... e a ciência moderna comprova.
Há quem veja os ensinamentos milenares como atos de ignorância. E poderia até insistir em considerá-los disparatados, para sempre, só porque sim, não fosse a ciência estar a comprovar resultados que outros já sabem há muito.
É conhecimento à prova de tempo.
1 Está tudo ligado
Somos energia e informação. Nada de matéria sólida, nem de corpo e mente separados. A consciência é a base de todo o ser, garante Amit Goswami, professor de física quântica na Universidade de Oregon, EUA, e pensador educado na tradição hindu. Vendo esgotar-se a filosofia que há séculos domina a ciência – apenas a matéria é real –, formulou a teoria do idealismo monístico, capaz de interpretar sem paradoxo a física quântica. «Em vez de postular que tudo, incluindo a consciência, é constituído de matéria, esta filosofia mostra que tudo, incluindo a matéria, existe na consciência e é por ela manipulado.» Fenómenos mentais como o livre-arbítrio, a autoconsciência ou a percepção extrassensorial são facilmente explicados num contexto abrangente de idealismo monístico e teoria quântica, diz. «A ciência tem provado a superioridade disto sobre o dualismo, o espírito separado da matéria. Ao perceber que a realidade é só uma coisa, aí sim, conseguiremos transformar-nos.» E com a transformação individual começará a transformação do mundo. Shakespeare tinha razão ao escrever que somos feitos da mesma matéria dos sonhos.
2 Meditar pela luz interior
Fala-se em meditação e pensamos num ser iluminado que se senta silencioso, em posição de lótus, comungando com o divino. Para o formador de mindfulness Gonçalo Pereira (Sagara), de raízes profundas na meditação budista, é uma ferramenta para que a mente aprenda a chamar-se ao presente. Vasco Gaspar, especialista em inteligência emocional, prefere encará-la como um conjunto de técnicas que nos ajudam a cultivar estados mentais saudáveis. Buda ensinou mais de 80 mil práticas para alcançar o nosso eu verdadeiro mas, ainda que seja difícil provar esta via de acesso a uma sabedoria superior, a ciência mostra a relação entre a meditação e uma maior atividade do lado esquerdo do córtex pré-frontal, responsável pela resiliência e a boa gestão emocional. Isso mesmo revelou o neurocientista Richard Davidson, que usou eletroencefalogramas para medir a sua teoria e concluiu que o monge budista francês Matthieu Ricard é o homem mais feliz do mundo. Outros estudos, como os da investigadora Sara Lazar, da Universidade de Harvard, dão ainda conta de que o cérebro muda consoante as atividades praticadas (a chamada neuroplasticidade). Sara constatou que certas zonas do cérebro ligadas ao sentir do próprio corpo, à atenção e ao processamento sensorial são mais espessas em meditadores do que em quem não medita.
3 O milagre da respiração
Segundo o Hatha Yoga Pradípiká, um guia clássico para a prática avançada de hatha yoga (método tântrico com raízes na Índia antiga que ganhou especial força a partir do século IX), a respiração é um fenómeno tão complexo que merece ser dividido em oito tipos de expansão e controlo: as retenções ou kúmbhaka. O texto do século XIV sugere que estas despertariam o poder psíquico latente no ser humano, kundaliní shaktí, e explica que enquanto a respiração (prána) for irregular, a mente permanece instável. Pelo contrário, uma vez dominada a respiração – cada movimento de inspiração e expiração, as pausas, o ar a passar na barriga, peito e narinas –, os yogis estavam aptos a controlar o funcionamento interno do corpo e a desenvolver novas capacidades mentais. Por norma respiramos mal, de forma automática e inconsciente, sem nos preocupamos devidamente com isso, avisam os especialistas que hoje se debruçam sobre o tema. Investigadores da Universidade Stanford (EUA), por exemplo, relacionam exercícios respiratórios com o controlo da dor crónica recorrendo a menos medicação.
4 Yoga entre o céu e a terra
São bíblias da prática clássica hindu as obras Yoga Sûtra (sistematizado por Patañjali no século III) e o Hatha Yoga Pradípiká de Svātmārāma, mas escrituras sagradas referem o yoga ainda na era védica, quatro mil anos antes de Cristo. E a verdade é que os cientistas atuais não têm nenhuma vontade de lhes chamar loucos, à luz do que vão descobrindo tanto tempo depois. O yoga opera mudanças no sistema nervoso simpático, diminuindo a resposta natural do corpo ao stress; aumenta os níveis de dopamina, serotonina e ácido gama-aminobutírico (três neurotransmissores usados em ansiolíticos e antidepressivos); atua sobre o sistema parassimpático, que permite ao corpo restaurar-se após picos nervosos; fortalece as funções do coração e do cérebro; alivia a dor crónica das costas; melhora os sistemas hormonal, imunológico e a saúde em geral. Stephen Cope, fundador do Kripalu Institute for Extraordinary Living, Massachusetts, sublinha ainda o facto de oferecer treino de atenção e raciocínio, sincronizando mente e corpo. «Ramakrishna diz que o objetivo da vida humana é encontrar Deus cara a cara, mas a magia é esta: se saborearmos o mundo, o corpo, encontrá-lo-emos.»
5 Massagem que cria laços
As mães indianas descobriram há milénios que o toque e o calor das mãos, toda aquela energia poderosa transmitida aos seus bebés, é fundamental para o desenvolvimento integral do ser humano. Eles choravam com cólicas ou a reclamar atenção? As mães massajavam-nos. Regular o sono? Eliminar tensões? Mais massagens. A elas, bastava-lhes a intuição para constatarem os benefícios da Shantala nos filhos, sem desconfiarem que o Ocidente moderno validaria aquele conhecimento empírico que praticavam sem vacilar. «Sim, os bebés têm necessidade de leite, mas muito mais de serem amados e receberem carinho. De serem embalados, acariciados, pegados ao colo e massajados», confirma o médico francês Frédérick Leboyer depois de na década de 60, a visitar a Índia, ter conhecido e documentado uma mãe – Shantala – sentada no chão a massajar o filho sobre as pernas. Além de se aprofundar o vínculo afetivo entre pais e bebés, diversas pesquisas atestam um reforço da imunidade da criança, melhoria do sono, da circulação e do desenvolvimento psicomotor, aumento saudável do peso, alívio de cólicas, redução de stress e aumento da autoestima.
6 Vida longa à curcuma
Os nomes que lhe damos – curcuma longa, curcuma doméstica, turmérico, açafroa, açafrão-das-índias, açafrão-da-terra, gengibre amarelo ou raiz-de-sol – são tantos quantos os benefícios que hoje se atribuem a esta planta asiática, requisitada para perfumes e como corante pela indústria alimentar depois de transformada em pó (não confundir com o açafrão). Estima-se que a tradição védica use a curcuma há pelo menos quatro mil anos e estudos atuais comprovam o respeito dos antigos: anti-inflamatório poderoso, impede a peroxidação lipídica, atuando contra doenças cardiovasculares como a aterosclerose e danos oxidativos do ADN. É antissética e um antibacteriano natural, além de desintoxicar o fígado. Trabalha contra o envelhecimento precoce da pele e a progressão da doença de Alzheimer. Protege ainda contra o cancro, condições oculares e gastrointestinais, artrite, pancreatite, doenças cardiovasculares e muitas outras, o que faz dela uma super-heroína certificada em matéria de saúde.
7 A morte não é o fim
Reencarnação. Viver após a morte num novo plano espiritual. A vida na terra como parte de um ciclo eterno de renascimentos. Os antigos orientais aceitavam naturalmente a premissa de uma evolução consciente do espírito, ao passo que a ciência materialista sempre se demarcou da espiritualidade. Até o especialista em medicina regenerativa Robert Lanza, eleito um dos mais importantes cientistas vivos pelo The New York Times, ter demonstrado existir vida depois da morte de um ser humano no livro Biocentrismo: como a vida e a consciência são as chaves para entender a natureza do universo. A teoria resumida sugere que a morte da consciência não existe a não ser como um pensamento, porque as pessoas se identificam com o seu corpo. Outro estudo divulgado na revista científica Resuscitation, da autoria de investigadores da universidade inglesa de Southampton que estudaram vítimas de paragem cardiorrespiratória, concluiu que perto de 40% dos sobreviventes apresentavam alguma forma de consciência no instante em que os declararam clinicamente mortos.