Texto Ricardo J. Rodrigues | Fotografias Arquivo DN
«Espetáculos para as classes pobres». O título da página 7 do Diário de Notícias de 18 de agosto de 1935 anunciava uma nova filosofia de regime.
Nos dias seguintes, haveriam de sair notícias de outras iniciativas do mesmo calibre: uma regata, abertura das colónias balneares, refeitórios populares e o entretenimento gratuito para as classes trabalhadoras (e miseráveis) do país.
O promotor de tudo isto era a Federação Nacional para a Alegria no Trabalho, ou FNAT, que a partir da revolução passaria a chamar-se INATEL.
«O Secretariado Nacional iniciou ontem sessões de cinema gratuitas para as classes populares», lê-se na legenda desta imagem. «O recinto escolhido foi a magnífica esplanada do recinto de São Pedro de Alcântara, onde acorreram centenas de pessoas que presenciaram vários documentários focando a ação do Estado Novo em diversos setores da vida nacional, entre os quais um sobre a vida do Sr. Presidente da República.»
É relativamente consensual entre historiadores que a FNAT foi uma das mais eficazes e estáveis ferramentas de propaganda da ditadura portuguesa. Hitler e Mussolini tinham criado anos antes modelos semelhantes de turismo social e ocupação de tempo livre: a Kraft durch Freude e a Dopolavoro, respetivamente.
Num país com ordenados miseráveis e uma fome de séculos, não foi difícil que o organismo ganhasse um tremendo apoio popular. Para muitos, foram as primeiras férias – e foram uma alegria. Mesmo que uma parte do programa fosse dedicado à evangelização política.