Quando ela tinha 15 anos fez o primeiro truque com Luís de Matos num palco. A cumplicidade foi tal que hoje a farmacêutica Joana Almeida é a principal assistente do mágico, sabe os segredos de todas as ilusões e andam juntos pelo mundo a fazer espetáculos. Em março vão partilhar um programa de televisão.
Dez mil pessoas. Era o número de espetadores naquela noite de 2001, no Pavilhão Atlântico, em Lisboa. Joana Almeida tinha apenas 15 anos e fez a primeira magia com Luís de Matos. «Era uma ilusão chamada Bits and Pieces, criada por Jim Steinmeyer», recorda a farmacêutica de 30 anos, lembrando a noite em que o seu papel no espetáculo Utopia foi entrar numa caixa suspensa que o ilusionista dividiu em cinco partes, e reaparecer na mesma caixa, que entretanto foi remontada no chão. A empatia entre os dois foi tal que Joana se transformou rapidamente na principal assistente de Luís de Matos, que não tardou em revelar-lhe todos os seus truques. E nem contrato de confidencialidade assinou.
«Ela sabe todos, tanto nos que participa como naqueles em que não entra», diz o ilusionista de 46 anos, que está agora a preparar o seu novo programa de televisão, na RTP, que começa já em março e no qual conta com a ajuda de Joana.
Um e outro acreditam que a cumplicidade que criaram ao longo dos 15 anos em que trabalham juntos é de tal forma especial que tem permitido resultados surpreendentes. «Ela faz ilusões como ninguém. Vários mágicos fizeram versões da Bits and Pieces, mas na comunidade mágica a nossa é a mais impressionante devido à rapidez e à cumplicidade da Joana», garante Luís. Apesar de já terem feito perto de quarenta ilusões diferentes nestes anos, a primeira ainda é a «preferida» de Joana.
Os dois tinham‑se conhecido uns meses antes do espetáculo do Pavilhão Atlântico, quando ela fez um casting para bailarina num programa de televisão que o mágico tinha na época na RTP, o Luís de Matos ao Vivo. «Trabalhámos pela primeira vez cinco ou seis meses no programa», diz Luís. «Depois surgiram outros projetos e cada vez mais a Joana se tornou a coprotagonista». Ela sorri e retribui o elogio: «Para mim é um orgulho trabalhar com o Luís porque, além de ser um dos maiores mágicos de sempre, é um ser humano encantador.»
Nos últimos anos têm partilhado palcos por todo o mundo. Andaram de norte a sul do país a dar espetáculos, fizeram vários programas de televisão, incluindo uma série em Espanha e um show em França e percorreram o estrangeiro com produções – estiveram na China, em 2009, no Brasil, em 2015, e na Ásia, em 2016, onde participaram no espetáculo The Ilusionists, com alguns dos melhores mágicos mundiais. No último ano passaram também seis semanas em Londres com o espetáculo Impossible Live. «Chegávamos a fazer dois espetáculos por dia com a sala sempre esgotada», lembra Luís de Matos.
Joana aproveita para contar um episódio que viveram em Londres e que, diz, revela uma caraterística marcante do amigo: o improviso. Certa noite o sistema de iluminação avariou e a equipa estava desesperada. «Mas o Luís entrou tranquilamente no palco, começou a falar com o público e, enquanto os técnicos resolviam o problema, ele tornou aquele momento absolutamente tranquilo, como se nada se passasse.»
De tudo o que fazem juntos, o mais difícil, admitem, são as levitações. «Já fizemos várias versões que passam por criar a ideia de que a Joana está suspensa no ar, a flutuar ou a voar sem causa aparente que o justifique », diz o mágico. «É um trabalho complexo e um exercício muito violento em termos físicos.» Fora de cena gostam de estar um com o outro. Vão ao cinema, jantam fora. «Coisas próprias da nossa cumplicidade, da qual usamos e abusamos», diz Luís. Ele viu Joana acabar o liceu, a concluir a licenciatura, a tornar‑se farmacêutica e a concretizar «o sonho de abrir uma farmácia».
Ela já o conheceu como um mágico conceituado, mas assistiu depois ao seu reconhecimento: entrou para o Guinness Book of Records ao fazer desaparecer 52 mil lenços azuis na inauguração do Estádio do Dragão, no Porto, em 2003, ganhou vários prémios e foi condecorado pelo presidente da República Cavaco Silva, em 2014. «Apesar de ser eu o mágico, as pessoas percebem que aquilo que viram é o resultado do trabalho dos dois», garante Luís. Por isso, diz, no fim da noite acontece sempre o mesmo: «Tomamos o aplauso juntos.»