Faz um ano que foram publicadas as conclusões de um grande estudo sobre a eficácia da homeopatia, conduzido pelo National Health and Medical Research Council, a principal agência australiana que financia investigação médica. Considerados 176 ensaios clínicos e 57 revisões sistemáticas, que incidiam sobre 68 condições clínicas, tais como artrite ou sida, a homeopatia provou ser eficaz no tratamento de… nenhuma.
A conclusão dificilmente surpreende quem tenha estado acordado nas aulas de Química do secundário. Os remédios homeopáticos são preparados a partir de qualquer coisa, através de um grande número de diluições, de tal modo que no final não sobra nada, a não ser água e o açúcar dos comprimidos para onde as gotinhas mágicas podem ser escorridas. Em 2010, um relatório da comissão de ciência do Parlamento britânico tinha chegado à mesma inevitável conclusão. Uma pesquisa na Cochrane Colaboration, uma colaboração internacional que faz revisões da literatura médica, revela que nenhum remédio homeopático passa de placebo.
Na realidade, sabe-se que a homeopatia não funciona desde pelo menos 1909, quando o físico francês Jean Perrin ganhou o Nobel por ter determinado com grande precisão o número de moléculas que existem numa certa quantidade de matéria (constante de Avogadro). Nos remédios homeopáticos, o número de moléculas da suposta substância ativa é… zero. É por isso que muitos homeopatas dizem que a água tem memória e se lembra das moléculas, mesmo depois de estas já terem ido para o cano. E defendem que o imunologista francês Jacques Benveniste, que protagonizou uma espetacular fraude científica para tentar provar essa ideia errada, deveria ter ganho o Nobel. Mas o que ganhou foram dois prémios IgNobel, seus equivalentes humorísticos. O primeiro, em 1991, por ter descoberto que a água é um líquido que se lembra das coisas, o segundo, em 1998, pela conclusão adicional de que essas memórias aquáticas podem ser enviadas pelo telefone.
Revisão atrás de revisão, qualquer análise honesta não pode concluir outra coisa a não ser que a homeopatia funciona tão bem como comprimidos de açúcar, porque… bem, são comprimidos de açúcar. Ora, segundo um decreto-lei publicado em outubro para regular a publicidade em saúde, «apenas devem ser utilizadas informações aceites pela comunidade técnica ou científica». O que não é claramente o caso da publicidade às mezinhas homeopáticas. Até quando continuará impune?
Periscópio
UM UNIVERSO DESLUMBRANTE
É o nome da exposição que a partir da próxima sexta-feira estará patente no edifício do Instituto de Tecnologia Química e Biológica (http://www.itqb.unl. pt/), na Estação Agronómica Nacional, em Oeiras. Comissariada pelo investigador José Afonso, reúne espetaculares imagens captadas pelos telescópios do Observatório Europeu do Sul (ESO) ao longo dos últimos cinquenta anos. A inauguração conta com um programa aberto ao público, a partir das 19h00, que inclui uma palestra sobre «A biologia no espaço» (pelo investigador Adriano Henriques), observações astronómicas (pelo Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço) e sessões de planetário (pelo Centro Ciência Viva de Sintra).
[Publicado originalmente na edição de 13 de março de 2016]