Dieta do chocolate. Parece bom de mais para ser verdade. Mas não deite já foguetes. É de chocolate negro que se trata. O neurocientista e nutricionista Will Clower garante que comer este chocolate, com altas percentagens de cacau, fazer menos refeições por dia e optar pela dieta mediterrânica é a fórmula mágica para sermos mais magros e saudáveis.
Todos adoramos coisas proibidas. Transformar o chocolate num alimento autorizado e saudável não é acabar com o prazer que dá comê-lo?
_Sim, eu sei. As pessoas, de facto, adoram prazeres com culpa! Mas, neste caso, podemos retirar a parte da culpa e deixar só o prazer. Esta dieta dá às pessoas permissão para gostar deste alimento maravilhoso e saudável e fornece uma série de desafios para que se possa usar o chocolate para criar comportamentos alimentares saudáveis.
Quais é que são os grandes benefícios do chocolate negro? O que justifica tê-lo como um alimento tão presente na nossa dieta?
_Bom, em primeiro lugar é importante ter presente que a maioria das propriedades benéficas do chocolate vêm do cacau. As pesquisas científicas sobre chocolate com alta percentagem de cacau mostram que é bom para o coração, para a prevenção de doenças oncológicas, para a pele, para o estado emocional e mesmo para o funcionamento do metabolismo.
Mas, nos últimos anos, todos os dias são publicados estudos sobre os benefícios de alimentos que, muitas vezes, se contradizem. Quão fiáveis são os estudos que defendem que o cacau faz bem?
_É verdade, e é frustrante quando a ciência da nutrição parece inverter-se a cada cinco anos. No caso do chocolate, a chave da investigação é o cacau, e o aspeto mais estudado do cacau são duas espécies de antioxidantes chamados catequinas e epicatequinas. A pesquisa em relação aos benefícios destes dois antioxidantes é sólida como rocha. A haver dados que entram em conflito, é porque o teor de cacau do chocolate não foi controlado.
Usamos a palavra chocolate para uma variedade de alimentos muito diferentes e este não é todo igual. Como podemos distinguir o «chocolate bom» do «chocolate mau»?
_Sim, o chocolate é como o sexo: vende. Por isso, quem faz produtos alimentares e quer que eles desapareçam rapidamente das prateleiras só tem de usar expressões como «choco», «achocolatado», «chocodelicioso» ou qualquer outra palavra derivada. Por essa razão, há muitos produtos que são mau chocolate. Podemos reconhecê-los porque não dizem qual a percentagem de cacau que têm e porque estão carregados de açúcar.
Defende que o chocolate bom é o negro, com pelo menos 50 por centro de cacau. Mas este não é o favorito da maior parte das pessoas, exatamente por ter muito cacau e nenhum do açúcar a que estamos habituados. Temos de reeducar o nosso paladar para aprender a apreciá-lo?
_Sim, e é mesmo essa a expressão: reeducar o paladar. Apesar de as pessoas afirmarem com frequência que não gostam de chocolate negro, precisamos de ter presente que o nível de doçura ao qual o nosso paladar está habituado é modificável. Se quisermos aprender gostar de chocolate saudável podemos fazê-lo.
Como?
_Podemos começar esta dieta com um chocolate com a percentagem de cacau a que estamos habituados e, muito lentamente, ir subindo essa percentagem. Cada vez que aumentamos o cacau, devemos ficar nesse patamar durante cerca de uma semana, de forma a que isso se torne o «normal» para nós. E é só continuar dessa forma até atingirmos a percentagem de cacau que queremos alcançar.
Até porque é da percentagem de cacau que depende a dose diária de chocolate permitida…
_Sim, a quantidade de chocolate que podemos comer por dia tem por base a quantidade do chocolate, ou seja, a percentagem de cacau. No livro existe uma tabela que mostra essa relação em detalhe, mas a regra geral é esta: quanto mais negro for o chocolate, mais podemos comer.
Esta dieta propõe também usar o chocolate para deixar de ser guloso. Como exatamente?
_Nós temos uma espécie de doença do sobreconsumo. E isto cria problemas de peso e de saúde a longo prazo. As pessoas comem tudo o que lhes apetece, mas isso é demasiado para as necessidades fisiológicas. Se for comido uns minutos antes da refeição, o chocolate com alta percentagem de cacau ajuda a reduzir a vontade de comer.
Os menus que apresenta no livro podem ser surpreendentes para muita gente: comer dois pedaços de chocolate e meio copo de vinho, como entrada, ao almoço e ao jantar, é uma ideia à qual não estamos habituados.
_Sim, mas são estes dois pequenos quadrados de chocolate de qualidade, antes da refeição, que são capazes de reduzir os desejos que levam aos excessos durante a refeição. A meia taça de vinho é opcional, coloquei-a porque combina bem com o chocolate.
Também o número de refeições diárias que propõe – três – vai contra tudo aquilo que nos têm dito para fazer nos últimos anos: que devemos comer muitas vezes ao longo do dia.
_A ideia é voltar aos padrões tradicionais de alimentação que incluem apenas três refeições por dia, com muito poucos lanches no intervalo. É verdade que uma das mais recentes teorias das dietas é comer a cada três horas. No entanto, esta abordagem, além de ineficaz no controlo do peso, tem por base premissas sem fundamento.
Que premissas?
_As minirrefeições ao longo do dia têm por base duas ideias: que o ato de comer acelera o metabolismo, devido ao chamado «efeito térmico dos alimentos», o que potencia a queima de calorias e a perda de peso, e, por outro lado, que não comer entre refeições faz-nos entrar num «modo de privação» no qual o organismo vai agarrar-se a toda a gordura que tem e subverter assim as nossas tentativas de um dia cabermos numas calças mais pequenas…
E o efeito térmico dos alimentos não é real?
_É real e foi medido: quando comemos, queimamos entre cinco e quinze por cento do total de calorias da refeição, só pelo facto de estarmos a comer. Mas a verdade é que embora estejamos a queimar calorias, também estamos a adicioná-las, e em maior número. É como ir a uma loja que está com dez por cento de desconto e dizermos: «Vou comprar muitas coisas porque estou a poupar dinheiro.» É gastar para poupar, mas continua a ser gastar. Além disso, estas minirrefeições têm menos efeito sobre a aceleração do metabolismo por comparação com uma refeição normal.
Calculo que também não concorde com a ideia de que entramos em modo de «mortos de fome» agarrando-nos a todas as gorduras do organismo.
_Não faz sentido e tem zero de investigação científica de suporte. Para entrar nesse estado metabólico de alerta vermelho da fome e começar a segurar toda a nossa gordura, precisaríamos de consumir apenas 500 calorias por dia, durante cerca de dez dias seguidos.
Resumindo: comer muitas vezes ao dia não é uma boa política para quem quer emagrecer?
_Há pessoas que conseguem perder peso a fazer esta dieta, como conseguem com muitas outras igualmente erradas. Mas os estudos indicam que não ajuda a maioria das pessoas a perder peso. Se pusermos uma imensidão de pessoas a fazer essa dieta e avaliarmos estatisticamente se há um efeito significativo de perda de peso, veremos que não há. Em alternativa, sabemos que, nos tempos em que éramos mais magros do que somos hoje, os hábitos alimentares não passavam por fazer lanches de três em três horas. Nesses tempos, o padrão era fazer três refeições por dia e todas de comida de verdade.
E a comida de verdade leva-nos à dieta mediterrânica. É um grande defensor deste tipo de alimentação, que benefícios traz?
_ Tem sido repetidamente demonstrado que a dieta mediterrânica tradicional é uma das mais saudáveis do mundo. É importante perceber, no entanto, que ela é a expressão de uma cultura, não uma invenção para solucionar os nossos problemas de saúde ou de peso. Uma vez pediram-me para escrever um artigo para um jornal francês sobre o que fazer em relação ao crescente problema do aumento de peso. A minha resposta foi que devíamos manter os hábitos que deram origem a esta dieta, uma das mais saudáveis, e não nos distrairmos com as modas que vão e vêm. Há todo um conhecimento incorporado na cultura mediterrânica que é inestimável: são os hábitos culturais que estão na base do sucesso desta dieta. Por isso, não os deixem desaparecer.
E não é exatamente por isso que é difícil estendê-la ao resto do mundo? Como adaptá-la a outras regiões onde a cultura e a produção local não é a mesma?
_Essa é uma questão importante e a solução para esse problema é pensar nos princípios, não nas particularidades. Por outras palavras, os princípios que norteiam o sucesso da dieta mediterrânica são estes: comer comida de verdade, não falsos alimentos; apostar no peixe em vez da carne; amar a comida, o que significa focarmo-nos no sabor e no paladar, em vez de a devorar sem a apreciar, e voltar ao hábito de fazer refeições à mesa e em família. Todos estes princípios podem ser aplicados a todas as culturas e, assim, transmitirem os princípios bem-sucedidos da dieta mediterrânica em todo o mundo.
QUEM É WILL CLOWER?
Reconhecido neurocientista e nutricionista norte-americano, depois do doutoramento nos EUA, viajou pela Europa para estudar o cérebro e acabou rendido ao estilo de vida e alimentação mediterrânicas. Uma das suas batalhas é o combate à obesidade infantil, missão que leva a cabo com a Action for Healthy Kids Organization, uma organização apadrinhada pela Casa Branca.