como agente de artistas e o amigo como músico. «Foi o momento de viragem» na carreira dos dois, admitem.
Agir, que com 12 anos começara a publicar na internet as maquetas de música que compunha e produzia em casa, tinha participado, em 2007, no Festival da Canção (Dá-Me a Lua); tinha integrado, em 2008, uma música no álbum do pai, Paulo de Carvalho (O Meu Mundo); tinha lançado, em 2010, o álbum Agir; e tinha conquistado sucesso no YouTube. Pelo meio usou rastas grossas no cabelo, aderiu aos alargadores nas orelhas e começou a encher o corpo com tatuagens – a primeira foi um diamante no braço quando tinha 20 anos. Naquele verão de 2013 tinha também terminado um período de reflexão – tinha passado por vários estilos musicais, como reggae, dance hall, hip hop e R&B – e preparava-se, recorda, «para lançar o EP Alma Gémea», com inspiração soul». Sabia o que queria, mas precisava que o ajudassem a pôr as «ideias em prática». A ligação a Hugo, que em 2013 formou com Paulo Silva e Miguel Galão a WAM – We Are Music, foi a solução.
No ano seguinte lançaram a mixtape #agiriscoming e fizeram o primeiro concerto como equipa no Musicbox. «Era o dia dos meus anos», recorda Agir, falando da noite de 18 de março de 2014, em que fazia 26 anos e que para Hugo foi o momento em que todos perceberam a real dimensão do fenómeno. «Eram 23 horas, e o álbum que ia cantar tinha sido lançado às onze da manhã. Mas os miúdos já sabiam de cor as letras, o que significava que tinham passado o dia todo a ouvi-la. Foi aí que me caiu a ficha.» Nunca mais pararam: «Já fizemos mais de 150 concertos juntos e enchemos dois coliseus», pormenoriza Hugo, lembrando que 2015 foi o ano de muitos êxitos com o álbum Leva-Me a Sério. E em que, acrescenta Agir, ganharam o Globo de Ouro.
Em 2016, tornaram-se sócios da WAM e o músico trouxe o primeiro cliente: o pai, Paulo de Carvalho, que neste ano completa 70 anos de vida e 55 de carreira, e é ele, Agir, quem está, como diretor artístico, a preparar as comemorações. Hugo e Agir – que o primeiro trata por Bernardo – falam todos os dias, pelo menos ao telefone. É comum o músico ter ideias em grande. Já Hugo é mais terra-a-terra. «Liga-me e debita 50 ideias seguidas», descreve o manager, que do outro lado da linha ouve sem interromper. Muitas vezes discutem, contam. «Aliás, raramente concordamos», corrige Agir. O amigo confirma: «Acho que discutimos diariamente.» Mas tudo termina sempre bem. É que, como dizem, desde o início este «foi um casamento feliz».