Clube de cavalheiros elegantes

Originalmente, na Inglaterra no século xviii, era um «homem de bom gosto e apurado sentido estético, que não pertence à nobreza». O termo teve algumas variações, mas continua a adaptar-se a quem se preocupa muito com a aparência. «Homens janotas em fatos elegantes» também podia ser uma boa definição. Alguns juntaram-se e formaram o Portuguese Dandy’s, o primeiro clube português dirigido aos apreciadores desta estética. A boa notícia? Qualquer pessoa pode ser membro. Desde que seja dandy.

Queremos promover uma forma de estar, de vestir, de sentir. No fundo, de viver o que de melhor existe em Portugal.» Rui Martins, de 32 anos, gestor de loja, é um dos 13 fundadores do Portuguese Dandy’s. Garante que não se trata de um projeto comercial, não querem ganhar dinheiro e não querem estar associados a marcas .«Queremos apenas pro­mover a troca de ideias em torno deste ideal.»

A palavra dandy tem origem na Inglaterra do sé­culo xviii e personifica o homem de bom gosto, com sentido estético, elaborado, sem relação dire­ta à nobreza. Cavalheiro, um pouco leviano, char­moso, pseudointelectual (não é necessariamen­te um homem das letras ou culto, mas pretende sê-lo), esteta, bem falante, apreciador das coisas boas da vida. Entre os dandies que fizeram história, Oscar Wilde (1854-1900) e Lord Byron (1788-1824) estarão entre os mais famosos de todos os tempos. Em comum, independentemente da época e da pro­fissão, estes homens partilhavam o culto da imagem e, em alguns casos, eram inovadores na postura, nos cuidados físicos e de vestuário.

O século XX foi rico em contrastes. Até ao início da Primeira Guerra Mundial, os homens mantinham gosto e prazer em vestir-se bem e mostrá-lo. Com a Segunda Guerra Mundial a postura diluiu-se por motivos militares e socioeconómicos – passou a ser a mulher, a partir da década de 1950, a cultivar um no­vo estilo com os grandes costureiros franceses.

Portugal não tem uma cultura reconhecida pe­lo seu inovador ou ousado sentido estético, mas as duas ou três últimas décadas  têm demonstrado que os portugueses estão cada vez mais recetivos e atraí­dos pela moda, pela imagem e pelo bem-estar físico. Pro­va disso são as subculturas que voltaram a renascer do anonimato sem preconceitos e pouco preocupa­das com rótulos. Nos últimos anos assistimos a uma nova postura, no masculino, com estilos que vinga­ram e fizeram história no passado, como o punk ou o hippie – os dandies, em que a imagem acaba por ser o ponto forte e a referência, são outro bom exemplo.

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A ideia de criar o Portuguese Dandy’s, surgiu de conversas que 13 amigos iam tendo sempre que se encontravam. Oriundos de diferentes partes do pa­ís – e até do estrangeiro – e com atividades profissio­nais variadas como gestão de empresas, alfaiataria, moda, música ou fotografia, os fundadores têm em comum o estilo e a nacionalidade portuguesa. Artur Santos (Porto), Amilton Estrela e Tiago Cortez (Al­bufeira), Ricardo Viegas e Farid Sadrudin (Luanda, Angola), Telmo Galeano, Vitor Varela, Paulo Batis­ta, Rui Martins, Cláudio Sousa, Bruno Tiago, Ricar­do Lima Viegas e Marco da Cunha (Lisboa) resolve­ram fundar o clube para ser um espaço de partilha de experiências e de inspiração. «Criámos um site para divulgar o que estamos a fazer como grupo, partilhar sugestões e dicas para se ter este estilo e para promo­ver o bom gosto», diz o jovem empresário. Homens ou mulheres. «O estilo dandy não é exclusivo dos ho­mens. Gostaríamos muito de ter mulheres a aderir.»

Os novos dandies e os grupos de homens que se jun­tam em torno de um ideal de estética apurada são um fenómeno global. A inspiração para esta aventura em particular veio de Florença, onde todos os anos decor­re a mais importante feira de marcas masculinas in­ternacionais, a Pitti Uomo. A feira italiana costuma ser palco de lançamento de tendências e ali nascem novas atitudes, como importantes grupos de empre­sários do setor da moda para homem que são já consi­derados referências do estilo masculino. É o caso de Lino Lelucci, italiano, proprietário de uma loja na Via A Scapa, em Milão. «O Lino é uma referência em Itá­lia, amigo de um dos nossos fundadores, o Farid, tam­bém uma presença assídua na Pitti Uomo há alguns anos. Começamos a chamar a atenção. É interessan­te perceber que os senhores do estilo e da moda, os ita­lianos, também estão atentos a países como o nosso e a como nos apresentamos. Estamos a ficar menos cin­zentos e mais seguros.»