Apesar das redes sociais, dos ciclos alargados de amigos, da quantidade de gente que hoje conhecemos que conhece ainda mais gente (e que pode incluir primos em Madagáscar, na Austrália ou em Freixo de Espada à Cinta), a verdade é que nem sempre é fácil encontrar pessoas que tenham os mesmos gostos e princípios que nós e que estejam disponíveis para um compromisso. Dos sérios. Isso pode nem ser um problema, claro, e a diversidade de interesses num casal até pode ser saudável. Mas se conseguirmos atalhar algumas etapas – ou uns quantos jantares e idas ao cinema – para perceber as verdadeiras intenções e motivações do outro e assim poupar tempo e desgostos, tanto melhor.
Vai daí, e preenchendo uma lacuna que devia haver para muita gente que se queria comprometer mas não arranjava pretendentes tão tementes a Deus como eles próprios, surgiu um site de encontros original: é exclusivo para católicos. Através da assinatura virtual de uma declaração (devem ter de pôr uma cruz num quadrado qualquer, ou clicar «aceito»), os utilizadores garantem que procuram um relacionamento sério. E que têm um fim em vista: o casamento. Pela igreja, claro.
À semelhança de dezenas de sites de matchmaking, o www.datescatolicos.org cruza perfis de utilizadores com base nos mesmos gostos e no que procuram um no outro. Mas com algumas particularidades. E é aqui que isto se torna estranho. Interesses em comum, ainda vá. Mas os papas de que mais gosta, os santos com que se identifica ou as orações que prefere parecem-me detalhes um tanto rebuscados. Não só porque são capazes de não estar no mesmo patamar de «gosto de sushi», «o meu escritor preferido é Saramago» ou «os The Cure são a minha banda de eleição» mas também porque, eventualmente, obrigam o algoritmo a não juntar duas almas fadadas ao sucesso, só porque uma prefere Pio XII e outra revê-se mais em Bento XVI. Ou uma é devota de Santa Teresinha do Menino Jesus e a outra é fã de Santo Inácio de Loyola. E mesmo que ambas elejam As Sandálias do Pescador como o melhor filme sobre papas alguma vez feito, isso não significa que vão achar piada um ao outro. Quanto muito, revela um conhecimento sobre história da igreja acima da média – que eu, por exemplo, não possuo, não obstante os anos de acólito, de grupos de jovens e as várias catequistas que tive.
Mas, se há procura, é porque há necessidade, diz o marketing. E Marta e António de Brito, os promotores da iniciativa, devem contar com isso, a julgar pelo valor que estipularam para inscrição: 24 euros por uma conta trimestral, 60 durante um ano. Além de ser uma fonte de rendimento, é também uma forma, esperam, de filtrar (não confundir com flirtar) os verdadeiramente interessados dos restantes. Os que poderão não levar isto mesmo a sério. Pecadores, eventualmente. Daqueles que consideram o sexo antes do casamento – fornicação, portanto – uma coisa normal. O site já existe na Alemanha, Áustria, Croácia, Letónia ou Eslovénia, entre outros países europeus, e embora não se conheça a taxa de sucesso dos encontros que proporcionou, os responsáveis acreditam que o facto de os utilizadores partilharem uma coisa tão forte como a fé é, à partida, uma potencial garantia para casamentos felizes. Ou, pelo menos, que vão batizar os filhos.
O www.datescatolicos.org está online. A “comunidade para quem procura a sua cara metade e quer partilhar fé e valores” já está disponível para quem estiver mortinho por frequentar cursos de preparação para o matrimónio. E garante: o “teste de combinação de inspiração cristã mostra quem seria particularmente adequado para si; se alguém que acha interessante, sentir o mesmo por si, nós podemos informar-vos de forma discreta”. Ainda por cima não são espalha brasas e garantem low profile. O que se pode querer mais? Realmente, “Deus pode trabalhar em qualquer lugar – e também faz uso da Internet”. Se vai resultar ou não, isso vai realmente depender do Criador, não do algoritmo. Portanto, ide e teclai, irmãos.