Portugal, um oásis para mulheres cientistas?

Notícias Magazine

Em 1970, quatro mulheres e 56 homens concluíram um doutoramento em Portugal (dados da Pordata). Dez anos mais tarde, um em cada três doutoramentos já foi feito por uma mulher. A participação feminina subiu de modo consistente até que, em 2006, pela primeira vez, a maior parte dos doutoramentos no nosso país foram concluídos por mulheres: 678, mais sessenta do que por homens. Em 2007, ainda assistimos a uma tímida reação do cromossoma Y, sendo esse o último ano com um superavit doutoral masculino, de 62. A partir daí as mulheres assumiram a dianteira. Dos 2668 doutoramentos de 2013, 55 por cento foram feitos por mulheres. Segundo dados compilados pela revista Scientific American, em 2010 Portugal foi, entre 56 países, aquele que teve maior percentagem de mulheres no total das pessoas que concluíram um doutoramento. Bem à frente dos Estados Unidos, da Espanha ou do Reino Unido. O crescimento da ciência com a concomitante afirmação feminina é uma excelente ilustração do progresso social dos anos de democracia. E esta evolução não é surpreendente tendo em conta que, desde pelo menos 1994, em cada ano muito mais mulheres do que homens concluem um curso superior em Portugal. No ano passado, 59 por cento dos novos diplomados foram mulheres.

É certo que nos patamares mais elevados das hierarquias ainda dominam os homens. Embora Portugal já tenha conhecido uma ministra da Ciência, uma secretária de Estado da Ciência e Tecnologia e uma presidente da Fundação para a Ciência e Tecnologia, no topo da carreira académica a participação feminina é bastante reduzida. Entre os 15 membros atuais do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas, há apenas duas mulheres. Mas é necessário ter em conta o fator geracional: afinal as pessoas que se doutoraram em 2006 muito dificilmente poderão ser agora professores catedráticos, independentemente do seu género. Entre 2010 e 2014, a percentagem de mulheres à frente de instituições de investigação em Portugal subiu de 22 por cento para 33 por cento (dados do relatório «She Figures 2015», da Comissão Europeia). Somos o sexto país europeu com mais mulheres dirigentes, entre 28 considerados.

Não quero de modo nenhum defender que não persistem questões de género em Portugal que devem ser enfrentadas. E as mulheres cientistas não estão numa bolha, imunes ao assédio ou à objetificação. Mas, mesmo que não estejamos na situação ideal, no panorama internacional somos líderes e um exemplo de participação de mulheres na ciência.

PERISCÓPIO

RESISTIR AOS ANTIBIÓTICOS EM SINTRA

O Centro Ciência Viva de Sintra, no antigo edifício da Garagem dos Elétricos, na terceira paragem (Ribeira) da linha que liga a vila à Praia das Maçãs, inaugurou neste mês a exposição Resistir: Quando as Bactérias Sobrevivem aos Antibióticos. A mostra contou com o acompanhamento científico do Instituto de Tecnologia Quimíca e Biológica e com o envolvimento de professores e alunos da região. Modelos tridimensionais de células e vírus, banda desenhada e vídeos são algumas propostas. Mais informações em cienciavivasintra.pt.

LADY GAGA DA MATEMÁTICA

Cédric Villani é um exuberante matemático francês que se autointitula «a Lady Gaga da matemática». Falta de modéstia? No seu livro Teorema Vivo, agora editado em Portugal pela Gradiva, conta como construiu na sua cabeça, durante quase dois anos, o avanço matemático que em 2010 lhe valeu a Medalha Fields, o mais prestigiado prémio da disciplina. Vale a pena ler para tentar perceber o homem para lá da mente.

[Publicado originalmente na edição de 22 de novembro de 2015]