Texto de Marcelo Teixeira
Foram descobertos oito novos astros a orbitar uma estrela a 2545 anos de luz da Terra e já fora do sistema solar. A descoberta foi feita pela NASA em parceria com a Google, que desenvolveu a tecnologia de inteligência artificial que permitiu o achado.
João Pedro Rodrigues, engenheiro físico no Centro Linear de Stanford, em Silicon Valley, confirma as expectativas à Notícias Magazine. «É um avanço surpreendente, mas que certamente não ficará por aqui. Tudo indica que a utilização de inteligência artificial vai permitir acelerar a descoberta de planetas que possam eventualmente suportar vida humana no futuro».
Para João Pedro Rodrigues, o fascinante nesta descoberta é «ter sido a inteligência artificial a detetar algo que sempre escapou aos olhos humanos».
Desde o lançamento do telescópio Kepler na busca por novos planetas já foram identificadas 200 mil novas estrelas. Para o cientista português o fascinante nesta descoberta é «ter sido a inteligência artificial a detetar algo que sempre escapou aos olhos humanos».
E há uma explicação. «Dada a enorme quantidade de dados disponíveis, a utilização das técnicas tradicionais exigiria décadas para conseguir analisar em detalhe toda a informação e é neste ponto que a inteligência artificial ganha relevância, não só pela rapidez, mas pelo nível de detalhe com que é capaz de analisar a informação», diz.
Christopher Shallue e Andrew Vanderburg são os investigadores principais responsáveis pela novidade. Foram eles que implementaram um computador que identifica exoplanetas, através da mudança de luminosidade emitida por uma estrela quando um planeta se atravessa à sua frente.
E foi nesse campo que a Google se revelou essencial. João Pedro Rodrigues simplifica o processo com uma analogia «se descrevermos o sabor de um alimento através de um conjunto de características: doce, amargo, salgado, ácido, por muitas características que utilizemos, a probabilidade de alguém identificar o alimento a que nos referimos é muito reduzida. Por outro lado, se dermos esse alimento a provar a pessoa vai poder comparar a totalidade da experiência gustativa (que é muito mais do que um conjunto de adjetivos) com todas as suas experiências passadas e facilmente identificará de que alimento se trata.»
«A inteligência artificial vai ter um papel central na interpretação da informação recolhida nos aceleradores de partículas, telescópios ou detetores de partículas cósmicas como os neutrinos ou a matéria escura», diz o investigador que espera descobertas cada vez mais surpreendentes.
«Esta abertura de portas a empresas privadas em áreas da ciência e tecnologia contribui para a descentralização de competências e investimento material e humano, o que só pode ser positivo para a inovação»
Para João Pedro Rodrigues, há ainda outra camada não menos importante nas revelações, que implica a colaboração de agências governativas com empresas privadas. «Esta abertura de portas a empresas privadas em áreas da ciência e tecnologia, que outrora estavam sob o controlo e operação exclusiva de agências governamentais, vem contribuir para a descentralização de competências e investimento material e humano, o que só pode ser positivo para a inovação».
Para Portugal o conselho que deixa é simples: «A Agência Espacial Europeia tem vindo a implementar uma estratégia semelhante, embora a uma menor escala e algumas empresas portuguesas já são parte crucial dos seus programas. É uma indústria com um notável crescimento e Portugal deve continuar e acelerar a sua aposta nesta área».